Marés Vivas: Peter Murphy trepou paredes - TVI

Marés Vivas: Peter Murphy trepou paredes

Actuação cheia de energia do ex-vocalista dos Bauhaus

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O saudosismo gótico e pós-punk marcou o primeiro dia do festival Marés Vivas 2008, que teve início esta quinta-feira, em Gaia. Dois antigos pesos-pesados do género, o ex-vocalista dos Bauhaus Peter Murphy, e os Sisters of Mercy, atraíram vários milhares de fãs até ao recinto localizado à beira do rio Douro.

Em ambiente «dos 7 aos 70 anos», o cruzamento de gerações esteve bem patente por entre os festivaleiros. Desde adolescentes «fardadas» ao estilo punk - com t-shirt dos Sex Pistols e pins - até aos góticos vestidos de negro dos pés à cabeça. Pelo meio, os mais velhos reviveram a década de 1980 sem precisar de resgatar a roupa do baú. Até as «tias» e os «tios» dançaram ao som de clássicos como «She's In Parties».

O festival arrancou no pequeno palco secundário, logo à entrada do recinto, e reservado aos artistas nacionais. Os Klepht, do VJ da MTV Diogo Dias, e os Tara Perdida, do ex-Censurados João Ribas, deram as boas-vindas aos visitantes durante o final de tarde.

O palco principal só abriu «portas» pelas 22h00, altura em que os suecos Shout Out Louds se estrearam em concertos em Gaia. O vocalista Adam Olenius recordou o espectáculo no festival Paredes de Coura 2006, «perto do Porto, nas montanhas», para recuperar um tema pouco tocado ao vivo pela banda, «My Friend And The Ink On His Fingers».

Mas foi o novo disco «Our Ill Ways» que recebeu maior atenção no alinhamento; «Tonight I Have To Leave It», a banda sonora da campanha publicitária da Optimus, fechou a actuação do quinteto sueco. O som tímido saído do teclado de Bebban Stenborg não denunciou imediatamente o grande êxito dos Shout Out Louds, mas o público acabou por reconhecer o tema, o único a ser verdadeiramente festejado em massa.

O murmúrio dos Sisters of Mercy

Dois anos após a última passagem pelo Coliseu de Lisboa, os ingleses The Sisters of Mercy regressaram a Portugal para mais uma vez recordarem os três álbuns de estúdio editados, o último dos quais lançado em 1983. A banda liderada pelo vocalista Andrew Eldritch tem realizado digressões esporádicas durante os últimos 20 anos, mas desde então nunca chegou a gravar nenhum disco novo.

O concerto no Marés Vivas ficará na memória pelas piores razões. Problemas técnicos terão afectado tanto o som dos instrumentos - faltou potência para o rock industrial praticado pelos Sisters - como transformaram a voz de Eldritch num murmúrio irritantemente imperceptível.

Embrulhados num espesso nevoeiro artificial, os Sisters of Mercy debitaram tema após tema de forma pouco eficaz, agarrando apenas os fãs acérrimos. O que foi pena, porque com melhores condições sonoras, a reacção do público teria sido bem diferente, especialmente em «Vision Thing», «Dominion/Mother Russia» e «Temple of Love».

Peter Murphy trepou paredes

A expectativa era muita em torno do último concerto da noite. Muitos recordavam o concerto de má memória de Peter Murphy no Pavilhão Municipal de Gaia, em Novembro de 2007, e temiam o pior face à qualidade do som que calhou aos Sisters of Mercy. Porém, o «Senhor Bauhaus» não desapontou os seus fãs e deu espectáculo em palco com uma voz irrepreensível, teatralidade q.b. e energia ilimitada.

Durante cerca de duas horas, Peter Murphy resgatou os momentos mais altos dos anos Bauhaus e da sua carreira a solo, brindando mesmo a assistência com «Hurt», um original dos Nine Inch Nails. Uma pérola interpretada em tom aventureiro, com o cantor de 51 anos a escalar parte da estrutura do fundo do palco, qual Homem-Aranha calvo e de fato preto. Porque velhos são os trapos.

A boa-disposição de Murphy foi uma constante ao longo de todo o concerto. Sorrindo e acenando vezes sem conta para o público, o ex-Bauhaus desdobrou-se ainda em «olás» e «obrigados» na língua de Camões. E assim foi conquistando a audiência, canção a canção, até ao final com «Cuts You Up», hit de 1990.

Esta sexta-feira há mais Marés Vivas e o destaque vai para Tricky e os Prodigy.
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