Portugal incapaz de formar médicos suficientes nos próximos 10 anos - TVI

Portugal incapaz de formar médicos suficientes nos próximos 10 anos

Portugal incapaz de formar médicos suficientes nos próximos 10 anos

Portugal encontra-se de má saúde e não se recomenda nos próximos 9 a 10 anos. Este é o tempo que o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, estima ser necessário para que as universidades nacionais consigam responder às necessidades do País em termos de médicos.

Em declarações à Agência Financeira, o bastonário Pedro Nunes compara as medidas do Governo para o sector da Saúde com as medidas de emergência usadas no combate aos fogos. «Não é quando ardem florestas no Verão que nos lembramos o que deveríamos ter feito no Inverno». As declarações surgem em resposta à decisão do Governo de recrutar «centenas de médicos» estrangeiros, nomeadamente em Espanha e países de Leste, dada a falta de cerca de 500 médicos de clínica geral em Portugal. Para o bastonário, em vez «de se andarem a apagar fogos», devia ter-se feito um trabalho de prevenção que, no caso da Saúde, passava por aumentar as vagas nas faculdades de Medicina e formar mais médicos.

«Vamos ter de aguardar agora que as faculdades de medicina, que já estão a receber o número de estudantes suficientes para o país, recuperem os 9 ou 10 anos que vão ser necessários para que esse número resolva o problema».

«Os próximos 9 ou 10 anos vão ser complicados, pois vamos ter de exigir aos actuais médicos portugueses que trabalhem mais e temos que, provavelmente, inventar formas de prestação profissional que sejam mais estimulantes, nomeadamente através do estabelecimento de convenções», adiantou o responsável.

O sector da saúde em Portugal denuncia uma forte falta de médicos no país, já que, para cada 100 mil pessoas, Portugal tem 324 médicos, um valor muito baixo quando comparado, por exemplo, com os 606 médicos que Itália tem, segundo um relatório das Nações Unidas. O Governo respondeu, apostando na formação de clínicos estrangeiros com o intuito de colmatar a falta de médicos de família nos centros de saúde.

Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, «em Portugal há muitos emigrantes de origem ucraniana e russa, que são médicos de formação, mas que estão em empregos em restaurantes a lavandarias».

São pessoas com o título formal de médico, mas cuja formação médica não corresponde à portuguesa e, por isso, necessitam completar a formação exigida em Portugal com provas nas universidades nacionais. Nos últimos dois anos já se formaram cerca de 100 médicos estrangeiros que já estão integrados no Serviço Nacional de Saúde (SNS).



Os médicos da União Europeia entram directamente em Portugal, pelo acordo de integração, e os seus títulos são válidos em Portugal.

«A Ordem dos Médicos não se vincula a princípios racistas. Por isso, desde que sejam médicos e tenham capacidade, são todos bem vindos», esclareceu Pedro Nunes.

O bastonário disse que a ordem tem tido uma colaboração correcta. Neste sentido, não tem críticas a fazer ao Executivo, reafirmando que este «está preocupado também com a falta de médicos, que tentou resolver o problema, mas se o consegue ou não, depende do circunstancialismo externo». Pedro Nunes admitiu que «não é fácil descobrir médicos disponíveis para trabalhar em Portugal, e que saibam falar português, devido aos ordenados miseráveis que se pagam no País».

«Os ordenados são miseráveis a nível europeu, mas são considerados muito bons na China e na Índia, por exemplo. Mas, esses países não têm a nossa prática clínica e não falam português, por isso o Governo está perante uma situação, particularmente, difícil», concluiu.

Relativamente à venda de medicamentos fora das farmácias, a Ordem não revela grandes preocupações, a não ser pelo facto de «ser possível um técnico encarregar-se de 5 pontos de venda de medicamentos a 50 km de distância, quando na realidade não existe o dom da ubiquidade nem dos farmacêuticos, nem dos médicos», concluiu.
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