«Decrépito, simpático e marciano» - TVI

«Decrépito, simpático e marciano»

  • Portugal Diário
  • 8 set 2006, 15:16

Cronista do El País classifica último filme de Manoel de Oliveira como «uma obrazinha menor»

«Belle toujours», do realizador Manoel de Oliveira, é a película «mais trash, decrépita, simpática, descarada e marciana» exibida na edição deste ano da Mostra de Veneza, escreve esta sexta-feira o enviado do El Pais ao certame.

«Há que ter 98 anos e ser Manoel de Oliveira para realizar com dois duros e quatro amigos algo parecido com um epílogo de "Belle de Jour", a conhecida obra de Luis Buñuel, e sair bem do intento», observa Enric González.

Na crónica sobre o novo filme do veterano realizador português enviada de Veneza, González lembra que Oliveira começou a filmar em 1931 e criou ao longo destes anos «um estilo próprio», cujo mérito «consiste na mistura de pincel fino e trincha gorda, na atenção aos pormenores importantes e no desinteresse pelo secundário, no humor quase libertino com que simula levar a sério as suas personagens».

Concretamente sobre «Belle Toujours», o crítico classifica-o como «uma obrazinha menor», um «entremez de pouco mais de uma hora» sobre o encontro de duas das personagens do filme de Buñuel- que Oliveira homenageia - 38 anos depois.

Ele (Michel Piccoli) - descreve González - é «um velho alcoólico» e ela (Bulle Ogier, porque Catherine Deneuve «se recusou a participar») é «uma senhora viúva, arrependida dos seus antigos entretenimentos masoquistas e desejosa de entrar num convento». Há ainda uma «personagem sentenciosa» (um criado) que explica a trama.

«Com velhos actores (...), móveis antigos, escassas luzes e câmaras estáticas - prossegue González - , a um director normal sairia, no melhor dos casos, um filme deprimente. Oliveira, pelo contrário, nem sequer se permite um momento de nostalgia crepuscular».

Oliveira, escreve a concluir, «lança mão a uns quantos fetiches buñuelianos (a caixa dentro da qual zumbe uma misteriosa mosca, o galo no hotel de luxo) (...) e acaba a rir-se sadicamente, com o riso de Piccoli, de tudo e de todos».

«Belle Toujours» foi apresentado em Veneza fora de competição.
Continue a ler esta notícia