Morreu o rei da Arábia Saudita - TVI

Morreu o rei da Arábia Saudita

  • Redação
  • CP - Última atualização às 08:35 de sexta-feira
  • 22 jan 2015, 23:20
Rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz (REUTERS)

Salman, de 79 anos, será agora o dono da coroa

O rei Abdullah da Arábia Saudita morreu esta quinta-feira, segundo a televisão estatal deste país, que citou um comunicado da casa real.

A mesma fonte acrescenta que o sucessor é o seu irmão Salman, de 79 anos. O herdeiro da coroa será agora o príncipe Muqrin. 

O rei Abdullah bin Abdulaziz estava hospitalizado desde dezembro com uma pneumonia. Tinha 90 anos e subiu ao trono em 2006, embora estivesse no poder há já uma década antes da coroação, uma vez que o seu antecessor, o rei Fahd, estava debilitado devido a um AVC.

Salman, o novo rei da Arábia Saudita, era ministro da Defesa desde 2012. Antes, foi governador da província de Riade durante cinco décadas.

O nome do novo príncipe herdeiro ainda terá de ser aprovado por um Conselho designado para o efeito, mas, ao indicar Muqrin de imediato, Salman está a tentar evitar especulações que podem ter efeitos até ao nível do mercado de petróleo.

Reações internacionais

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, expressou já as suas condolências pela morte do rei da Arábia Saudita destacando a sua «convicção forte e apaixonada» sobre a importância da colaboração entre as duas nações para a estabilidade do Médio Oriente.

«Os nossos países trabalharam juntos para fazer frente a muitos desafios. Sempre valorizei o seu ponto de vista e a nossa sincera e calorosa amizade. Como líder, foi sempre franco e corajoso para defender as suas convicções», lê-se num comunicado da Casa Branca.

A vida de Abdullah bin Abdulaziz Al Saud «estendeu-se desde antes do nascimento da Arábia Saudita moderna até ao seu papel atual como força chave na economia global e como um dos países líderes do mundo árabe».

Também o Governo do México lamentou «profundamente» a morte do rei da Arábia Saudita, transmitindo as suas condolências «à família real e ao povo do reino».

A memória do monarca «vai perdurar pelo seu trabalho incansável a favor do desenvolvimento e do bem-estar do povo saudita, bem como pelo seu compromisso com a paz e a segurança no Médio Oriente, o que foi demonstrado pelas suas ações para promover o diálogo e a reconciliação entre as diferentes religiões e cultura», informa um comunicado da Secretaria das Relações Externa do México, que é citado pela Lusa.

Perfil

Apesar da idade avançada quando chegou ao trono, Abdullah procurou de forma enérgica libertar o reino da dependência do petróleo e da influência dos extremistas islamitas. Com base na imensa riqueza do reino, alicerçada no petróleo, Abdullah lançou projetos para construir cidades, universidades e autoestradas.

O falecido rei procurou converter o país de um terreno de criação de radicais num parceiro moderado e construtivo na política internacional, refere a Agência Lusa. 

Em 2011, Abdullah resistiu às convulsões da designada Primavera Árabe, que derrubou vários líderes na região, mobilizando vastas somas de dinheiro para procurar satisfazer a população. Mais recentemente, a Arábia Saudita foi um dos vários Estados do Golfo que participaram na campanha aérea, liderada pelos EUA, contra o designado Estado Islâmico, na Síria.

A sua nação também liderou de forma inflexível a recusa dos apelos de outros países produtores de petróleo para reduzir a produção. Mas, ao longo dos anos, a idade de Abdullah e a sua inclinação para o consenso permitiu que os conservadores resistissem às suas reformas, por entre uma falta de clareza quanto ao futuro da monarquia.

Desde a morte, em 1953, do rei Abdul Aziz bin Saud, fundador da Arábia Saudita, que o trono tem passado sistematicamente de uns dos seus filhos para outros, irmãos e meios-irmãos. Mas muitos dos filhos do primeiro rei estão mortos ou idosos. Dois príncipes herdeiros, Sultan e Nayef, morreram em 2011 e 2012.

O meio-irmão de Abdullah, Salman, o príncipe herdeiro que foi hoje nomeado rei, está na casa dos 80 anos e com pouca saúde. Em março de 2014, Abdullah nomeou outro meio-irmão, o príncipe Moqren, como um segundo herdeiro ao seu trono, uma decisão inédita pensada para garantir uma transição pacífica.

O comunicado do Palácio Real nomeou Moqren, o mais novo dos filhos de Abdul Aziz, como o novo príncipe herdeiro. Abdullah tinha estabelecido uma Comissão da Sucessão, em 2006, para institucionalizar o processo de sucessão.

Sem ser atingido pelos desregramentos e excessos de muitos dos príncipes, Abdullah era muito popular entre os seus súbditos e seguidor da tradicional vida dos beduínos.

Apesar de ser o 13.º filho do rei Abdul Aziz, Abdullah era o único filho da sua mãe, que pertencia à tribo beduína dos Shammar. Esta situação deixou Abdullah com uma relativa pequena base de apoio entre os muitos príncipes da sua geração.

Nos anos de 1960, foi-lhe confiado o comando da Guarda Nacional, a segunda principal instituição da área da defesa, cargo que manteve até 2009, quando o passou para um dos seus filhos. Esta posição permitiu-lhe construir relações com a miríade de tribos do reino, que preencheram os efetivos da força, que foi um dos principais pilares da sua autoridade.

Abdullah tornou-se príncipe herdeiro quando o seu meio-irmão Fahd ascendeu ao trono em 1982. A sua ascensão ao trono, em 1995, foi feita perante a rivalidade do clã de Fahd, que era proveniente dos Sudairy.

A partir do final dos anos 1990, promoveu mudanças importantes. Desenvolveu um conselho consultivo, reforçou o controlo sobre as finanças do país e começou a modernizar o sistema da justiça islâmica.

Os conservadores foram desafiados com o apoio que deu a clérigos mais modernistas, a criação de organizações de direitos humanos e o lançamento de uma universidade que, pela primeira vez, permitiu que homens e mulheres se misturassem, para estudar, sem quaisquer restrições.

Não obstante, o seu reino continua a ser fortemente criticado por um registo perturbador nos direitos humanos, incluindo a detenção de dissidentes. A Arábia Saudita é ainda o único país do mundo que não permite que as mulheres conduzam.
 
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