Batman: como esquecer o nome do atirador - TVI

Batman: como esquecer o nome do atirador

Famílias das vítimas apelam aos jornalistas para não darem tanta atenção a James Holmes. Informação estará ameaçada?

Relacionados
Os norte-americanos querem esquecer James Holmes, o homem que entrou num cinema de Aurora, Colorado, durante a estreia do novo filme do Batman, matou 12 pessoas e deixou 58 feridas. Mas não vai ser fácil.

O debate começou quando alguns familiares das vítimas apelaram aos jornalistas para não dizerem o nome do atirador nem divulgarem mais fotografias dele. O próprio Barack Obama nunca o fez. O objetivo é não dar a Holmes a fama que acreditam que ele deseja.

«Eu consigo dizer o nome do atirador de Virginia Tech [33 mortos, incluindo o atirador Cho Seung-hui, em 2007] e do atirador da Noruega [Anders Breivik matou 77 pessoas em 2011]. Não quero que isso aconteça aqui. Quero que as vítimas sejam recordadas, em vez deste covarde», afirmou Jordan Ghawi, cuja irmã morreu no cinema de Aurora.

Apesar do doloroso luto, este irmão explica por que faz questão de continuar a falar de Jessica publicamente. «Não quero que os media fiquem saturados com o nome do atirador. Quanto mais se falar das vítimas, menos tempo tem aquele homem na televisão», justificou.

O jornalista da CNN Anderson Cooper foi o primeiro a cumprir este apelo. No seu programa desta semana, falou em «suspeito», «homicida acusado», «atirador acusado», mas nunca de James Holmes, tendo até limitado as imagens dele em tribunal, com o cabelo pintado de vermelho.

«Obviamente, a minha principal função é informar, ser jornalista e contar às pessoas o máximo possível. Mas as pessoas já sabem aquele nome e já viram as imagens dele vezes sem conta», afirmou, citado pelo «The Huffington Post».

Um dos convidados de Cooper foi Tom Teves, cujo filho Alex também foi uma das vítimas mortais. «Eu gostaria que a CNN tivesse uma política em que nunca mais se falasse do atirador. Podemos dizer que um covarde entrou numa cinema e desatou a disparar sobre as pessoas. Ele está detido. O covarde está na prisão. Ele nunca mais vai ver a luz do dia. Vamos ficar-nos pelas vítimas. Nunca mais falaremos dele», apelou.

O debate é antigo nos Estados Unidos. Já após a tragédia de 11 de setembro de 2001, alguns meios de comunicação social limitaram as imagens dos aviões a embater nas torres do World Trade Center. Marcy McGinnis, professora de jornalismo na Universidade de Nova Iorque, avisa que podemos «chegar ao ponto de nunca mostrar nada de natureza trágica, porque irá sempre afetar alguém».

«Não se pode tomar a decisão de o que mostrar ou não mostrar baseado no que as pessoas afetadas pensam», acrescentou.

A especialista considera que os pormenores sobre Holmes são fundamentais para perceber o porquê do massacre e evitar situações semelhantes.

Já James Alan Fox, professor de criminologia, defende que não se deve nomear os homicidas para não lhes dar a notoriedade que procuram. Temendo que apareçam imitadores de James Holmes, o especialista em serial killers pede aos jornalistas para não utilizarem as expressões «o maior», «o mais mortífero», «o pior» ou «o primeiro». «Os recordes existem para ser quebrados...», lamentou.
Continue a ler esta notícia

Relacionados