Balas perdidas: todo o Rio de Janeiro em risco - TVI

Balas perdidas: todo o Rio de Janeiro em risco

  • Portugal Diário
  • 4 jan 2008, 10:18
7 Maravilhas - Cristo Redentor, no Brasil (foto - Lusa)

Há mais de 780 favelas na cidade, das quais pelo menos metade é dominada pelo tráfico de droga e por milícias, sublinha especialista

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Toda a cidade do Rio de Janeiro está sob o risco de balas perdidas, disse esta sexta-feira à Lusa Ronaldo Leão, director do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.

«Todo o Rio de Janeiro está exposto, sendo que 90 por cento da cidade corre o risco permanente de balas perdidas», advertiu Ronaldo Leão que é também membro da organização não-governamental(ONG) Instituto de Defesa Nacional.

O especialista em armas lembrou que há mais de 780 favelas na cidade, das quais pelo menos metade é dominada pelo tráfico de droga e por milícias.

«Se considerarmos isto como área de risco e traçarmos um raio de três quilómetros, que é o alcance de uma bala, veremos que todo o Rio de Janeiro está sob a mira de armamentos», explicou.

Durante a famosa festa da passagem de ano no Rio de Janeiro, um jovem de 29 anos morreu vítima de uma bala disparada em Ipanema, na zona Sul da cidade, e outras seis pessoas foram baleadas, três delas, pelo menos, também vítimas de balas perdidas.

«É um mau hábito dos brasileiros dar tiros para o ar em comemorações. É uma estupidez. E isso é uma coisa antiga, mas só agora começa a ser dada atenção a esse problema», afirmou Ronaldo Leão.

Segundo o especialista, a bala de uma arma semi-automática AR-15 pesa três gramas e vai a um quilómetro por segundo, com alcance letal de 1 500 metros. Já uma bala de arma de guerra, como as G-3 que vieram para o Brasil com os portugueses que fugiram à guerra em Angola, pesa 10 gramas e vai a 900 metros por segundo, podendo atingir um alvo a até três quilómetros.

De acordo com Ronaldo Leão, entre 30 mil a 50 mil armas pesadas, como espingardas e escopetas, estão em poder de traficantes e assaltantes no Estado do Rio de Janeiro. «A nossa estimativa é de que para cada arma apreendida no Rio haja mais de 30 nas mãos dos marginais. A sorte ainda é que o Brasil é um mercado de quinto escalão em matéria de armas, se considerarmos a idade e a variedade dos armamentos», referiu.

O director do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFF disse que as armas no Rio de Janeiro são usadas muitas vezes para desviar as atenções de grandes operações ilegais, como o tráfico de cocaína para a Europa, Estados Unidos e Ásia.

Segundo Ronaldo Leão, é muito mais vantajoso para os traficantes brasileiros exportarem cocaína para Rússia ou para o Reino Unido, onde um quilograma de droga comprada na Bolívia por cerca de 1.500 euros é vendido a 250 mil euros, do que venderem o produto no mercado interno, por 10 mil euros o quilograma.

O especialista destacou ainda que, numa estimativa optimista, há cerca de nove mil polícias nas ruas no Estado do Rio de Janeiro, ou seja, um polícia para quase 2.000 habitantes.

Na opinião do especialista, «a favela no Brasil transformou-se num buraco do inferno. A vida aqui não vale mais nada. A única solução é a educação em primeiro lugar. Só depois podemos pensar em cultura, a par de um banho de cidadania e um banho de lei», assinalou.
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