EUA: «Houve falhas gravíssimas na prevenção» - TVI

EUA: «Houve falhas gravíssimas na prevenção»

Katrina traz consigo ventos na ordem dos 200 km/hora

AMI considera que foi subestimado o poder de destruição do furacão e diz que o «mayor» deve ser «responsabilizado» pela dimensão da catástrofe. Ajuda aos desalojados também tardou a chegar. Bombeiros apontam o dedo à falta de meios e de coordenação

A dimensão da tragédia que os Estados Unidos vivem após a passagem do furacão Katrina seria menor se tivesse havido uma aposta na prevenção. Paulo Cavaleiro, da Assistência Médica Internacional (AMI), disse ao PortugalDiário que «houve falhas gravíssimas na prevenção. Penso que subestimaram a dimensão do furacão».

Contudo, Paulo Cavaleiro está optimista quanto à capacidade de «recuperar» o tempo perdido no envio de ajuda humanitária, considerando que «os Estados Unidos conseguirão sozinhos resolver a questão, têm capacidade para isso. Os militares norte-americanos têm uma força muito grande e a própria protecção civil costuma trabalhar muito bem». Por isso, Cavaleiro acrescenta que nenhuma delegação da AMI será enviada para o terreno, apesar de ter disponibilizado os serviços da associação junto da embaixada norte-americana em Portugal para ajudar no que fosse preciso». A AMI anunciou ainda que vai enviar dez mil dólares para o governo norte-americano.

A dimensão da tragédia leva, no entanto, o responsável da AMI a criticar a actuação dos Estados Unidos. Cavaleiro considera que se instalou «um clima de guerra civil em Nova Orleães porque houve um vazio muito grande de autoridade durante muito tempo. Agora há necessidade de organização. É urgente disponibilizar assistência médica, e providenciar abrigos onde as pessoas possam estar bem».

Cavaleiro demonstra espanto com a falta de capacidade de resposta por parte da grande potência americana: «Estamos muito admirados com esta situação, não tanto com a dimensão da tragédia, mas com as falhas que demonstraram». O membro da AMI especifica o que correu mal e o que faltou fazer: «Falharam em termos de protecção civil porque não foi preparada nenhuma forma de salvaguarda, quando se sabia à partida que pelo menos milhares de pessoas ficariam desalojadas. Não foi montado nenhum hospital de campanha. A única coisa que fizeram foi levar as pessoas para um estádio, que acabou por não aguentar, e depois para um estádio maior».

Fernando Nobre, presidente da AMI, em declarações à SIC, recordou que na Holanda, o ano passado, quando se temeu a ruptura de alguns dos diques, cerca de 300 mil pessoas foram evacuadas. Este era «mais ou menos o mesmo número de pessoas que teriam de ser retiradas de Nova Orleães» antes da passagem do Katrina. Recorde-se que a classe média e alta da cidade escapou à fúria do furacão na véspera de este devastar o território. Os mais pobres, sem possibilidade de usarem o automóvel, acabaram por ficar «presos» na cidade, prestes a ser varrida pelo furacão.

Tendo em conta a forma como o Katrina varreu Nova Orleães, deixando cerca de 1,2 milhões de desalojados e milhares de mortos, Fernando Nobre afirma que não percebe porque o «mayor» ainda não foi «responsabilizado» pelas dimensões que a catástrofe tomou, tendo em conta que o alerta de evacuação da cidade foi dado com 24 horas de antecedência sobre a passagem do Katrina.

Mas as críticas não apontam apenas problemas na prevenção. Paulo Cavaleiro não tem dúvidas: «Creio que a ajuda está a tardar demasiado». As pessoas foram deixadas à sua sorte, sentem-se abandonadas. Eles estão habituados a lidar com furacões, mas não estão habituados a lidar com situações de caos como esta».

Duarte Caldeira, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, está surpreendido não só com a falta de prevenção, mas também com a falta de pessoal sanitário. «Não se vêem bombeiros ou ajuda humanitária. Não há uma estrutura organizativa que permita ajudar as vítimas que continuam a morrer. Tudo isto depois de terem passado quatro dias».

O técnico português salienta que as falhas estão na atenuação dos efeitos da catástofre e na resposta. «Não sabemos ainda o que vai ser de todas aquelas pessoas que não têm para onde ir. Onde vão ser realojadas?», assinalou. Duarte Caldeira aponta ainda o dedo à falta de meios e de coordenação entre as autoridades.
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