Julgamento reabre ferida do atentado em Boston - TVI

Julgamento reabre ferida do atentado em Boston

Atentado na maratona de Boston (REUTERS)

Testemunho inflamado de sobreviventes do ataque de 2013 na maratona marca segundo dia em tribunal do único acusado vivo

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No segundo dia do julgamento do suspeito do duplo atentado na maratona de Boston em 2013, Djokhar Tsarnaev, o tribunal federal daquela cidade norte-americana do Estado de Massachusetts começou a ouvir os testemunhos dos sobreviventes do ataque, incluindo Jeffrey Bauman, um espectador da maratona que perdeu as duas pernas nas explosões e que teve um encontro misterioso com um homem, que ele mais tarde identificaria como um dos alegados bombistas.



De acordo com a NBC News, o tribunal também ouviu, esta quinta-feira, o relato de Rebekah Gregory, uma mulher que viu a própria perna explodir, e histórias de polícias que tentaram salvar as vítimas que morreram.

Os testemunhos dos sobreviventes fazem parte da estratégia dos procuradores federais em dar conhecimento da profundidade da dor e da agonia provocada pelas explosões de duas bombas artesanais a 15 de abril de 2013, junto da linha de chegada da popular maratona de Boston, que matou três pessoas – incluindo uma criança de oito anos - e feriu outras 264.




Djokhar Tsarnaev, um jovem muçulmano de 21 anos de origem chechena, que vivia nos Estados Unidos desde 2002 e que obteve a cidadania norte-americana em 2012, é acusado de ser responsável pelos atentados com o irmão mais velho Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos, que acabou por ser morto alguns dias depois dos ataques durante uma perseguição policial.
 

O calvário do duplo amputado Jeffrey Bauman


Jeffrey Bauman foi uma das vítimas que ajudou os investigadores a chegar até aos irmãos Tsarnaev. O sobrevivente, que perdeu as duas pernas no atentado, contou esta quinta-feira em tribunal que «esbarrou» com um homem «suspeito», que mais tarde foi identificado como Tamerlan Tsarnaev. Bauman recordou também a «carnificina pura» do cenário depois das explosões que lhe deixaram «ossos e carne de fora».




De acordo com o jornal «USA Today», Jeffrey Bauman afirmou que foi assistir à maratona para apoiar um amigo, que era um dos participantes. Bauman contou como no dia dos ataques, alguém vestido de preto passou diante dele e posou uma mochila perto da linha de chegada da maratona.

«Eu pensei que era estranho», afirmou. «Então lembrei-me dos avisos feitos nos aeroportos a alertar para a bagagem abandonada», continuou. «Dois segundos depois, vi um flash, ouvi três “booms” e estava no chão», recordou.


Pouco depois da explosão, Jeffrey Bauman descobriu que as pernas tinham explodido. «Podia ver os meus ossos e a minha a carne a saírem», testemunhou. Pouco depois ouviu a segunda explosão: «Pensei: estamos a ser atacados».

Na cama de hospital, Jeffrey Bauman descreveu ao FBI o homem que tinha visto passar por ele, ajudou a polícia federal a elaborar um retrato-robô e, quando viu na televisão um dos suspeitos filmados por uma câmara de videovigilância, não teve dúvidas. «Disse logo que era o rapaz que eu vi, é ele», recordou.
 

O testemunho libertador de Rebeca Gregory

 
Antes do testemunho de Jeffrey Bauman, um agente da polícia de Boston, Frank Chiola, contou perante a sala lotada do tribunal federal de Boston como tentou em vão reanimar uma das três pessoas que morreram nos atentados: uma jovem de 29 anos, Krystle Campbell.

«Tinha fumo a sair da boca», disse o polícia, emocionado. «O corpo da cintura para baixo, é difícil de descrever, mutilação completa», acrescentou.


Numa carta aberta a Djokhar Tsarnaev, outra vítima, Rebeca Gregory, amputada de uma perna, que testemunhou na quarta-feira, chamou o suspeito de cobarde.
 
 
 

«Você é um cobarde. Um menino que nem sequer me olha nos olhos. Porque você não consegue suportar o facto de que aquilo que você procurou destruir, tornou-se ainda mais forte», escreveu a mulher na página de Facebook, em referência ao testemunho que deu em tribunal.




Antes de depor em tribunal, o rosto de Tsarnaev assombrava os pesadelos de Rebeca Gregory. Depois de o ter enfrentado em tribunal, o medo desvaneceu-se, afirmou a sobrevivente.

«Agora, você não é ninguém, é oficial, você perdeu. E é terrível o que aconteceu com o seu irmão. Espero que tenha mesmo valido a pena», acrescentou.

 

O assumir da culpa pela defesa de Tsarnaev

 
Boston reabriu, na quarta-feira, a profunda ferida do duplo atentado de 2013. Às 14:00 (hora de Lisboa) começou a ser julgado, no tribunal federal John Joseph Moakley, Djokhar Tsarnaev, único suspeito ainda em vida do ataque junto à meta da maratona de Boston.

A defesa do jovem surpreendeu ao assumir, logo no primeiro dia de audiências, que Djhokhar Tsarnaev participou no ataque, mas retratou-o como um mero seguidor do plano do falecido irmão, numa aparente estratégia para o livrar da pena de morte.

«Foi ele! Nós não vamos negar os seus atos», declarou a advogada Judy Clarke, na primeira declaração.




A estratégia da defesa parece ser centrar-se na responsabilidade relativa de Djhokhar.

Foi Tamerlan Tsarnaev, que tinha 26 anos e foi morto três dias depois do atentado, «quem concebeu o ataque», argumentou a advogada. «Foi Tamerlan Tsarnaev quem se auto-radicalizou. Djhokhar seguiu-o», acrescentou, citada pela agência Reuters.


Os procuradores federais que acusam Djhokhar Tsarnaev, agora com 21 anos, tinham anteriormente declarado que o jovem «tinha o desejo de matar». Um deles apresentou ao júri uma descrição do modo como o acusado e o irmão selecionaram os locais onde puseram duas bombas artesanais, junto à linha da meta.

«Não estava lá para assistir à corrida. Ele tinha dentro da mochila uma bomba de fabrico caseiro. É um tipo de bomba preferido pelos terroristas pelos efeitos sangrentos», disse o procurador William Weinreb. «Fingiu ser um espectador mas tinha o desejo de assassinar», continuou. «Ele acreditava que era um soldado, numa guerra santa, contra os americanos», acrescentou o mesmo procurador.


O arguido é acusado de 30 crimes, 17 puníveis com pena de morte. A defesa tem argumentado que o suspeito não terá um julgamento imparcial.

Tsarnaev pode ser condenado à morte se for considerado culpado das acusações. Para além de lhe ser atribuída a autoria da explosão das bombas é também acusado de duas mortes e de ferimentos em 16 pessoas, durante uma perseguição policial.  

Assistiram ao início do julgamento cerca de uma dezena de pessoas, incluindo feridos no ataque e familiares das vítimas, entre eles os pais de Martin Richard, um rapaz de oito anos morto no atentado.
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