Motins em Inglaterra: começaram há um ano e podem voltar - TVI

Motins em Inglaterra: começaram há um ano e podem voltar

Onda de violência começou em Londres e seguiu sem controlo. Muitos acreditam que pode repetir-se

Era um sábado. Por volta das 20h30, à porta de um bar em Tottenham, um carro da polícia abandonado arde, alguns jovens atiram garrafas aos agentes. Um homem sai de um bar para fumar um cigarro, olha para aquele cenário e decide juntar-se. Há outro carro da polícia vazio, ele põe a cabeça pela janela e pega-lhe fogo. Toda a gente aplaude. A descrição é do jornal «Guardian» e relata o dia em que começaram os motins urbanos que abalaram a Inglaterra. Foi há exatamente um ano. E muitos receiam que volte a acontecer.

Nesta altura Londres está concentrada nos Jogos Olímpicos, que decorrem até domingo, mas os responsáveis políticos ingleses sabem que os problemas por trás dos motins não desapareceram. «Ainda há problemas sociais profundos que temos de enfrentar, olhando para o que acontece na vida dos jovens, nos seus modelos, nos seus ideais, no que querem atingir», disse nesta segunda-feira à BBC o «mayor» de Londres, Boris Johnson, que tenta transformar os Jogos numa mensagem positiva para esses jovens: «Estão a mandar uma mensagem clara sobre esforço e realização, e o que é preciso para juntar os dois.»

Num inquérito levado a cabo pelo «Guardian» em parceria com a London School of Economics, chamado «Reading the riots» e que foi o maior estudo realizado sobre o fenómeno, os agentes da polícia britânica ouvidos manifestaram a preocupação de que os motins voltem a acontecer. Num outro inquérito divulgado na semana passada, um em cada quatro adolescentes diz acreditar que aquelas cenas vão repetir-se.

Naquele início de agosto de 2011, tudo começou como um protesto pela morte de Mark Duggan, um motorista negro de 29 anos, morto pela polícia dois dias antes. Foi baleado no peito, em circunstâncias que até hoje não foram totalmente esclarecidas. O caso está a ser investigado por uma comissão, a Independent Police Complaints Commission (IPCC), mas a família continua sem resposta a uma série de questões.

Naquele sábado, a família de Duggan esperou à porta da esquadra para obter uma explicação da polícia e não apareceu ninguém para falar com eles. O incidente foi o gatilho que desencadeou os motins. Da zona de Tottenham estenderam-se rapidamente a vários outros pontos da cidade de Londres e depois a outras cidades inglesas: Manchester, Liverpool, Birmingham.

Os confrontos com a polícia, violência e pilhagens seguiram sem controlo, prolongaram-se por mais de uma semana e redundaram em cinco mortes e mais de 3000 detenções, com o mundo a assistir incrédulo às imagens que chegavam pela televisão. O primeiro-ministro David Cameron acabou por interromper as férias, no meio de muita polémica sobre a reação da polícia aos incidentes.

Muitos dos processos abertos na altura ainda decorrem em tribunal, enquanto se prolonga igualmente o debate sobre o que se passou. Não há respostas simples. No relato daquela noite à porta do bar de Tottenham, o homem que se junta ao motim, um dos entrevistados sob anonimato no estudo «Reading the Riots», tem 32 anos, é branco e nem sabia quem era Mark Duggan.
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