Serial killer: escutas ouvidas em tribunal - TVI

Serial killer: escutas ouvidas em tribunal

Julgamento do alegado serial killer (Foto Lusa/ Paulo Novais)

Ex-cabo diz que é «completamente inocente» e que chora por Madeleine

As escutas telefónicas em que o ex-cabo António Costa confessa a autoria da morte de três jovens de Santa Comba Dão serão ouvidas na próxima quarta-feira em julgamento. A intenção do Ministério Público é provar que o arguido confessou os crimes sem ter sido coagido ou pressionado.

O ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão disse esta segunda-feira durante o julgamento que manteve relações sexuais com a primeira vítima, Isabel Cristina, a pedido desta, mas negou que tivesse morto as três jovens. «Nunca faria uma coisa dessas», referiu. «Estou completamente inocente».

Segundo o arguido, o autor dos crimes é Rogério, tio da vítima Mariana, que não denunciou mais cedo porque, diz, «ele ameaçou-me com uma pistola na barriga. Disse que me matava a mim, à minha mulher e filho».

A relação sexual com Isabel Cristina teria ocorrido, segundo o arguido, «três semanas antes do seu desaparecimento», tendo sido essa a última vez que a viu.

Juiz obrigado a mandar calar o público

À medida que o arguido abria o livro a indignação perpassava os familiares e amigos das vítimas que assistiam. «Ai meu Deus!», ouvia-se amiúde. O juiz viu-se forçado a intervir. «Eu disse que as coisas não iam ser agradáveis de ouvir», referiu Jorge Loureiro, ordenando silêncio.

António Costa confrontado com as escutas telefónicas

Perante a insistência em responsabilizar Rogério, o juiz confrontou o arguido com as confissões prestadas à PJ e reiteradas perante um juiz de instrução. Ao que o arguido ripostou que foi «massacrado, agredido e coagido» pelos inspectores da PJ durante o interrogatório. Acrescentou ainda que confirmou tudo perante o juiz de instrução porque tinha sido «ameaçado de morte» pelo tio de Mariana.

O juiz insistiu, porque considerou existirem «contradições insanáveis», e leu-lhe excertos de escutas telefónicas em que o arguido confessa, primeiro à mulher, depois ao filho e mais tarde a um cunhado, a autoria de todos os crimes. As intercepções foram registadas na mesma noite em que António Costa foi ouvido em primeiro interrogatório.

O ex-cabo respondeu: «Não me recordo de estar ao telefone a dizer isso». Nas intercepções telefónicas, António Costa diz à mulher «que andava desorientado e stressado»; mais tarde refere ao filho que confessou tudo porque «a PJ tinha as provas todas». «Foi um trauma que me deu na cabeça», terá dito.

Questionado, ainda pelo filho, «Por que é que as mataste?», António Costa respondeu que matou Mariana e Joana porque «elas iam denunciar-me», isto é, pediu-lhes «um beijo» e elas iriam acusá-lo de coacção sexual.

Em relação à primeira vítima, o arguido terá referido ao filho que não teve intenção de a matar, mas atirou-a com força contra o painel da parte traseira do carro, após esta ter ameaçado denunciá-lo por violação. Referiu ainda durante a conversa com o filho que Isabel começou a espumar, tendo-se convencido de que a tinha matado.

«Cada vez que emprestava um saco, desaparecia uma menina?»

O ex-cabo insistiu que os crimes foram praticados pelo tio de Mariana e recordou ter-lhe emprestado o carro no dia em que Joana desapareceu. Acrescentou, por outro lado, que o tio de Mariana pedia-lhe com frequência sacos de serapilheira. Isto para justificar o facto de os corpos terem sido encontrados em sacos que pertenciam ao militar.

Perante as justificações, o juiz mostrou-se intrigado: «Então o senhor, um militar experiente, não estranhou que de cada vez que emprestava um saco, desaparecia uma menina?». O arguido respondeu que «não».

Indignado com as declarações da psicóloga que esta manhã o descreveu como «insensível», o arguido ripostou «ofendido», esclarecendo: «Tenho sentimentos e choro bastante, até pela Madeleine. Peço a Nossa Senhora de Fátima (sou muito católico) para que a menina apareça».

A defesa requereu a repetição dos exames à personalidade. O tribunal decide «oportunamente».
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