Haiti: «Pela primeira vez começo a ver sorrisos» - TVI

Haiti: «Pela primeira vez começo a ver sorrisos»

Haiti: sorrisos inocentes

Haitiano «perdeu tudo no sismo» e agora passa os dias na internet a tentar ajudar os outros. Diz que há sinais de esperança, mas avisa que «reconstrução vai demorar muito tempo»

Durante todo o dia Karl Jean-Jeune, um haitiano de 23 anos de Petionville vai transmitindo informações sem parar no Twitter. Pede ajuda para uma criança enterrada nos escombros, divulga um pedido de sangue O negativo, um apelo de uma família que não tem água nem comida, informa quais os hospitais, bancos e supermercados que vão reabrindo... É assim há uma semana. «As redes sociais e a internet ainda não estão acessíveis a todos aqui no Haiti, por isso eu tento fazer a ajuda chegar aos que precisam, utilizando o poder da internet», explica ao <> .

Leia mais dois testemunhos:

«Twittei durante o sismo»


«Redes sociais são tão cruciais como água e electricidade»

«Há muitas forma de ajudar e eu vou continuar a fazer o que faço porque sei que faz a diferença», conta este designer gráfico e «repórter amador». E explica. «por exemplo, recebi um telefonema a dizer que uma estudante universitária estava debaixo dos escombros a enviar pedidos de ajuda por SMS. Através do Twitter encontrei quem encaminhasse uma equipa de resgate para o local procurá-la». «As redes sociais estão a ter um papel importantíssimo neste processo ajudando a levar a ajuda onde ela é precisa», explica.

«Perdi tudo»

Karl Jean-Jeune explica que perdeu «tudo» no sismo: «As máquinas fotográficas, computadores, roupas, papeis importantes. A minha casa caiu e é demasiado perigoso tentar ir recuperar alguma coisa. Vivo em casa de amigos e tentamos racionar a comida e água que temos».

Conta ainda que a família está bem, mas perdeu muitos amigos. «Fazer o que faço nas redes sociais também me ajuda a esquecer um pouco a dor e a superá-la», explica.

O jovem tinha uma empresa de design gráfico, mas agora afirma que «não há mais trabalho». «Não vou poder continuar o meu negócio como antes, não espero ter clientes durante uns tempos, nem tenho recursos para trabalhar», conta.

Violência e falta de organização são os maiores problemas

Para já considera que um dos maiores problemas são a violência, já que 4 mil prisioneiros de uma das prisões fugiram e é difícil as pessoas sentirem-se seguras nas ruas. «Ouvimos tiros todas as noite, pessoas a pilharem em algumas partes da cidade. Não é seguro», explica. «O outro problema é a falta de organização. Parece que o Governo e a ajuda internacional não sabem por onde começar».

«Espero que dentro de alguns meses as coisas voltem ao normal, mas isto foi muito traumatizante para todos», conta. «Eu, por exemplo, nem consigo imaginar-me a dormir dentro de uma casa», confessa.

«Mas também devo dizer que hoje, pela primeira ver, começo a ver sorrisos nos rostos das pessoas, o que me leva a pensar que somos uma nação forte e que vamos superar isto», diz. «Ao contrário da semana passada, começo a ver menos corpos nas ruas, mais bancas a vender produtos, supermercados a abrir...», conta.

Reconstrução vai demorar «muito tempo»

E vai avisando que a reconstrução vai demorar «muito tempo». «A maior parte dos recurso do país provêm da capital, que está neste momento destruída. Por isso haverá falar de comida e recursos também no resto do país», explica.

Ainda assim, Karl Jean-Jeune não quer sair do país. «Acredito que devemos ficar para ajudar. Acho que o país precisa dos seus habitantes para se reerguer e ajudar os que não podem ir embora».
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