Quase duas semanas depois de ter tomado posse, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni já contabiliza uma mão cheia de polémicas, a começar pela constituição do seu governo e por Galeazzo Bignami, político de 47 anos dos Irmãos de Itália, que foi uma vez fotografado a usar uma suástica nazi e que foi nomeado subsecretário do Ministério das Infraestruturas.
Em 2016, foi tornada pública uma fotografia de uma festa em 2005 em que Bignami usava uma braçadeira com uma suástica nazi. Na altura em que a foto foi divulgada, Bignami considerou o gesto um "divertimento inocente". Mas, esta semana, reconheceu sentir uma "vergonha profunda" e condenou firmemente "qualquer forma de totalitarismo", descrevendo o nazismo como "um mal absoluto".
Num outro incidente em 2019, Bignami publicou nas redes sociais uma foto com os nomes dos residentes estrangeiros listados no intercomunicador de um prédio de apartamentos em Bolonha, dizendo que se "estava nas tintas" para a sua privacidade.
Bignami não é o único ministro cuja nomeação foi criticada. Claudio Durigon, que propôs renomear um parque na cidade de Lazio em homenagem ao irmão de Benito Mussolini, o ditador fascista italiano, agora é subsecretário do Ministério do Trabalho.
Também Isabella Rauti, filha de Pino Rauti, que era funcionário do MSI, partido fundado em 1946 pelos partidários de Mussolini, foi agora nomeada vice-ministra da Família.
Apesar destas nomeações, Meloni continua a afirmar que não é simpatizante fascista: "É algo que está politicamente muito distante de mim", disse.
Outras nomeações incluem Valentino Valentini, um político da Forza Italia, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que ao longo dos anos manteve laços com a Rússia, no Ministério do Desenvolvimento Económico. E Lucia Borgonzoni, ex-ministra da Cultura que em 2018 disse que não lia um livro há três anos, está de volta ao ministério, assim como Vittorio Sgarbi, amigo próximo de Berlusconi que foi o ministro da Cultura do seu segundo governo.
Fim da obrigatoriedade de vacina anticovid para profissionais de saúde
Na primeira semana no governo, Meloni assinou um decreto com o qual reabilita 4 mil profissionais de saúde que não foram vacinados contra a covid-19 e que, de acordo com a legislação anterior, deveriam estar mais dois meses afastados do trabalho.
Segundo a nova presidente do Conselho de Ministros, agora, com um quadro epidemiológico muito diferente do de há alguns meses e com uma clara falta de pessoal nos centros médicos, essas 4 mil pessoas são necessárias. O governo de Meloni aprovou o fim da obrigatoriedade de vacinação para todo o pessoal de saúde, mas decidiu manter a imposição do uso da máscara nos centros de saúde.
“Não há uma abordagem ideológica da pandemia”, disse a primeira-ministra italiana, que atacou a gestão do anterior executivo, assegurando que “houve uma infinidade de medidas tomadas pelos governos que não estavam assentes em provas científicas”.
Proibição de "reuniões perigosas para a ordem"
Meloni anunciou também um novo decreto para pôr fim à realização de festas rave não autorizadas. A medida foi tomada com urgência após cerca de 3 mil pessoas de toda a Europa se terem reunido num armazém industrial abandonado em Modena. “O Estado não vai ficar paralisado diante da reiterada violação da lei. Queremos responder imediatamente. Esta é uma norma que prevê um novo crime: invasão de locais para reuniões perigosas para a ordem ou para a saúde pública”, destacou a primeira-ministra.
O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, explicou que a nova lei prevê penas de prisão de até seis anos para os organizadores desse tipo de eventos (mas os participantes também serão multados). A lei fala de concentrações de mais de 50 pessoas.
Portas fechadas aos imigrantes ilegais
Neste momento, há três navios de resgate de migrantes que estão no mar Mediterrâneo com quase mil sobreviventes a bordo e sem autorização para entrar num porto italiano - num aparente retorno às regras de 2018-19.
Dezenas de milhares de migrantes tentam a viagem da Líbia para Lampedusa, em Itália, todos os anos, com um número elevado de acidentes fatais.
Durante o mandato do ex-ministro do Interior italiano Matteo Salvini, as operações de embarcações de resgate de ONGs foram proibidas (e muitas vezes criminalizadas). As proibições terminaram após a saída de Salvini em 2019 e as operações de resgate de migrantes foram retomadas.
Mas, ao assumir o cargo a 22 de outubro, a nova primeira-ministra nomeou Matteo Piantedosi, que trabalhou com Salvini, para o Ministério do Interior. Na semana passada, Piantedosi emitiu uma diretriz constatando que dois navios de ONGs - Ocean Viking e Humanity 1 - podem ter operado de forma ilegal ao realizar resgates sem informar as autoridades primeiro, "desrespeitando assim as regras em questões de segurança, controlo de fronteiras e combate à imigração ilegal".
"We urge EU members and associated states to respect maritime law, cooperate in the designation of a Place of Safety for the survivors on #OceanViking and end the suffering of hundreds of men, women and children." Read our joint press release with @IFRC https://t.co/igNrOtOMC9 pic.twitter.com/JO6ALVwg0v
— SOS MEDITERRANEE (@SOSMedIntl) November 1, 2022
Esta semana, o Ocean Viking, Humanity 1 e um outro navio, o Geo Barents, estavam no mar Mediterrâneo a aguardar permissão para entrar no porto e deixar os sobreviventes. Em conjunto, transportam cerca de 985 pessoas, algumas das quais estão a bordo há uma semana, e os únicos desembarques permitidos até o momento foram para casos médicos. Os pedidos de porto de refúgio ao governo italiano não tiveram resposta.
Over 11 days, @IFRC and @SOSMedIntl rescued 234 people in the Central Mediterranean. They are stuck in limbo, waiting for a port of safety.
— IFRC Europe (@IFRC_Europe) November 1, 2022
Exhausted, dehydrated and requiring urgent medical attention, the uncertainty is making the situation unbearable. https://t.co/jfrFc4v9vz