«(O dinheiro) apareceu para salvar o quê? Vidas? Não. Para salvar bancos» - TVI

«(O dinheiro) apareceu para salvar o quê? Vidas? Não. Para salvar bancos»

Exposição sobre a vida de Saramago

José Saramago critica garantias dadas pelo Governo aos bancos no decorrer da actual crise económica

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O prémio Nobel da Literatura, José Saramago, criticou esta segunda-feira, durante a exibição do filme «Ensaio sobre a cegueira» baseado na sua obra homónima, o actual estado da economia mundial, atribuindo culpas aos principais suspeitos, na sua opinião: «os grandes financeiros, os directores das grandes empresas e os grandes bancos».

Saramago referiu a sua posição face às garantias dadas pelo Governo à banca: «Onde estava esse dinheiro? Que dinheiro é esse? Não estou dizendo que tem origem criminosa, mas estava muito bem guardado. E, tendo todas as dificuldades do mundo para aparecer quando era necessário para ajudar as pessoas em situações de tragédia, apareceu de repente para salvar o quê? Vidas? Não. Para salvar bancos».

Na opinião de José Saramago, «os caprichos ou os crimes ou os delitos dos responsáveis por esta crise, que são os grandes financeiros, que são os directores das grande empresas e dos grandes bancos, vai-se-lhes acudir com o dinheiro de todos».

«Esse dinheiro, que parece que deveria ter outros destinos, agora destina-se a salvar os bancos e o grande argumento é este: sem bancos isto não funciona. Marx nunca teve tanta razão como hoje», retorquiu.

José Saramago teve ainda tempo para afirmar a sua pouca convicção no desenlace da actual crise económica. «As consequências piores ainda não chegaram. Essa ideia de que se pensava pôr o mercado no altar e rezar todos os dias, finalmente nem era auto-regulador nem auto-disciplinador, era simplesmente um instrumento de saque das riquezas», afirmou.

O Nobel português da Literatura fez ainda uma alusão à metáfora ideológica da sua obra «Ensaio sobre a Cegueira» para descrever o estado da população mundial face à crise: «Estamos sempre mais ou menos cegos para o que é fundamental» e «não queremos que nos macem».
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