Num ano marcado por resultados históricos, as remunerações dos gestores das principais instituições financeiras em Portugal atingiram os 27,7 milhões de euros. Trata-se de um aumento de quase 20% em relação ao ano anterior, e que se deveu sobretudo à subida dos prémios atribuídos aos conselhos de administração dos bancos, que quase duplicaram, depois da proibição durante a pandemia.
Os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander, BPI e Novobanco receberam 19,3 milhões em salários fixos, o que corresponde a uma subida de 1,7% em comparação com 2021, de acordo com os dados compilados pelo ECO com base nos relatórios e contas dos bancos.
Enquanto isso, os bónus (atribuídos) dispararam 93% para cerca de 8,4 milhões de euros, correspondendo a cerca de 30% do total das remunerações que os gestores da banca tiveram direito no ano passado.
O aumento dos bónus surge depois de quase dois anos em que a remuneração variável esteve suspensa pelos reguladores, que recomendaram prudência aos bancos devido à crise da pandemia de covid-19. A proibição do Banco Central Europeu (BCE) – que se estendeu aos dividendos – só foi levantada em outubro de 2021.
Entre os cinco principais bancos em Portugal, o BCP foi quem teve mais encargos com as remunerações do conselho de administração no ano passado: totalizaram os 7,5 milhões de euros entre componente fixa e variável, um aumento de 30% devido ao incremento dos prémios atribuídos em numerário e ações – num ano em que a remuneração média anual dos trabalhadores teve um aumento de 5,7%, de acordo com o banco liderado por Miguel Maya.
Seguem-se os “espanhóis” Santander Totta e BPI, onde as remunerações fixas e variáveis dos administradores atingiram 5,7 milhões (+10,2%) e 5,6 milhões (+22%), respetivamente, também à boleia dos prémios. A título de comparação, no Totta, por exemplo, o aumento da massa salarial foi de 3%.
No Novobanco, o aumento das remunerações da comissão executiva e conselho geral e supervisão foi de 1% para 4,8 milhões – 2,8 milhões em remuneração fixa e 1,9 milhões em remuneração variável que continuou congelada devido ao processo de reestruturação.
Já os administradores da Caixa tiveram remunerações de 4,2 milhões de euros, mais 36,8% – a componente fixa aumentou 12,5% e a componente variável também pois o banco não revelou valores de 2021. A massa salarial do conjunto dos trabalhadores do banco público aumentou 2,42% no ano passado, com a remuneração média a situar-se nos 2.501 euros.
De fora desta análise ficaram os montantes atribuídos em forma de complemento de reforma e ainda outras remunerações como subsídio de expatriação (no Novobanco, Mark Bourke recebeu 102 mil euros), prémios de assinatura ou indemnizações (António Ramalho e outro gestor do Novobanco tiveram uma compensação de 460 mil euros pela rescisão antecipada do contrato).
Qual o CEO mais bem pago?
Do total das remunerações fixas e variáveis atribuídas às administrações no ano passado, cerca de 15% serviram para remunerar os presidentes executivos dos bancos, num total de 4,18 milhões de euros – um aumento de 20% em relação a 2021.
Os CEO do BCP e do Santander foram os mais bem pagos. Miguel Maya teve uma remuneração de 1,2 milhões de euros, dividida entre a componente fixa de 650 mil euros e a variável de 556 mil euros. Já Pedro Castro e Almeida auferiu um salário anual fixo de 850 mil euros, não sendo discriminado o prémio atribuído em 2022 – no ano anterior atingiu os 540 mil euros.
João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI, atingiu quase o milhão de euros de remunerações: 725 mil euros de salário fixo e um bónus de 240 mil.
Quanto a Paulo Macedo, o quarto mais bem pago, obteve remunerações de 666 mil euros na Caixa, com o salário fixo a manter-se nos 423 mil euros, enquanto o prémio atribuído (e a pagar nos próximos anos) atingiu os 243,4 mil euros.
Dos banqueiros dos cinco principais bancos, o irlandês Mark Bourke teve a remuneração mais baixa, quase meio milhão de euros. A componente fixa foi de 387 mil euros e a variável de 107,8 mil. Bourke apenas assumiu a liderança do Novobanco em agosto, substituindo António Ramalho, pelo que a remuneração do irlandês no ano passado diz respeito a sete meses enquanto administrador financeiro e cinco meses enquanto CEO.
Os cinco bancos tiveram lucros de 2,5 mil milhões de euros em 2022, um aumento de 70% face a 2021.