O partido de extrema-direita espanhol VOX está desde hoje em 140 governos municipais de Espanha e os socialistas ficaram com a autarquia de Barcelona, apesar de terem sido independentistas catalães a vencer as eleições de maio na cidade.
Espanha teve eleições locais em 28 de maio e foram este sábado constituídos todos os plenários de vereadores eleitos nos mais de 8.100 municípios do país, que de seguida elegeram os presidentes de câmara.
O Partido Popular (PP, direita) venceu globalmente as eleições de 28 de maio e passou a dominar o mapa autárquico espanhol, em substituição dos socialistas (PSOE), que perderam para a direita bastiões da esquerda como Sevilha ou Valência.
O PP conseguiu ser o mais votado em 28 das 52 capitais de província espanholas, além de ter também ganhado nas cidades autónomas de Ceuta e Melilla, triplicando o número de municípios em tinha tido vitórias em 2019, data das eleições anteriores.
Na região da Andaluzia, por exemplo, que durante décadas foi um feudo da esquerda, todas as capitais de província têm desde hoje governos municipais do PP.
O maior partido da direita espanhola, atualmente na oposição, venceu em 28 capitais de província, mas vai governar em 32, graças a acordos com o VOX, incluindo cidades como Toledo, Burgos, Valladolid e Guadalajara, onde o PSOE foi o mais votado nas eleições, mas sem maioria absoluta.
Num comunicado, o VOX revelou que este sábado entrou em 140 governos municipais e que elegeu representantes em 43 capitais de província.
O partido de extrema-direita foi o partido mais votado em 30 municípios e em 26 teve maioria absoluta, embora todas as localidades onde ganhou sejam de pequena dimensão (menos de 8.000 habitantes).
No global, o VOX teve 1,6 milhões de votos e elegeu 1.665 vereadores. Nas autárquicas anteriores, de 2019, tinham sido 812.800 votos e 530 eleitos.
No comunicado que divulgou, o VOX diz que nas autarquias em que fará parte dos governos locais "desaparecerão as vereações ideológicas, como as de igualdade" e que assumirá pastas como as da segurança, "trabalhando para erradicar a violência, os ocupas, as agressões sexuais e todo o tipo de crimes das ruas".
O VOX tem propostas alinhadas com as que habitualmente defende a extrema-direita europeia e que são consideradas discriminatórias de grupos sociais, xenófobas e securitárias.
Nos últimos dias têm sido polémicas declarações de dirigentes do partido na região de Valência, onde há um acordo do VOX com o PP para governar a comunidade autónoma, que afirmaram, entre outras coisas, que "a violência de género não existe", levando os líderes nacionais dos populares a demarcarem-se, dizendo que este crime existe e que tem de ser combatido.
Entre as capitais e grandes cidades que o PP vai governar, está a capital do país, Madrid, que continuará a ser liderada por José Luis Martinez-Almeida, que obteve uma maioria absoluta em 28 de maio.
Já a segunda cidade de Espanha, Barcelona, capital da Catalunha, terá como presidente da câmara o socialista Jaume Collboni, o segundo mais votado nas eleições, mas que hoje conseguiu o apoio do partido de esquerda BComún e, de forma inesperada, do PP, que explicou o voto com a decisão de impedir que o município ficasse nas mãos de separatistas.
As eleições em Barcelona foram ganhas, sem maioria absoluta, por Xavier Trías, do Juntos pela Catalunha (JxCat), o partido do ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont, protagonista da tentativa de independência da região em 2017 e que vive exilado na Bélgica, para escapar à justiça espanhola.
Barcelona acaba assim por ser das poucas vitórias relevantes nestas eleições dos socialistas, que lideravam 22 capitais de província e que desde hoje ficam à frente de dez.
Além de Barcelona, os socialistas ficaram hoje também com a capital do País Basco, a cidade de Vitória, graças de novo ao PP, que decidiu impedir, mais uma vez, que fossem os independentistas bascos que ganharam as eleições a liderar a autarquia.
A derrota do PSOE e da esquerda em geral nas eleições de 28 de maio levou o primeiro-ministro e líder dos socialistas, Pedro Sànchez, a convocar legislativas nacionais antecipadas para 23 de julho.
A generalidade das sondagens dá a vitória ao PP nas eleições de 23 de julho, mas sem maioria absoluta, que poderia ser alcançada com um acordo com o VOX.
O PSOE colocou a ameaça da entrada da extrema-direita no governo de Espanha no centro da pré-campanha eleitoral do partido.
O PP teve 31,53% dos votos nas municipais de maio, o PSOE teve 28,12% e o VOX alcançou 7,19%, o dobro do que tinha tido em 2019.