Muralha da China em perigo - TVI

Muralha da China em perigo

  • Portugal Diário
  • Rui Boavida, da Agência Lusa
  • 2 set 2007, 19:30
Turistas (fotografia 4)

Invasões de turistas põem em risco Património da Humanidade

Relacionados
«Visite a Grande Muralha da China enquanto ela existe», dizem t-shirts de recordação à venda no famoso monumento. É que tal como outros monumentos chineses, a muralha, feita para resistir a exércitos, pode desaparecer debaixo das invasões de turistas, escreve a Lusa.

«As multidões de turistas são como a corrente de um rio, que ou é controlada ou pode causar destruição», avisa Jing Feng, o director para a Ásia do Centro de Património Mundial da UNESCO.

Se existem em todo o mundo ameaças aos locais Património da Humanidade, desde ameaças ambientais e guerras até aos roubos e ao vandalismo, a ameaça dos números, diz Jing Feng, é específica da China.

«A China tem 1,3 mil milhões de habitantes e com o desenvolvimento da economia cada vez mais gente tem dinheiro para viajar. Basta que um quarto das pessoas o faça e são 325 milhões. É enorme, é demasiado», diz o especialista.

As consequências já se fazem notar - os escritos nas paredes milenares da Grande Muralha, o lixo no chão, as lojas e restaurantes clandestinos para abastecer os turistas, que nascem como cogumelos e poluem as águas que suportam todo o meio-ambiente dos monumentos, como os lagos e rios que mantêm verde a floresta do Palácio de Verão, outro dos mais populares destinos turísticos da capital chinesa.

Em Pequim, na Cidade Proibida, quando o sol se põe e as hordas de turistas vão abandonando a majestosa residência imperial, o panorama é desolador: milhares de beatas de cigarros, sacos de batatas fritas, garrafas de plástico vazias, sem contar com o cuspo no chão, os gritos, os megafones que orientam o mar de bandeiras e chapéus coloridos que identificam as excursões.

Segundo os especialistas, o número diário apropriado de visitantes na Cidade Proibida é de 30 mil pessoas, 50 mil no máximo. Num feriado recente, o antigo palácio recebeu 114.800 visitantes.

«O próprio número, mesmo que todos se portassem bem, é uma ameaça. As paredes das Grutas de Mogao, na província de Gansu, no noroeste da China, têm pinturas valiosíssimas do século IV. Só o dióxido de carbono da respiração dos milhares de visitantes pode destruí-las para sempre», garante Jing Feng.

Operadores turísticos valorizam mais o dinheiro que o património

John Ap, professor de Gestão Turística da Universidade Politécnica de Hong Kong, é taxativo. «Temo pelo património chinês», afirma, culpando a miopia dos operadores turísticos chineses, para quem, «quanto mais gente e mais dinheiro, melhor».

«O que se tem de fazer é criar barreiras, não auto-estradas. O mercado de massas é que destrói tudo. Quando é fácil ir a um local, toda a gente lá vai», diz Ap. E, na China, onde a cada ano se fazem 1,2 mil milhões de viagens por ano, toda a gente é muita gente.

Durante os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, quando a capital chinesa espera receber 8,8 milhões de pessoas, as autoridades vão limitar o número de entradas nos monumentos, embora estejam mais preocupadas com o comportamento dos turistas chineses de fora da cidade.

«Ao longo das visitas temos ordens para lembrar às pessoas que tenham maneiras, que não podem tocar nos objectos históricos, não podem cuspir para o chão, não se podem atropelar umas às outras para ver melhor, que não podem arrancar tinta ou pedaços de madeira como recordação», disse Joey, um guia turístico na Cidade Proibida.
Continue a ler esta notícia

Relacionados