Como bem sabemos, o sonho de qualquer casal é poder viver no seu ninho de amor. E esse sonho até é possível nos arredores de Lisboa, mais concretamente na Amadora, por 600 ou 700 euros mensais. Plano perfeito, certo? Até lhe dizermos que estamos a falar de quartos.
Ao pesquisar na plataforma Idealista, que reúne anúncios de diferentes origens, fica clara a tendência. Se quer viver o amor à séria, não há nada como vivê-lo apertado num quarto. Mas, se achava que bastava fazer essa cedência, engana-se.
É que exigências há muitas. E não são poucas, bastantes. “Procuramos um casal trabalhador, calmo, higiénico, organizado, sem animais e não fumadores”, lê-se num dos anúncios da Amadora, que custa 700 euros ao mês. Nem tudo é mau: neste caso, espante-se, há contrato e registo nas Finanças.
Já neste anúncio, explica-se que o quarto ocupado por uma pessoa fica a 500 euros. Se for mais uma, são mais 100. Também dá para pôr duas camas de solteiro, se no momento da partilha não existir assim tanta intimidade.
Quem casa quer casa. Ou, neste contexto, também parece querer outros casais. Neste outro anúncio na Amadora, onde o quarto custa 600 euros mensais para dois, a casa tem quatro quartos. Ao todo, oito pessoas debaixo do mesmo teto. É o que qualquer pessoa sonha quando inicia a vida em conjunto.
Camaratas? “Ideal para economizar”
Na Amadora, tal como em Lisboa, se tiver menos de 250 euros, não vai encontrar nada melhor do que uma cama de beliche, numa camarata partilhada com outras pessoas. Há quem diga que é a solução “ideal para economizar” ou “económica para quem necessita de sítio para ficar”.
Neste concelho vizinho de Lisboa, a partir dos 250 euros, começam a existir alguns quartos individuais – mesmo individuais, com privacidade, em que pode fechar a porta e ficar sozinho. Alguns explicam que é só mesmo para estudantes ou trabalhadores. A maioria das ofertas situa-se entre os 300 e os 400 euros. Não conte com casas renovadas ou mobílias da moda. Aqui prefere-se destacar outras vantagens, como a proximidade dos transportes que levam até Lisboa.
Mas, se a maioria das casas prevê um número aceitável de pessoas, até às seis, há também exceções. Como esta em que, apesar de tudo renovado, vai ser preciso dividir as zonas comuns com outras nove pessoas. Um convívio destes custa 550 euros mensais. Já neste quarto, por mais 20 euros, e apesar de ter de viver com a senhoria, tem direito a “duas mudas de roupa e toalhas”.
No concelho da Amadora estavam disponíveis 140 quartos no momento da pesquisa. Um número pequeno tendo em conta a procura. Mais do que um em cada três destes anúncios tinha um preço acima dos 500 euros.
Odivelas: camaratas e consultórios abandonados
Já em Odivelas aparecem apenas 85 quartos. Destes, 24 custavam mais de 500 euros. Tal como na Amadora, abaixo dos 250 euros só camaratas. Esta, que até custa um bocadinho mais, 275 euros, tem direito a frigorífico no quarto.
Mas talvez não haja um anúncio tão marcante como este: um espaço dedicado a dez estudantes, com sete quartos. Se forem sozinhos pagam 500 euros, se dividirem quarto fica a 650 para os dois. Fica na freguesia de Pontinha e Famões. E as zonas comuns são dignas de filme de terror, fazendo lembrar um consultório médico abandonado há décadas. Há marquesas, cadeiras de sala de espera, armários de arquivos. Fotos dos quartos? Isso é que não há.
Em Odivelas surgem também anúncios de quartos em casas de famílias ou em espaços remodelados especificamente para arrendar a terceiros. Há quem peça praticamente 800 euros, como aqui e aqui, num concelho que fica a cerca de meia hora de carro (num dia bom, sem trânsito) do centro de Lisboa.
Ah, quase nos esquecíamos deste anúncio: o quarto custa 500 euros por mês e a casa é partilhada apenas com outra pessoa. Cada um tem o seu espaço. Mas quem vier tem de trazer a mobília. É que o quarto está vazio.
Loures: mil euros para ver o que deixou o Papa
Em Loures, o cenário de escassez mantém-se. Apenas 93 quartos disponíveis. Destes, 74 abaixo dos 500 euros.
Abaixo dos 300 euros, há quartos partilhados, como este, a 225 euros por pessoa, onde o espaço entre as camas é sempre um convite para uma conchinha. Na lógica da partilha de cama, também há este a 650 euros.
Na hora de percorrer os anúncios em Loures, percebemos que os arrendatários são muito comichosos. Uns só querem “moças solteiras”, outros “só professores”.
E outros quem lhes pague mil euros por um quarto, ali para os lados de Moscavide. Parte boa: fica perto do parque onde aconteceu a Jornada Mundial da Juventude. Tendo em conta a lista de milagres, talvez o da multiplicação do salário dê jeito para pagar esta renda. Por menos 300 euros tem este, com WC privado, em condomínio privado com piscina.
Almada: preços altos, numa oferta cada vez mais de luxo
Damos um saltinho à margem sul do Tejo, até Almada. Onde se prova que a privacidade é um pormenor quando se tem acesso a piscina ou à praia. Nesta casa, há cinco camas na mesma camarata. Cada uma custa 260 euros por mês. O resto, sim, é amplo e espaçoso. Até o jardim.
Nesta zona pisca-se muito o olho aos estudantes da Egas Moniz ou da FCT. Porque se sabe que, talvez nesta idade, haja menos pudor em partilhar ou em fazer amigos que possam dividir a despesa.
Aqui, a cama individual num quarto partilhado custa 360 euros. É uma residência de estudantes situada no Laranjeiro, totalmente remodelada. As áreas comuns mostram-se imaculadas, com os melhores materiais. São três pisos. Cada um tem cozinha e casa de banho. Ao todo, podem viver 18 pessoas.
Dos 183 anúncios que surgiram em Almada, 52 estavam acima dos 500 euros.
E há coisas que nos fazem cair o queixo: este quarto de 600 euros destina-se a um casal, mas vai ser preciso muita ginástica para que um dos elementos saia da cama sem incomodar o outro. Isto porque a cama está encostada à parede.
E este, na Costa da Caparica, também não esconde um dos públicos-alvo predileto dos senhorios: os “nómadas digitais”. São 700 euros por mês por cada quarto. Se estiverem disponíveis a pagar mais 60 a 160 euros, há também esta moradia completamente remodelada, cheia de bom gosto, com jardim e piscina, para arrendar.
Oeiras: nada abaixo dos 300 euros
Em Oeiras, a presença dos estudantes da Nova SBE também se faz notar na disponibilidade e nos preços. No dia da pesquisa, existiam 99 quartos disponíveis. E não são só as propinas que são caras.
Há quartos a 800 euros. Ok, são em casas amplas, renovadas, com vistas desafogadas. Nesta, há mesmo uma pequena piscina. Este, por menos 100 euros, fica a 100 metros da praia.
A maioria da oferta está centrada nos 500 euros para quartos individuais. Abaixo dos 300 euros não há nada.