Liu Xiaobo poderá ser o último a saber que é Nobel da Paz - TVI

Liu Xiaobo poderá ser o último a saber que é Nobel da Paz

Dissidente está preso e só quando receber a próxima visita mensal da esposa lhe deverá ser comunicada a boa notícia

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Liu Xiaobo foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz, mas provavelmente será das últimas pessoas a sabê-lo. O dissidente chinês está preso e incontactável. A boa notícia só deverá conhecê-la quando receber a habitual visita mensal da esposa, Liu Xia.

«Liu não sabe nada sobre o prémio», disseram os advogados e amigos do antigo professor de literatura à EFE. Mo Shaoping e Pu Zhiqiang explicaram à agência noticiosa que neste momento «nenhuma pessoa pode contactar» com Xiaobo.

«Terá que esperar pela visita mensal que recebe da sua esposa, Liu Xia, com a qual não pôde comunicar até ao momento», sublinhou Mo Shaoping.

A esposa do novo Prémio Nobel da Paz encontra-se em prisão domiciliária desde que o marido foi detido, em 2008, por ser um dos organizadores do manifesto Carta 08, que pede mais liberdade de expressão e eleições multipartidárias na China.

Detenção contestada

A detenção de Xiaobo têm sido fortemente contestada pela comunidade internacional. Tanto os EUA como a UE pediram para assistir ao julgamento do activista, o que lhes foi negado.

Depois de ter começado a cumprir pena, foram feitos vários pedidos a Pequim para que fosse libertado. As recusas do regime chinês foram sempre acompanhadas por uma manifestação de repúdio pelo que diz serem tentativas «inaceitáveis» de ingerência nos seus assuntos internos.

Problemas desde Tiananmen

Contudo, a pena que o homem escolhido pelo comité norueguês está a cumprir não é a primeira. O activismo e os problemas de Liu Xiaobo com o regime chinês começaram muito antes.

Durante os protestos da praça Tiananmen, em 1989, tornou-se conhecido com um dos líderes da greve. Esteve na prisão durante 20 meses. Depois disso, foi ainda condenado a uma pena de prisão de três anos, que cumpriu num campo de trabalho e reeducação, durante a década de 1990. No currículo de Liu Xiaobo constam ainda vários meses de prisão domiciliária.

Luta «não violenta»

Liu foi um dos organizadores deste conjunto de apelos a Pequim, com vista a uma maior democratização do regime. Entre os signatários encontram-se diversos intelectuais e activistas.

O comité norueguês responsável pela escolha elogiou «a longa e não violenta luta por direitos fundamentais na China» por parte de Xiaobo.

De acordo com Thorbjoern Jagland, presidente desta entidade, «o comité acredita há muito que há uma relação próxima entre direitos humanos e a paz».

Jagland assinalou ainda que a China, à medida que ganha cada vez mais proeminência no contexto internacional como potência, deve esperar um escrutínio mais apertado sobre o tema dos direitos fundamentais dos seus cidadãos.

«Temos de falar quando outros não o podem fazer», disse o presidente do comité aos jornalistas, segundo cita a agência Reuters.

Pequim e Oslo reagem

A China também já reagiu, mostrando desagrado com a decisão do comité norueguês. Para Pequim a entrega do prémio a Xiaobo trata-se de uma «obscenidade».

A Noruega, que está nesta altura a negociar um acordo comercial com a China, salientou que o comité do Nobel não se trata de uma entidade governamental e que por isso a sua decisão não deve suscitar qualquer hostilidade por parte de Pequim em relaçao a Oslo.

Obama pede liberdade

O presidente dos EUA, Barack Obama, Nobel da Paz em 2009, também já se manifestou sobre a distinção deste ano.

O chefe de Estado lançou um apelo às autoridades chinesas para libertarem o mais depressa possível Liu Xiaobo.
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