Quais os sintomas? Como se transmite? Pode chegar à Europa? Tudo o que se sabe sobre o vírus Marburg - TVI

Quais os sintomas? Como se transmite? Pode chegar à Europa? Tudo o que se sabe sobre o vírus Marburg

  • Cláudia Évora
  • Notícia atualizada às 09:33 de dia 22 com resposta da DGS
  • 20 jul 2022, 18:00
Vírus de Marburg (Getty Images)

A CNN Portugal procurou responder às perguntas mais frequentes sobre um vírus que pode conhecer novos desenvolvimentos nesta quinta-feira, no briefing da OMS

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) está em alerta, depois de confirmados dois casos de infeção pelo vírus Marburg no Gana, da mesma família do Ébola, altamente contagioso, que resultaram em outras tantas mortes no país.

As duas vítimas eram dois homens, de 26 e 51 anos, sem qualquer relação, na região de Ashanti, no sul do país. Como foram, entretanto, identificados e comunicados à OMS dezenas de contactos de risco, o Ministério de Saúde do Gana decidiu isolar a região.  

Neste momento, o objetivo é segregar ao máximo os contactos de risco, mitigar a propagação do vírus e evitar surtos. A OMS também já tem especialistas no local para ajudar na monitorização. 

A CNN Portugal reuniu a informação disponível sobre este vírus e falou com um especialista em saúde pública para tentar responder às perguntas mais frequentes sobre um vírus que pode conhecer novos desenvolvimentos nesta quinta-feira, no briefing da OMS. 

Que vírus é este?

Com base na definição da OMS e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), Marburg é uma febre hemorrágica viral rara, altamente contagiosa quando surgem sintomas e tem um período de incubação entre cinco a 10 dias, que pode variar entre os três e os 21 dias.

A taxa de mortalidade varia entre os 24% e os 80%, dependendo da estirpe do vírus e da forma como os casos são geridos. De acordo com a OMS, a morte costuma ocorrer oito a nove dias após o doente ter contraído o vírus. 

Quais são os sintomas? 

Os sintomas começam de forma "abrupta" e podem passar por dor de cabeça intensa, febre alta (39 ºC/40 ºC), dores musculares, calafrios, diarreia, náuseas, vómitos com sangue e hemorragias, muitas delas graves. Os sintomas gastrointestinais surgem nos primeiros dois a cinco dias.

Também já surgiram casos com erupção cutânea, sem comichão, na zona do peito, barriga e costas. 

Os dois homens que morreram no Gana apresentaram como sintomas diarreia, febre, náuseas e vómitos. Um deles morreu no dia em que deu entrada no hospital e o outro morreu no dia seguinte. 

A intensidade ou força dos sintomas aumenta a partir do quinta ou sétimo dia de infeção. 

Como se transmite?

Sabe-se que são morcegos-da-fruta - Rousettus aegyptiacus - os responsáveis pela transmissão do vírus aos humanos, mais concretamente aqueles que trabalham em minas ou cavernas onde habita esta espécie. 

Já entre humanos o vírus transmite-se através de fluídos corporais - sangue, saliva ou urina -, superfícies e materiais infetados, como roupa, lençóis ou equipamento médico. Não é uma doença que se transmite pelo ar. 

Morcegos-da-fruta (GettyImages)

Quando foi identificado? 

Apesar de estar agora na ordem do dia, o vírus Marburg não é novo. Os primeiros casos surgiram na Europa em 1967. Talvez tenha ganhado agora mais notoriedade por causa da pandemia de covid-19 e também com a subida do número de casos de Monkeypox.

Naquela altura surgiram dois grandes surtos em Marburgo e Frankfurt, na Alemanha, e em Belgrado, na Sérvia. Morreram pelo menos sete pessoas. Sabe-se também que os primeiros casos de pessoas infetadas surgiram depois de terem estado em contacto com macacos-verdes africanos importados do Uganda. 

Também houve um grande surto em Angola, em 2005, que matou mais de 200 pessoas. 

Onde foi detetado? 

Com os casos agora detetados no Gana, é a segunda vez que o Marburg surge na África Ocidental. O primeiro caso foi identificado na Guiné no ano passado. 

Desta vez, surgiram na região de Ashanti. Já foram identificados mais de 90 contactos de risco entre profissionais de saúde e membros da comunidade. Foram todos comunicados à OMS e estão a ser monitorizados. Os países vizinhos também já foram contactados pela OMS para estarem em alerta. 

Ao longo do tempo, foram relatados casos noutros países africanos, como Uganda, República Democrática do Congo, Quénia, África do Sul, Zimbábue e Angola. 

Apesar de não ser nativo de outros continentes, os turistas que visitem algum destes países africanos devem estar atentos, principalmente se forem a grutas e cavernas. Em 2008, por exemplo, uma turista holandesa morreu depois de ter visitado o Uganda. Um outro turista americano contraiu o vírus numa viagem ao Uganda nesse mesmo ano, mas conseguiu recuperar. 

Gruta de morcegos no Parque Nacinal Rainha Isabel, no Uganda (GettyImages)

Há perigo de voltar à Europa? E a Portugal?

Na ótica do presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Gustavo Tato Borges, existe essa possibilidade através dos turistas que possam visitar estes países. 

"Este vírus, como tantos outros, pode circular de um lado para o outro com a mobilidade que as pessoas têm. O facto de termos uma doença em África não significa que não possa chegar ao resto do mundo", explicou à CNN Portugal. 

No caso específico de Portugal, o médico de Saúde Pública acredita que a Direção-Geral da Saúde (DGS) já tenha "um plano de contingência pronto a atuar com medidas para estes casos e para doentes com o vírus". Tato Borges disse ainda que poderia ser, por exemplo, o mesmo plano de contingência que foi aplicado com o Ébola, uma vez que se trata de doenças semelhantes. 

A CNN Portugal questionou a DGS sobre se tem, de facto, esse plano de contingência preparado. Na resposta, a autoridade de saúde explicou que tem desde 2014 um plano para o Ébola - e um site dedicado https://www.dgs.pt/ebola.aspx - e que em 2019 esse plano foi "reativado numa contextualização de febres hemorrágicas virais, passando a incluir a abordagem de prevenção e controlo não só do Ébola, como também da Febre de Crimeia-Congo e Febre de Marburg". A DGS não confirma se tem ou não um plano de contingência preparado, dizendo apenas que "esta abordagem integrada está a ser atualizada". 

Que cuidados é que os turistas podem ter? 

A resposta a esta pergunta depende da forma como cada turista realiza a sua viagem. Para o especialista em Saúde Pública, a primeira coisa a fazer antes de visitar, neste caso, países africanos é realizar a Consulta do Viajante "que nos ajuda a tomar medidas e a ter cuidados com os riscos". Mas não só.

"Deve olhar para a sua viagem e perceber se esteve exposto à comunidade local, se fez passeios em florestas e em grutas, ou se simplesmente esteve no seu hotel e em ambientes mais turísticos e, por isso, eventualmente mais protegidos."

Feita esta análise, se a sua viagem se integrar no primeiro cenário, "deve estar atento a sintomas e se sentir algum deve iniciar de imediato o acompanhamento da situação". Quando contactar o SNS 24 ou o 122 deve "comunicar essa situação" para que seja aplicado um tratamento diferente, ou seja, para que os profissionais saibam, por exemplo, que têm de utilizar uma ambulância específica e, à chegada ao hospital, saberem que tem de ficar internado com regras de segurança fortes, uma vez que "se trata de uma doença altamente contagiosa e com uma taxa de letalidade elevada". 

Caso a sua viagem se enquadre no segundo cenário, deve ainda assim estar atento a qualquer sinal do corpo. Recorde-se que apesar do vírus ter um período de incubação que pode ser longo, os sintomas surgem de forma abrupta e muito intensa. 

Tem tratamento? 

Não. Até ao dia de hoje não existem vacinas ou tratamentos antivirais aprovados para tratar este vírus. No entanto, os especialistas garantem que a reidratação oral ou intravenosa, a manutenção dos níveis de oxigénio e o uso de medicamentos para sintomas específicos aumentam e muito a taxa de sobrevivência. 

Também há especialistas que defendem o uso dos mesmos medicamentos que são utilizados para combater o Ébola.

O ECDC também confirmou que alguns "tratamentos experimentais" já foram testados em animais, mas nunca em humanos. 

Laboratório (GettyImages)
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