Os produtos sem glúten são mesmo mais saudáveis? Não fique intolerante com tanta dúvida - TVI

Os produtos sem glúten são mesmo mais saudáveis? Não fique intolerante com tanta dúvida

Glúten (Pexels)

Viraram moda e têm fama de saudáveis. Mas será que é mesmo assim? Hora de falar das versões sem glúten dos alimentos, que tomaram conta das prateleiras dos supermercados

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Tem aquela amiga que encheu a despensa de produtos sem glúten? Pão, bolachas, massas… Decidiu tirar o glúten para sempre da vida dela. Tanto ouviu falar mal dele, com fama de problemático.

Mas, e se a sua amiga não for celíaca ou tiver intolerância a esta proteína que está presente em cereais como o trigo, centeio ou cevada, será que foi uma separação acertada? Estará a fazer bem? Se ela foi atrás da moda e simplesmente acha que é mais saudável, pode mandar-lhe este artigo. Está redondamente enganada.

Os alimentos sem glúten não são mais saudáveis, por si só, do que as versões com glúten. E não somos nós que o dizemos, são as três especialistas que chamámos para este artigo: Rita Ribeiro, nutricionista da Fisiogaspar; Ana Rita Lemos, nutricionista no Hospital Lusíadas Lisboa e Nicole Setton, “coach” nutricional da Clínica Pilares da Saúde.

Uma ‘mentira’ pouco saudável

“O facto de um produto alimentar não conter glúten na sua composição não significa, obrigatoriamente, que será um alimento mais saudável”, resume Rita Ribeiro.

Ainda não está convencido? Então Ana Rita Lemos atesta: “Contrariamente ao que se possa pensar, os produtos sem glúten não são, na maioria dos casos, mais saudáveis do que os produtos convencionais com glúten”.

E porquê? Porque a maioria dos equivalentes sem glúten apresenta níveis de açúcar e gordura mais elevados do que os produtos alimentares convencionais com glúten. E isso tem, obviamente, um maior valor energético. E já sabe a lengalenga: mais calorias, mais risco de engordar.

“Os alimentos sem glúten são tendencialmente mais pobres em ferro e em vitaminas do complexo B, que são importantes, por exemplo, para a produção de energia e para a saúde do sistema nervoso”, completa Ana Rita Lemos.

Por isso, aqui vai o conselho de Nicole Setton para si e para aquela amiga que corre o supermercado todo à procura das opções sem glúten: “O mais importante quando vamos escolher um produto é saber entender a lista de ingredientes. Alguns produtos sem glúten podem conter mais açúcar, mais gordura e aditivos químicos, que também são prejudiciais para a saúde”.

(Pexels)

Então, quando devemos optar por produtos sem glúten?

A resposta mais óbvia é: quando tiver doença celíaca, caracterizada pela permanente sensibilidade ao glúten, com inflamação da mucosa intestinal.

Mas não fica por aqui. As especialistas da área da nutrição aconselham os produtos sem glúten para casos de sensibilidade não celíaca, que é “uma resposta à ingestão de glúten com sintomas parecidos à doença celíaca, mas habitualmente não se verificam marcadores genéticos e alterações serológicas e histológicas características da doença celíaca”, explica Ana Rita Lemos.

Outra recomendação surge para aqueles que, ao ingerir alimentos com glúten, se apercebem de que existe algum tipo de desconforto intestinal. Em todos os casos, não há nada como consultar um especialista, a ver se não é algo que precisa de uma solução mais profunda do que uma mera substituição na despensa.

Nos outros casos, segundo Rita Ribeiro, o resumo é simples: “não existe superioridade, a nível nutricional ou de saúde, nos alimentos sem glúten para quem não tenha problemas com a sua tolerância ou digestão”.

“Muitas pessoas desconhecem a ligação entre o glúten e a inflamação e sofrem muitas vezes com cansaço extremo e problemas digestivos, bem como dores nas articulações. Caso apresentem estes sintomas, poderá ser melhor retirar o glúten para reduzir a resposta inflamatória”, completa Nicole Setton.

(Pexels)

Último argumento: poupar (na carteira e nos mitos)

Eliminar alimentos ou nutrientes da sua vida, sem que haja uma doença ou outros motivos clínicos, nunca é uma boa ideia. A diversidade é a chave de uma dieta saudável.

Mas, se o seu organismo não tem qualquer obstáculo ao glúten, então pense na sua carteira. “Não será uma escolha superior, em termos nutricionais ou de saúde. Este tipo de produtos, regra geral, também tende a ser mais dispendiosos que os produtos alimentares equiparáveis com glúten”, diz Rita Ribeiro.

“Sem diagnóstico de doença celíaca ou sensibilidade não celíaca ao glúten, consumir produtos sem glúten não acrescenta nada e a ideia de que é mais saudável ou emagrece, não passa de um mito”, corrobora Ana Rita Lemos.

 

Nota: Título corrigido às 15:25 para substituir "produtos com glúten" por "produtos sem glúten"

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