«Já há muita gente a abandonar Bissau» - TVI

«Já há muita gente a abandonar Bissau»

Golpe de Estado na Guiné-Bissau

Jornalista guineense descreve cenário na capital do país

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Última actualização às 18:06

O primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, está confinado à sua residência, sob a guarda de cerca de quatro dezenas de militares fortemente armados. Recebeu esta tarde uma breve visita do presidente da República, Malam Bacai Sanhá, que já apelou à calma. Mas nas ruas de Bissau, vive-se uma calma tensa.

A descrição da situação na capital do país foi feita pelo jornalista guineense António Aly Silva, contactado telefonicamente pelo tvi24.pt. «O que se vê mais são carros da Polícia Militar», disse, desde perto da casa de Carlos Gomes Júnior. «As pessoas estão expectantes e nervosas».

«Estou ao pé da casa do primeiro-ministro. Há barricadas nas ruas e está cheio de militares. Estão seguramente mais de 40 militares com Kalashnikovs e bazucas», contou António Aly Silva, quando eram cerca das 16:30, em Lisboa.

Esta manhã, o chefe de governo foi levado para a Forteza de Amura, onde está instalado o quartel-general das Forças Armadas, por militares que invadiram o seu gabinete. Posteriormente, os militares conduziram-no ao seu escritório e em seguida para a sua residência, situada na Avenida dos combatentes da Liberdade da Pátria. Bem perto está a Avenida Cidade de Lisboa, onde se encontra a embaixada de Portugal.

Depois da população se ter aglomerado perto da casa de Carlos Gomes Juníor, em solidariedade para com o primeiro-ministro, os militares «deram três tiros para o ar», para afastar as pessoas do local, explicou António Aly Silva. O vice-chefe das Forças Armadas, António Indjai (que está a comandar estas operações, juntamente com o

ex-chefe da Armada, Bubo Na Tchuto), chegou mesmo a ameaçar matar o primeiro-ministro, caso a população não dispersasse.

A população também foi avisada. «Ainda não fizemos nada, mas vou avisar a população: se não abandonar as ruas, vou-me fardar, pegar num grupo de militares e vamos cometer barbaridades», disse Bubo Na Tchuto, que foi destituído do cargo que ocupava em Agosto de 2008, depois de ser acusado de uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Nino Vieira.

O jornalista guineense disse ao tvi24.pt que o chefe de Governo foi visitado esta tarde na sua casa pelo Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, que esteve lá durante «15 minutos».

«Não há problema»

Não foi possível apurar o teor desta conversa. Contudo, Sanhá, depois de se encontrar com os militares responsáveis pelos incidentes desta quinta-feira, disse à imprensa que a situação «está calma».

«Não há problema. Houve uma situação de confusão. Houve confusão entre militares que transbordou até chegar ao Governo, mas a situação está calma», disse, segundo cita a agência Lusa.

Mas segundo o jornalista António Aly Silva a situação mantém-se tensa. «Os militares exigem a renúncia do primeiro-ministro, porque disseram que ele tinha morto muita gente e tinha de responder em tribunal», afirmou. Para António Aly Silva, este caso espelha as divisões existentes entre militares guineenses e a dificuldade das Forças Armadas em fazer a «transição» entre o período em que «lutaram para conquistar a independência» e a democracia.

Mas o olhar crítico deste guineense alarga-se também às Nações Unidas. «A dúvida que eu tenho é o que estão a fazer neste país. Ninguém mexeu uma palha».

Além do confinamento do primeiro-ministro à sua residência, também o chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, Zamora Induta, foi detido. Segundo António Aly Silva foi levado para a base aérea de Bissalanca.

O jornalista teme que uma eventual tentativa de libertá-lo poderá levar a um «banho de sangue». A população receia que se desencadeie um clima de violência e há já quem deixe a capital. «Já há muita gente a abandonar Bissau», disse.
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