Nobel escreveu poemas sobre o Funchal e Lisboa - TVI

Nobel escreveu poemas sobre o Funchal e Lisboa

Tomas Transtroemer ficou sensibilizado com Lisboa e Funchal

Notícia actualizada às 13:35

O poeta e tradutor sueco Tomas Transtroemer, que ficou «feliz» ao receber esta quinta-feira o Prémio Nobel da Literatura 2011, escreveu poemas sobre o Funchal e Lisboa, este último publicado na obra «21 poetas suecos», traduzido por Vasco Graça Moura, noticia a agência Lusa.

Tomas Transtroemer, de 80 anos, era um dos nomes que liderava a corrida ao Nobel da Literatura deste ano.

No livro «21 poetas suecos», publicado em 1981 pela editora Vega, uma obra organizada por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly, surge o poema «Lisboa», onde o poeta sueco destaca elementos típicos das zonas históricas da capital portuguesa.

«No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes/Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões/Acenavam através das grades/Gritavam que lhes tirassem o retrato», escreveu Tomas Transtroemer.

«"Mas aqui", disse o condutor e riu à socapa como se cortado ao meio/"aqui estão políticos". Vi a fachada, a fachada, a fachada e lá no cimo um homem à janela/tinha um óculo e olhava para o mar», relata o laureado com o Nobel da Literatura 2011.

«"Roupa branca no azul. Os muros quentes/As moscas liam cartas microscópicas/Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa/"será verdade ou só um sonho meu?"», finaliza o poeta sobre a cidade junto ao Tejo.

Uma passagem pelo Funchal também inspirou Tomas Transtroemer, dedicando-lhe um verso onde destaca o mar, a receita atlântica do peixe com tomate e a «língua estranha».

«É um Prémio Nobel muito merecido», diz Vasco Graça Moura

Contactado pela agência Lusa, o poeta e tradutor Vasco Graça Moura sublinhou que a poesia de Tomas Transtroemer «tem uma grande força lírica e preocupação social».

«É um Prémio Nobel muito merecido», considerou Graça Moura, que já traduziu vários poemas de Transtroemer. «Ele é muito importante e é o maior poeta sueco vivo», salientou.

Sobre a obra de Transtroemer, o escritor português sublinhou «a grande força de utilização das imagens, com uma faceta um pouco surrealista».

«Devia ganhar o António Lobo Antunes», contesta Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe, com nove livros de poesia publicados, afirmou à Lusa que o Prémio Nobel da Literatura tem sido atribuído, nos últimos anos, a escritores «muito menores», com uns livros «muito desinteressantes» e revelou agrado por a Academia Sueca fazer «alguma justiça» ao ter distinguido este ano um «género que é sempre mais difícil».

«Fico contente, porque ao menos o Prémio Nobel da Literatura foi dado a um poeta, porque a poesia é sempre o parente pobre da Literatura, é sempre o género invisível», declarou o autor da obra «Três minutos antes de a maré encher» ou o «Livro de maldições e pornografia erudita».

O poeta português, que vive em Vila do Conde, referiu, todavia, que se sentiu mais uma vez triste por não ter sido o escritor António Lobo Antunes a ganhar o Nobel da Literatura.

«Fico mais uma vez triste, porque acho que devia ganhar o António Lobo Antunes, porque não sou nada daqueles que pensam que a língua portuguesa não possa ter dois génios contemporâneos e acho triste que a literatura em português não seja levada a sério para dois prémios» , admitiu o poeta português.
Continue a ler esta notícia