«Foi a pior experiência da minha vida» - TVI

«Foi a pior experiência da minha vida»

  • Redação
  • João Pedro Fonseca, da Agência Lusa
  • 8 jun 2009, 14:11

Comandante do rebocador sequestrado durante vários meses pelos piratas somalis conta como viveu este tempo

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«Esta foi a pior experiência da minha vida. Nunca vivi nada assim! Não sei como ainda estou vivo!», disse à Lusa Graham Egbegi, o comandante do rebocador libertado sexta-feira à noite pelos piratas.

Em declarações por telefone, a partir do Iémen, onde chegara há algumas horas, o comandante nigeriano do «Yenegoa Ocean», que é ainda o comandante que mais tempo esteve sequestrado (desde 06 de Agosto até 05 de Junho) pelos piratas da Somália, mostrou um grande alívio por finalmente poder ir ter com a sua família, na Nigéria.

Explicando tudo por que passou ao longo dos dez meses de sequestro, Egbegi quis, no entanto, frisar o que o fez sofrer mais: «Foi tanto tempo ali dentro, sentimos falta de tudo, mas da família principalmente».

Quanto aos piratas, garantiu que «eram profissionais», que «sabiam exactamente o que estavam a fazer, o que queriam, o que deviam fazer». Disse que inicialmente eram 12 homens, mas que ao longo do tempo foi mudando, tendo duplicado o número de homens a bordo, às vezes triplicado.

De referir que o «Yenegoa Ocean» esteve todo este tempo parado junto a uma aldeia somali, «a uns 60 metros de terra», e enquanto esteve sequestrado com outros nove nigerianos era «visitado» por numerosos piratas que entravam e saíam com frequência, gente que roubava e destruía tudo o que encontrava no navio. «Uma vez ao telefone com o comandante disse-lhe o que estavam a fazer ao navio, mas os piratas não gostaram e ficaram muito zangados comigo, ameaçando matar-me», contou.

Questionado sobre se nunca tentou fugir, o comandante Graham Egbegi lembrou: «houve momentos em que comecei a estudar o comportamento deles para perceber se havia forma de fugir dali, mas tal não era possível, tinham guardas armados em todos os pontos do rebocador».

Saiu da Somália obviamente enfraquecido psicológica e fisicamente mas garantiu que os piratas nunca lhes causaram mal físico: «Desde o primeiro dia que nos disseram que não nos iriam fazer mal. A única coisa que queriam era o dinheiro do resgate, e nós nunca tentámos reagir fisicamente».

Ao longo dos dez meses teve oportunidades de contactar o proprietário do navio e algumas vezes a família: «Era muito difícil, a minha família só chorava, chorava, era eu que lhes dizia para não chorarem, que tudo iria correr bem».

Quanto às negociações, afirmou que os piratas comunicavam directamente com o proprietário do navio, por telefone-satélite, o seu papel neste processo era apenas o de lhes explicar (aos piratas) que «o valor que estavam a pedir era muito alto, que deveriam baixar» e pedir calma sempre que começavam as negociações.

A tripulação não tinha qualquer privacidade e os primeiros três meses foram terríveis, «os piratas estavam sempre connosco, receavam que eu comunicasse com o exterior».

Montaram no deck uma metralhadora automática e tinham metralhadoras AK-47 além de rockets que viu pela primeira vez, reconhecendo «das reportagens do Afeganistão».

O pesadelo teve o princípio do fim quando, há uns dias atrás, Graham Egbegi começou a aperceber-se de que já não estavam no navio alguns dos habituais piratas que faziam a segurança: «O que estava de metralhadora, já não existia, e comecei a ver levarem as armas para fora do navio».

«Na sexta-feira, levantei-me de manhã, fui verificar os sistemas do navio e um dos piratas chamou-me. Disse-me para ir à ponte receber um telefonema. Quando peguei no telefone, só ouvi do outro lado: Liga os motores e parte! Liga os motores e parte!»

«Foi fantástica a ajuda do navio holandês da NATO e foi também uma sorte estar por perto o navio francês que nos ajudou muito com água, combustível, alimentos e apoio médico», explicou Graham Egbegi. Toda a tripulação estava fragilizada, uma vez que três semanas depois do sequestro já estavam esgotados os alimentos a bordo e desde aí a alimentação passou a ser muito pobre: «Só conseguimos comer pão, arroz e farinhas, foi isto durante todos estes meses. Vivemos quase como animais».
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