Na Ucrânia, há um "batalhão LGBT" que quer derrotar Putin. Quem são os militares da "Irmandade Aquiles" - TVI

Na Ucrânia, há um "batalhão LGBT" que quer derrotar Putin. Quem são os militares da "Irmandade Aquiles"

Homossexualidade

O exército ucraniano conta com mais de 200 militares assumidamente homossexuais, que enfrentam as forças russas no terreno

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Olexander Shádskykh é um médico militar do exército ucraniano. Viu-se forçado a assumir a homossexualidade perante os colegas no campo de batalha, quando um programa de televisão russo transmitiu um vídeo que o próprio gravara na frente de combate, envergando um uniforme, um colete à prova de balas e um capacete. Na gravação, o jovem de 23 anos dizia que era homossexual e que continuava a cumprir o seu dever. 

"O exército ucraniano está tão mal que têm de recorrer aos gays para combater", foi um dos comentários que fizeram naquele programa televisivo, cujo vídeo chegou às mãos dos seus colegas do exército ucraniano. A reação surpreendeu-o, contou em declarações ao El Mundo: "Fiquei surpreendido com o facto de ninguém ter reagido mal. É certo que muitos são universitários e profissionais liberais, mas ninguém fez qualquer piada homofóbica. Eu era o único médico da unidade e eles sabiam que eu podia salvar-lhes a vida no campo de batalha", disse o jovem estudante do último ano de Medicina, que se alistou como voluntário logo no primeiro dia da invasão russa - e que até já recebeu uma medalha das mãos de Volodymyr Zelensky por "salvar vidas" durante os seis meses em que esteve na frente de combate em Irpin e Kharkiv. 

A guerra tornou-o um especialista em ferimentos de bala e pneumotoráx, a presença de ar entre os pulmões e a parede do tórax. Olexander Shádskykh inspira-se no pai, que lutou contra as forças separatistas pró-russas no Donbass e morreu em 2016. E guarda até o uniforme que o pai então envergava: igual ao dele, mas repleto de medalhas. Foi um herói de guerra. "O meu pai matou os inimigos e eu salvei vidas. Basicamente, servimos os dois o nosso país", diz.

Questionado se o pai teria aceitado a sua homossexualidade, o jovem respondeu: "É possível que o meu pai não aceitasse, mas eu próprio batalhei durante nove anos comigo mesmo para me aceitar, e já decidi que sou assim, que sou homossexual e gosto de mim assim, independentemente do que possam dizer-me."

Mas Olexander Shádskykh não está sozinho nesta luta pelos direitos LGBT que se trava à margem da guerra. De acordo com o jornal El Mundo, o exército ucraniano conta com mais de 200 militares assumidamente homossexuais que enfrentam as forças russas no terreno e que fazem parte de um grupo conhecido como "batalhão LGBT". Estes militares envergam uma insígnia com um unicórnio, o símbolo da comunidade LGBT.

Este batalhão tem um canal no Telegram chamado "Irmandade Aquiles" (em alusão ao Deus da mitologia grega que, segundo os historiadores, seria homossexual), onde os militares desabafam e colocam as suas dúvidas. O canal foi criado por Viktor Pylypenko, um veterano da guerra no Donbass, e Nastya Konfederat, uma voluntária no terreno. Em 2018, envergaram pela primeira vez os seus uniformes num desfile do Orgulho Gay, em Kiev.

Quem conhece Pylypenko descreve-o como um homem forte e com um grande carisma. Mas a sua luta pela igualdade de direitos não se restringe ao exército, onde cada vez mais soldados estão a assumir a sua homossexualidade. O oficial do exército esforça-se também por reivindicar a igualdade na esfera política, promovendo o casamento e a adoção por casais do mesmo sexo, bem como a partilha de bens.

A Ucrânia ainda está a dar os primeiros passos na defesa dos direitos LGBT. Segundo o El Mundo, Volodymyr Zelensky está a trabalhar para legalizar o casamento homossexual e inclusive já se comprometeu através de acordos internacionais a combater a violência sexista. Entretanto, a Rússia prepara-se para aprovar uma lei que proíbe a chamada "propaganda homossexual".

"Estamos a caminhar para a União Europeia, não para o mundo russo. A perseguição que os homossexuais sofrem na Rússia motiva-me a continuar a lutar. Costumam perguntar-me porque não fui para outro país da Europa. Eu não quero ir embora, sou ucraniano e pertenço aqui. Não quero que os russos ocupem as nossas cidades. Não consigo imaginar o que me aconteceria se nos conquistassem por completo. Eles já sabem que estão a perder a guerra, mas não vou descansar até que eles vão embora", promete.

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