«A Caritas Europa está consternada com a tragédia de pesadelo que teve lugar ao largo da costa da Líbia no último sábado e teme que esta enésima demonstração da inviabilidade moral da 'Europa Fortaleza' esteja a matar o projeto europeu baseado na solidariedade e na defesa da dignidade de cada ser humano», adianta a organização em comunicado.
«A abordagem europeia à imigração, focada na segurança e no controlo de fronteiras, é o que leva as pessoas desesperadas a pensarem que vale a pena recorrer a traficantes e a arriscar a vida», prossegue Caritas.
Para esta organização ligada à Igreja Católica, a Europa tem que substituir «a desastrosamente ineficaz» operação Triton por uma verdadeira operação de busca e salvamento que consiga melhorar os bons resultados da operação italiana «Mare Nostrum», que terminou em outubro de 2014.
A Caritas lembra que desde o seu início em novembro de 2014, a operação Triton salvou 7 mil pessoas, enquanto a operação «Mare Nostrum» salvou 140 mil imigrantes, em 12 meses.
Este ano já morreram no Mediterrâneo mais de 1 500 pessoas, 50 vezes mais do que no mesmo período do ano anterior, segundo a Caritas.
«A morte de mais de 700 pessoas que se viram trancadas no porão do navio e se afogaram no que podemos apenas imaginar como condições absolutamente terríveis vira os holofotes da culpa, não só sobre os traficantes sem escrúpulos que colocam essas pessoas no barco, mas sobre a União Europeia», reforçou.
Para o secretário-geral da Caritas Europa, Jorge Nuño Mayer, citado no comunicado, «cada nova tragédia com imigrantes no Mediterrâneo e a forma como a Europa lida com as suas causas contribui para a erosão do projeto europeu nas mentes daqueles que nele acreditam».
Jorge Nuño Mayer cita o Papa Francisco para afirmar que «não podemos permitir que o Mediterrâneo se torne num vasto cemitério».
Por isso, a Caritas reclama, entre outras medidas para ajudar a resolver o problema dos imigrantes, a abertura da canais «seguros e legais» de entrada na União Europeia, a criação de um visto humanitário, a facilitação da reunificação familiar de refugiados e migrantes ou o alargamento dos programas de admissão humanitários.
Depois do naufrágio de sábado, em que morreram 700 pessoas, já hoje registaram-se mais dois acidentes com barcos que transportavam imigrantes que causaram um número ainda indeterminado de mortos.