Ao seu estilo, como até aqui, a disparar em todas as direções, na primeira conferência de imprensa desde que foi eleito, o magnata que será presidente dos Estados Unidos a partir do próximo dia 20 não deixou arrefecer a polémica que aquece a política norte-americana. A saber, as acusações - entretanto negadas pelo próprio e por Moscovo - de que teria ligações umbilicais com o poder russo de Vladimir Putin.
Depois de ter usado, como é hábito, a sua conta na rede Twitter para desmentir acusações divulgadas pela imprensa norte-americana, Trump afirmou agora de viva voz que é falso um suposto relatório de 35 páginas, cujo resumo em apenas duas folhas teria sido compilado e entregue a si e ao ainda presidente Obama pelos serviços secretos.
Acho que é uma vergonha, essa informação ter sido publicada", salientou Trump, logo a abrir a conferência de imprensa, esta quarta-feira em Nova Iorque, perante cerca de 250 jornalistas.
Trata-se de um suposto relatório que tem aquecido os últimos dias da política norte-americana, agora em fase de transição presidencial. E que antes mesmo da conferência de imprensa, Donald Trump tudo fez por rebater.
Relatório, russos e reações
O site BuzzFeed publicou a informação, alegadamente entregue aos serviços secretos por um espião britânico. Aí se afirmava que Moscovo detinha informações comprometedoras sobre Trump, envolvendo negócios e até orgias, realizadas em Moscovo.
Vistos à lupa, alguns meios de comunicação reconheceram que alguns dos factos constantes no tal relatório eram uma encenação. A começar por uma visita recente do advogado de Trump à República Checa. Constatou-se que terá sido um outro cidadão norte-americano, também Michael Cohen, de seu nome, que tinha estado em Praga. Já depois do jurista ter negado alguma vez ter estado nessa cidade.
I have never been to Prague in my life. #fakenews pic.twitter.com/CMil9Rha3D
— Michael Cohen (@MichaelCohen212) 11 de janeiro de 2017
Do outro lado, também Moscovo saiu a terreiro, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a considerar que o tal dossiê é apenas "ficção", criado com o objetivo de "estragar as relações" entre a Rússia e os Estados Unidos.
Por seu lado, Trump fez o que lhe é costume. Armou a sua conta Twitter e disparou sempre com a mira nas acusações de estar conjugado com os russos. E não satisfeito, abriu a conferência de imprensa desta quarta-feira insistindo no alvo.
São notícias falsas, é tudo falso e nada aconteceu. Se a Rússia tivesse algo sobre mim, teria gosto em divulgá-lo", reafirmou Trump sobre as acusações de que teria ligações e apoios de Moscovo.
Russia just said the unverified report paid for by political opponents is "A COMPLETE AND TOTAL FABRICATION, UTTER NONSENSE." Very unfair!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 11 de janeiro de 2017
Interferências da Rússia
Apesar de voltar a desmentir quaisquer ligações a Moscovo, que considera ser matéria de uma "caça às bruxas política", o próximo presidente norte-americano assumiu pela primeira vez que os russos terão estado por detrás de ataques informáticos durante a campanha eleitoral, que o levou a ser eleito.
Acho que foi a Rússia", assumiu Trump na conferência de imprensa, em que recusou responder se alguém da sua campanha teve contatos com Moscovo, durante o processo eleitoral.
Ainda assim, garantiu que, consigo, a Rússia terá muito mais respeito para com os Estados Unidos. E que em três meses irá apresentar uma solução para evitar que os sistemas informáticos vitais no país possam ser pirateados por quem quer seja. Sobretudo, russos e chineses.
Empregos e empresas
Firme no que prometeu em campanha, o próximo presidente norte-americano voltou a insistir na sua determinação de criar mais empregos no país. Ameaçando empresas que mudem as suas fábricas para o estrangeiro, com pesadas taxas quando queiram vender os produtos nos Estados Unidos.
Vou ser o maior criador de empregos que Deus alguma vez criou", prometeu Trump, da mesma forma que manteve e insistiu na ideia de construir um muro a separar os Estados Unidos do México.
Confrontado pela imprensa, acabaria por se esquivar a responder sobre a polémica que há muito envolve as suas declarações de impostos. Sobre as quais disse não falar, porque "estão a ser alvo de investigação".
Os únicos que se preocupam como as minhas declarações de impostos são os jornalistas", rematou o futuro presidente.
Já sobre as suas empresas, Donald Trump assegurou que até as poderia continuar a gerir, a par da presidência dos Estados Unidos.
Ainda assim, garantiu ter passado o controlo do seu império empresarial, em áreas como o imobiliário e a diversão, para dois dos seus filhos. Com um pressuposto desde já anunciado e a deixar entender que até pretende recandidatar-se a um segundo mandato de quatro anos.
Espero que ao fim de oito anos, quando voltar possa dizer: Bem, vocês fizeram um bom trabalho", salientou Trump, acrescentando que, "caso contrário, se fizerem um mau trabalho, dir-lhes-ei: estão despedidos!".