Recep Tayyip Erdogan ganhou este domingo “uma das eleições mais importantes”. Não só para ele, mas também para a Turquia e, muito provavelmente, para o mundo. O presidente turco foi reeleito para um terceiro mandato, garantindo que vai governar a Turquia durante pelo menos 26 anos – entre 2003 e 2014 como primeiro-ministro, e os restantes como presidente.
Perante as suspeitas de irregularidades e a frustração da oposição com uma Turquia que vira cada vez mais para dentro e para a religião, Erdogan é figura central. Exemplo disso é o local escolhido para festejar, quando a Comissão Eleitoral oficializou os resultados: em vez da tradicional sede do partido, o presidente reeleito discursou para 320 mil pessoas a partir do seu mega palácio na capital, Ancara. Foi a primeira vez que um candidato eleito decidiu fazer o discurso fora da sua sede partidária, optando por um local que é propriedade do Estado.
“Amamos muito a Turquia. Como podemos não amar esta nação? Amamo-la”, afirmou, perante uma plateia em apoteose. “Não desapontaram a Aliança Popular”, acrescentou.
Eleições em que Erdogan sai vencedor, depois de uma primeira volta altamente disputada, mas que o presidente reeleito vê com outro sinal: “O vencedor é a democracia, a nossa democracia”. Os “únicos perdedores”, disse, são aqueles que criaram “cenários sujos”.
Para Erdogan ninguém perdeu, mas 85 milhões de turcos ganharam, no ano em que a Turquia entra no seu segundo século de vida, depois de fundada por Mustafa Kemal Atatürk. O "pai dos turcos" que até era do partido de Kemal Kiliçdaroglu, o opositor de Erdogan, mas cuja imagem Erdogan nunca desistiu de utilizar. Em todo o país, antes e durante a campanha eleitoral, foi comum ver imagens dos dois lado a lado.
O presidente aponta agora à "unidade e à solidariedade" do povo, agradecendo a todos os que lhe deram a "responsabilidade de governar o país por mais cinco anos". "Devemos juntar-nos na unidade e solidariedade. Pedimos isto com todo o coração", reiterou, depois de umas eleições que ameaçam dividir o país ao meio, com Erdogan a ficar com 52% dos votos e o seu opositor, Kiliçdaroglu, a obter os restantes.
Inflação, o problema central
Se Europa e Estados Unidos enfrentam um grave problema de inflação, o que dizer da Turquia. Naquele país os preços chegaram a subir mais de 86% e, mesmo que essa taxa já tenha descido para metade, o problema é o principal foco do presidente.
"Segurança e estabilidade, estes dois termos são muito importantes", afirmou Erdogan, destacando que "as taxas de juro" desceram nos últimos meses.
É este o problema mais urgente que Erdogan quer atacar. Mesmo num país que atravessa uma grave crise migratória, servindo de plataforma giratória para os milhões de pessoas que tentam chegar à Europa vindos de países como Síria ou Afeganistão.
Esse foi, de resto, um dos grandes temas das eleições. O terceiro candidato mais votado tinha prometido dar uma volta na política de imigração, sendo essa uma bandeira utilizada pelo opositor de Erdogan. Agora, o próprio presidente prometeu deportar um milhão de refugiados chegados da Síria, país que faz fronteira com a Turquia a sul.
"Fizemos um acordo com o Catar para um novo projeto na Síria", anunciou o presidente, revelando que vão ser construídas casas para aqueles refugiados poderem regressar ao seu país.
Com a Síria a Turquia também partilha a tragédia ocorrida a 6 de fevereiro, quando um terramoto matou mais de 50 mil pessoas. Erdogan prometeu reconstruir as cidades afetadas, como Hatay, que ficou reduzida a escombros.