Bolsa de Banguecoque em chamas... literalmente - TVI

Bolsa de Banguecoque em chamas... literalmente

Intervenção militar não trava manifestantes. Vários edifícios incendiados. Governo decretou recolher obrigatório e controlo de televisões

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Os militares tailandeses garantem que controlaram a área de Banguecoque onde estavam acampados milhares de manifestantes anti-governamentais. Quatro líderes dos «camisas vermelhas» foram detidos e apelaram à rendição. Mas a capital tailandesa continua em polvorosa. Há edifícios incendiados, entre eles o da bolsa de valores. O governo já decretou recolher obrigatório em 21 províncias.

O dia começou agitado no centro da cidade, com os militares a romperem as barreiras de pneus e bambu levantadas pelos manifestantes que exigem a demissão do executivo e a realização de novas eleições. A força da intervenção, numa altura em que os soldados usam fogo real para enfrentar os protestos, resultou na detenção de quatro líderes dos «camisas vermelhas», além de quatros mortos (entre eles um jornalista italiano) e 50 feridos. Mas os apelos à rendição não tiveram o resultado que as autoridades tailandesas queriam.

A violência espalhou-se pela cidade, com as colunas de fumo das pilhas de pneus incendiadas a erguerem-se mais alto do que os arranha-céus do centro financeiro de Banguecoque, também ele ensombrado pelos protestos violentos, que duram já deste Março. Os números negros apontam já para 68 mortos (39 deles apenas na última semana) e mais de 1700 feridos (329 nos últimos seis dias). Mas esta contagem não deverá ser a final.

A Reuters adianta que, logo após a rendição dos líderes dos «camisas vermelhas», três granadas explodiam ferindo dois soldados e um jornalista. O governo tentou passar a mensagem de controlo da situação, mas os distúrbios alargaram-se a cinco zonas da capital. Vários edifícios foram incendiados, entre eles o da bolsa. Um apagão afectou hotéis e áreas frequentadas por turistas. Os pneus, uma das imagens de marca nas últimas semanas, voltaram a arder.

A Reuters refere que vários edifícios onde funcionam órgãos de comunicação foram evacuados, devido a ameaças, entre eles os dos jornais «The Bangkok Post» e «The Nation». O canal televisivo Channel 3 foi mesmo atacado. Posteriormente, o governo deu ordem às televisões para transmitirem apenas programas autorizados.

Recolher obrigatório

Perante o receio dos confrontos se tornarem ainda mais graves - numa altura em que chegam notícias de violência do nordeste do país -, foi imposto um recolher obrigatório, em 21 províncias, que vigorará entre as 20:00 desta quarta-feira e as 6:00 de quinta.

Os manifestantes pretendem que o actual governo se demita, por não reconhecerem legitimidade ao primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva. O chefe de governo foi eleito num escrutínio polémico, em 2008, com o apoio dos militares que protagonizaram um golpe de estado, que depôs Thaksin Shinawatra do cargo em 2006.

O regresso de Shinawatra é outras das exigências dos «camisas vermelhas». O primeiro-ministro deposto exilou-se para não ser preso, após o golpe militar. Esta quarta-feira disse à Reuters temer que a violência tome conta do país. «Há uma teoria que diz que a actuação militar pode espalhar o ressentimento e que essas pessoas ressentidas se organizarão em guerrilhas», disse, sem revelar o local em que se encontra.

O fumo que ensombra o perfil arquitectónico de Banguecoque é uma imagem eloquente da ameaça que paira sobre a economia tailandesa. Vários analistas expressaram à Reuters o receio de que o descontrole não fique pelas ruas.

«A situação é pior do que o esperado e é difícil travá-la», disse à agência noticiosa Kavee Chukitsakem, presidente executivo da Kasikorn Secutrities. «Depois dos camisas vermelhas se terem rendido, as coisas estão foram de controlo», anotou. «Se a situação não melhorar rapidamente, toda a economia irá ser severamente afectada».

O economista chefe para a Ásia do Credit Suisse, Joseph Tan, diz que «o risco político subiu na Tailândia». «Aconselhámos os nossos clientes a diminuírem a sua exposição ao mercado tailandês», frisou o analista, numa altura em que a bolsa de Banguecoque está, literalmente, a arder.
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