Sex Pistols sem papas-na-língua em Paredes de Coura - TVI

Sex Pistols sem papas-na-língua em Paredes de Coura

Grandes êxitos e tiradas de Johnny Rotten marcaram concerto a meio-gás

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Três décadas depois de servirem de bandeira ao movimento punk rock britânico, os Sex Pistols estrearam-se em concertos ao vivo em Portugal. O vocalista John Lydon (aka Johnny Rotten), o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock - a formação original da banda, pré-Sid Vicious -, foram a atracção principal do primeiro dia do festival Paredes de Coura 2008.

Ao recinto montado na praia do Rio Tabuão acorreu gente de todas as idades, desde adolescentes que só nasceram quinze anos após a explosão punk, até pais e mães (e avós, por que não?) prontos para recordar os tempos de rebeldia. Afinal não é todos os dias que se pode cantar pela anarquia juntamente com essa personagem única que é Johnny Rotten.

O líder dos Sex Pistols apresentou-se em Paredes de Coura sem papas-na-língua e, tal como o resto da banda, bem longe do look que caracterizou o movimento punk dos anos 1970. Mas, para quem tem acompanhado à distância as sucessivas digressões de regresso aos palcos destes cinquentões Pistols, já não espanta vê-los de roupas largas e sem adereços. E ainda bem, porque a idade não perdoa na barriga...

O espírito subversivo trouxe-o Johnny Rotten nas letras e nos diálogos que teve com o público (deu as boas-vindas com um «good fucking evening») e com o técnico de som («your sound is fucking shit, fix it»).

«Pretty Vacant» e «Seventeen» deram o tiro de partida para um concerto que dividiu opiniões. Ao mesmo tempo que assistimos a um espectáculo quase único - os ícones do punk a tocar clássicos que atravessam gerações - ficamos com a ideia que há qualquer coisa ali que não bate certo, e que talvez a «máquina do tempo» nem sempre funciona com todas as bandas que insistem em manter-se activas.

«Bocas», Alá e reprimendas

De um concerto morno, mas suficiente para alimentar a fome de mosh e crowd surfing de muitos festivaleiros, sobressaíram as tiradas de Johnny Rotten. Dedicou «Liars» a «todas as bandas estúpidas que andam por aí» (quem sabe se em resposta ao incidente com Kele Okereke, dos Bloc Party), tentou convencer o público a louvar Alá (teve mais sorte na vaia geral a George Bush) e criticou duramente a invasão de palco por parte de dois fãs (atitude muito pouco punk, senhor Lydon).

O alinhamento do concerto recuperou a totalidade do único álbum de originais editado, o mítico «Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols», e passou também por algumas versões, caso de «(I'm Not Your) Steppin' Stone», dos Monkees. Sem surpresas, êxitos como «God Save The Queen» (público cantou em coro «no future for you») e «Anarchy In The UK» (a canção da noite) foram os mais celebrados pelo público.

Querendo, provavelmente, contrariar o óbvio, os Sex Pistols não deram por terminada a sua actuação com «Anarchy» e voltaram para um segundo encore. No regresso ao palco, a banda revelou-se fã dos space rockers Hawkwind, interpretando «Silver Machine», e fechou com «Road Runner» dos protopunkers Modern Lovers. Na despedida, Johnny Rotten deixou o aviso: «Para o ano, candidato-me às eleições». A julgar pela reacção do público ao «obrigado» proferido em português correcto pelo cantor, a presidência já está garantida. Não será certamente o melhor concerto no final dos quatro dias de festival, mas amanhã os fãs portugueses já poderão dizer com orgulho: «Eu vi os Sex Pistols ao vivo!».

Chuva ficou de fora

Neste primeiro dia de concertos, em que a chuva só deu um ar da sua graça durante a manhã, os suecos Mando Diao, os californianos The Bellrays, os portuenses X-Wife e os conimbrigenses Bunnyranch apresentaram no Palco Heineken cores distintas do rock que pontifica em Paredes de Coura.

Já para além das 2h30 foi a vez dos norte-americanos The Mae-Shi e do catalão DJ Amable prolongarem a festa até de madrugada no Palco After-Hours.

Os horários do 2º dia de festival.
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