Pelo menos duas pessoas morreram numa explosão em Przewodow, uma vila no leste da Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia. O alerta foi dado pelos serviços de emergência locais, ao final da tarde desta terça-feira.
"Recebemos um relato de uma explosão. De facto, à chegada, confirmámos que algo assim tinha acontecido. Duas pessoas morreram no local", afirmou o porta-voz dos bombeiros de Hrubieszów, Marcin Lebiedowicz, citado pelo site polaco Onet.
Momentos depois, um alto funcionário dos serviços de informação dos Estados Unidos afirmou à Associated Press que a explosão foi provocada por mísseis russos que atravessaram a fronteira ucraniana para a Polónia. Também a rádio polaca ZET especifica que dois mísseis atingiram Przewodow, acabando por matar duas pessoas, mas não adiantou mais detalhes.
O incidente ocorre numa altura em que a Rússia bombardeava várias cidades ucranianas, naquele que é o maior ataque com mísseis em quase nove meses de guerra. Alguns atingiram Lviv, que fica a menos de 80 quilómetros da fronteira com a Polónia.
O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, convocou, de imediato, uma reunião de emergência do comité de segurança nacional e assuntos de defesa, adiantou o porta-voz do governo, Piotr Muller, no Twitter. Mais tarde, afirmou aos jornalistas que o comité foi convocado na sequência de uma "situação de crise", acrescentando que será fornecida informação relevante ao público mais tarde. O porta-voz alertou ainda os meios de comunicação para não publicarem "informação não confirmada".
O ministério da defesa da Rússia negou, entretanto, que os seus mísseis tenham cruzado a Polónia, chamando os relatórios de “provocação deliberada”, cita o The Guardian.
“As declarações dos media e autoridades polacas sobre a suposta queda de mísseis ‘russos’ na área de Przewodow são uma provocação deliberada para agravar a situação. Nenhum ataque a alvos perto da fronteira ucraniano-polaca foi feito por mísseis russos. Os destroços publicados pelos media polacos da cena na vila de Przewodow não têm nada a ver com armas russas.”
Os especialistas não excluem a possibilidade de se ter tratado de um acidente, causado pelas defesas antiaéreas da Ucrânia na defesa dos mísseis russos ou um lançamento inadvertido (e não intencional) da própria Rússia.
O facto de poder ser apenas um míssil confirma a teoria anterior, de erro de cálculo ou acidente, mas sendo mais mísseis estas hipóteses ficam mais difíceis de provar, até porque é pela região onde caíram que entra a ajuda militar à Ucrânia.
A Polónia confirmaria mais tarde que foi atingida por um míssil de fabrico russo, não adiantando mais informações sobre a sua origem.
A ativação dos artigos 4.º e 5.º da NATO
Apesar de ainda não ter sido confirmada a origem dos mísseis ou a causa para a sua queda, as primeiras reações de líderes de países da NATO defendem a ativação do Artigo 4.º.
"A minha primeira reação seria que, após os russos terem atingido o território polaco, o artigo 4.º entrasse em vigor, tal como a defesa do espaço aéreo ucraniano", escreveu o ministro da Defesa da Letónia, Artis Pabriks. O governante defendeu ainda que deve ser implementada a defesa aérea do “espaço aéreo ucraniano".
O Artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte diz o seguinte: "As Partes consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das Partes."
As autoridades húngaras também anunciaram que convocarão o seu conselho de defesa. Já a Chéquia afirma que "se a Polónia confirmar que os mísseis atingiram o seu território, isto será uma escalada pela Rússia". O mesmo defende Volodymyr Zelensky, que classificou o ato como uma “escalada significativa” na guerra.
Quanto à possibilidade de ser ativado o Artigo 5.º da NATO, uma vez que a Polónia é um país da Aliança Atlântica, o coronel Mendes Dias explica que é preciso que o país considere o incidente como um ataque.
“Em condições normais, para ser ativado o artigo 5.º é preciso considerar que uma das partes considera um ataque armado ao país”, explica o especialista à CNN Portugal, embora defenda que não crê que seja o caso. Há também a possibilidade de se tratarem de destroços de mísseis russos abatidos pelas defesas ucranianas: