«Serial Killer» era quase «graxista» - TVI

«Serial Killer» era quase «graxista»

Julgamento do alegado serial killer (Foto Lusa/ Paulo Novais)

Militares da GNR de Santa Comba descrevem personalidade do arguido. «O Costa idolatrava os superiores hierárquicos» e «era servil». Superior conta quando e como começou a desconfiar do colega. «Perguntou se suspeitavam dele», recorda

«O Costa idolatrava os superiores hierárquicos». «Tinha preocupação extrema no relacionamento» com quem estava acima dele. «Não era graxista, mas andava por aí perto». Era «serviçal».

A descrição pouco abonatória da personalidade do ex-cabo António Costa, foi feita esta manhã, durante o julgamento, pelo militar da GNR de Santa Comba Dão, Horácio Mateus.

Este antigo superior hierárquico do cabo na reserva recordou em detalhe uma conversa mantida com o arguido a 6 de Junho de 2006, ou seja, cinco dias após ter sido descoberto o corpo da segunda vítima, Mariana.

«Dia 6 de Junho, o Costa dirigiu-se a mim. Estava muito preocupado com corpo que tinha aparecido na barragem do Coiço, no dia 1 de Junho. Disse que um amigo dos bombeiros lhe referira que era o corpo da Mariana». O ex-cabo estava «muito nervoso, extremamente nervoso», recorda o militar.

Instado pelo juiz, Horácio Mateus acrescentou que nessa data «ninguém em Santa Comba Dão sabia» que tinha sido encontrado um corpo. «Nem eu, nem ninguém sabia disso em Santa Comba Dão», referiu, acrescentando que após os telefonemas efectuados nesse dia, ficou a saber que efectivamente tinha sido resgatado um cadáver da água.

«Pela sua saúde, veja-me se é a Mariana»

«Pela sua saúde, veja-me se é a Mariana», ter-lhe-á pedido Costa. «Conversei com ele, disse-lhe que tinha aparecido efectivamente um corpo, mas que não se sabia de quem era».

Mas o ex-cabo mostrava-se preocupado com as investigações da PJ e «fazia muitas perguntas, nomeadamente, se os inspectores já tinham suspeitos». «Perguntava se suspeitavam de alguém». «Chegou a perguntar se suspeitavam dele».

[António Costa ouve o depoimento inquieto, ora tomando notas em folhas A4, ora abanando a cabeça em sinal de discordância].

Horácio Mateus adiantou que, face ao nervosismo do arguido, tentou acalmá-lo. «Veja se o corpo tinha ou não tinha um casaco azul», insistia António Costa.

«Surpreendentemente, o Costa mostrava-se preocupado em justificar-se». Referiu no mesmo dia, 6 de Junho de 2006, «que se arranhara nas silvas e que temia que a PJ recolhesse vestígios de ADN dele» na mata.

Antes disso, já referira a mesma preocupação a um outro colega a quem disse que se queimara numa fogueira e que caíra de mota.

Arguido forneceu «várias pistas»

«Ele foi para casa e fiquei a pensar naquilo», recorda o militar, que «perante as auto-justificações já começava a suspeitar do Costa» Essas «suspeitas» foram comunicadas ao subdirector da PJ de Coimbra. «Liguei ao dr. Almeida Rodrigues e contei-lhe tudo». Na sequência dessa conversa, encontrou-se com dois inspectores da PJ.

Durante os dois meses em que a GNR investigou o desaparecimento de Mariana, em Outubro de 2005, o militar referiu que António Costa forneceu «matrículas e várias pistas», nada levando na altura a suspeitar dele. «Era uma pessoa conceituada na Guarda e fora dela», referiu o colega.

À pergunta do juiz Miguel Veiga, [como é que o arguido se relacionava com os inferiores hierárquicos?] Horácio Mateus respondeu que não sabia, nem estava preocupado com isso.

O mesmo responsável acrescentou que, durante as investigações a cargo da GNR, ficou a saber que Mariana confessara a um amigo, na noite de 7 para 8 de Junho, que saíra recentemente com um homem com quem mantivera relações sexuais. O tio de Mariana, Rogério Isidoro, admitiu-lhe ter saído com a jovem na noite de 6 para 7 de Junho, mas negou qualquer contacto sexual.

O militar referiu ainda ter descartado as suspeitas sobre Rogério já que conseguiu saber que este passou a noite de 13 para 14 de Outubro em Castro Daire com a família, tendo regressado a Santa Comba na tarde de 14. A jovem desapareceu nessa manhã. O ex-cabo trabalhou 26 anos no posto de Santa Comba e «ninguém notou nada anormal», referiram os colegas ouvidos.
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