Arábia Saudita dá boas vindas a presidente que abandonou Tunísia - TVI

Arábia Saudita dá boas vindas a presidente que abandonou Tunísia

Zine El Abidine Ben Ali ainda terá tentado aterrar em Paris, mas Sarkozy não permitiu

Última actualização às 10:07 de sábado



Aquele que foi o presidente da Tunísia durante os últimos 23 anos até esta sexta-feira foi, este sábado, acolhido na Arábia Saudita. Zine El Abidine Ben Ali ainda terá tentado aterrar em Paris, depois de ter abandonado o cargo, que foi ocupado pelo primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi. Mas Sarkozy negou-lhe a entrada.

A informação de que o avião de Ali terá aterrado em Jeddah fora avançada pelo canal televisivo Al Arabiya, sedeado no Dubai. Contudo, esta informação ainda era dada sem confirmação oficial. A Tunísia vive desde Dezembro num estado de contestação popular e violência entre manifestantes e autoridades.

A confirmação surgiu poucas horas depois. «O reino dá as boas vindas à chegada do presidente Zine al-Abidine Ben Ali e da sua mulher», refere um comunicado oficial. A nota dá conta que Ali chegou ao início deste sábado e permanecerá no país por tempo indeterminado.

Já esta madrugada, a violência continuou nas ruas apesar do recolher obrigatório decretado.

O afastamento de Ben Ali foi uma reviravolta em relação à decisão que arriscou para tentar terminar com os protestos. Fez cair o Governo e acabou por ser afastado por este.

«Uma vez que o presidente se encontra temporariamente sem condições de exercer os seus deveres, foi decidido que o primeiro-ministro irá exercer temporariamente os deveres [presidenciais]», disse o primeiro-ministro, numa mensagem transmitida ao país pela televisão.

A televisão tunisina adiantou que o chefe de governo irá ocupar o cargo até se realizarem eleições antecipadas e o chefe de governo prometeu respeitar a constituição e restaurar a estabilidade no país.

O anúncio da demissão do executivo foi imediatamente seguido do decretar do estado de emergência no país, com um apertado recolher obrigatório, a proibição de ajuntamentos de mais de três pessoas e a ordem de «uso de armas» contra quem desobedecesse às forças de segurança.

O aeroporto internacional de Tunes foi cercado pelos militares e encerrado o espaço aéreo.

Entretanto, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, apelou «a uma resolução democrática» da crise: «O secretário-geral apela ao respeito integral da liberdade de expressão e de associação e pressiona todas as partes envolvidas a procurar resolver os problemas pacificamente e legalmente com o objetivo de responder às reivindicações, mas também de trabalhar para uma resolução democrática que satisfaça as aspirações do povo tunisino».



Fim de 23 anos de poder

Ben Ali estava no poder desde 1987. A demissão do governo surgiu no final de uma semana conturbada, em que tentou travar os protestos que se iniciaram em Dezembro, com o afastamento do ministro do Interior, a descida dos preços dos alimentos, e a sua não recandidatura em 2014.

Mas nada aplacou a ira popular, após o sobressalto iniciado em Dezembro quando um jovem recém-licenciado e sem emprego se imolou, por não lhe ter sido permitido vender nas ruas. O contágio do descontentamento, passou de cidade em cidade, até chegar a Tunes, sempre com violência e sangue.

O governo tem defendido que estas manifestações foram instigadas por elementos extremistas, mas os manifestantes dizem ser movidos apenas pelas elevadas taxas de desemprego, que atingem de forma especial os jovens, pela corrupção, pela pobreza e pela repressão das autoridades.

Mais mortos

O número oficial de vítimas mortais destes distúrbios, até agora, é de 23. Contudo, grupos de defesa dos direitos humanos dizem que serão pelo menos 66. Mas tanto um como outro número deverão subir, já que fontes médicas, citadas pela Reuters, deram conta que 12 pessoas perderam a vida durante a noite na capital e na cidade de Ras Jebel, no nordeste do país.

Esta sexta-feira, apesar de ter sido decretado o estado de emergência, em Tunes milhares de manifestantes saíram às ruas.
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