São «despejados» de camiões militares, com malas, sacos, fardos de vários tipos, num campo poeirento onde, no meio de umas árvores, 300 tendas brancas com a sigla UNHCR foram instaladas.
Fica no bairro de Towerby, um subúrbio a sul de Joanesburgo. Para além de uma longa vedação de arame, das tendas, doadas pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, ou UNHCR, no original, em inglês) e de uma fila de retretes portáteis verdes, nada mais estava instalado neste novo campo quando homens, mulheres e crianças de toda a África começaram a chegar nos veículos militares.
Este é um dos novíssimos campos de acolhimento (o governo sul-africano não gosta da palavra refugiados) que as autoridades de Pretória estão a montar para albergar mais de 50 mil naturais do Zimbabué, Burundi, Congo, Moçambique e outros países africanos afectados por conflitos, regimes ditatoriais ou graves crises económicas e alimentares que foram alvo de ataques xenófobos no último mês e perderam as casas e haveres.
No campo de Towerby, a segurança parece ter sido uma prioridade das autoridades a partir do momento em que os primeiros refugiados começaram a chegar. No entanto, faltam ainda muitas condições, para além das condições sanitárias, a electricidade ainda é residual e a água potável é inexistente.
As nacionalidades são muitas, tal como as crianças que enchem estes novos campos. Famílias muitas vezes constituídas apenas por mães solteiras e os filhos e filhas fruto de relações com homens sul-africanos que as abandonaram no meio de uma explosão de violência que deixou um rasto de mais de 60 mortos, 600 feridos e pelo menos 50 mil desabrigados desde 11 de Maio último.
«Não tenho nada nem ninguém»
Emília, moçambicana de Maputo que se recusa a voltar à sua terra por não ter lá «nada, nem ninguém» que olhe por ela, conta que a única coisa boa que os seus 22 anos de vida lhe deram foram os 2 filhos, muito pequenos, que segura nos braços.
«Fugi de Moçambique com 15 anos, vim para a África do Sul, trabalhei em várias casas, a maioria de portugueses, a vida era razoável. Mas no mês passado, tive que fugir da barraca onde vivia, ao pé de Primrose, a meio da noite, quando grupos armados com paus e pedras me tentaram matar, queimaram tudo o que eu tinha amealhado. Agora tenho medo de trabalhar, de andar nas ruas e vivo aqui, como refugiada, sem futuro», confessa com um olhar sem brilho.
Obrigados a emigrar, perseguidos por grupos de assassinos, explorados muitas vezes pelas próprias autoridades, indesejáveis para os residentes, que receiam a desvalorização das propriedades em zonas próximas dos campos, são estes os «novos refugiados», calculados em mais de 50 mil, que habitam os centros de acolhimento em redor de Joanesburgo.
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África do Sul: de «irmãos» a indesejados
- Redação
- ARC
- 8 jun 2008, 13:12
![No campo de Towerby, África do Sul](https://img.iol.pt/image/id/10839167/1024.jpg)
Refugiados da África do Sul, vítimas de xenofobia, chegam ao novo campo de refugiados em Towerby
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