"Se o PS estiver disponível para abandonar esta ideia de cortar 1.600 milhões nas pensões, abandonar o corte na TSU e abandonar esta ideia do regime compensatório [que, segundo o BE, facilita os despedimentos], no dia 5 de outubro [um dia depois das eleições] cá estarei para conversar sobre um governo que possa salvar o país"
Desafio lançado no final do debate. Antes de Costa responder, Catarina Martins antecipou as consequências do sim e do não:
António Costa disse que "a governação não é algo abstrato, é algo concreto, na vida das pessoas". E defendeu as suas bandeiras: essa governação passa pela "criação de emprego, políticas concentradas no emprego jovem e de longa duração". E concretizou um pouco mais a resposta ao desafio, não dizendo sim nem não, mas acabando por declinar, mostrando aqueles que, para o PS, são pontos de rutura com o Bloco:"Se me disser que sim ou que vai pensar, já valeu a pena o nosso encontro. Se me disser que não, os portugueses vão saber que pretende telefonar a Rui Rio ou a Paulo Portas, que os pensionistas vão perder dinheiro e que o corte da TSU vai significar pensões mais baixar no futuro"
"O que é preciso é que haja esquerda capaz de governar, sem fantasias de nacionalização, e sem estar dependente de uma rutura com euro"
Essas foram as derradeiras palavras do frente-a-frente, mas antes António Costa já tinha lembrado que o PS deixou "muito claro" no último congresso do PS que rejeita o "arco da governabilidade" e que defende que todos os partidos podem ter acesso ao governo.
Fez questão de recordar o passado, ao dizer que foi o "único político" que fez um acordo com o Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, mas citou a "traição" do Bloco a Sá Fernandes, quando lhe retirou confiança política no exercício das suas funções de vereador.
"Estou a olhar para os olhos da Catarina Martins (...) À partida não excluo ninguém, tenho é pouca esperança. O problema é que eu olho para o programa do BE e vejo, na página 7, nacionalização da banca, na página 53, nacionalizar a Galp, a EDP e a REN. O que eu pergunto é quanto é que custa? Onde é que estão as contas para isto? Vai buscar onde? À renegociação da dívida?"
Catarina Martins disse que a solução é ir buscar esse dinheiro aos dividendos das empresas, porque permitem, defendeu, recuperar essas empresas para a esfera pública.
E teve resposta pronta para o líder do PS quando Costa interrompeu a líder do Bloco ironizando que ia comprar empresas com o dinheiro dessas empresas. "A Fosun comprou a fidelidade com dinheiro da Didelidade. Se calhar o Estado podia aprender com os chineses um bocadinho".
Quanto a Sá Fernandes, criticou o líder socialista por trazer para cima da mesa algo que aconteceu "há oito anos".
Pensões e TSU
Antes, o debate, cordial, já tinha ficado mais aceso com o tema da Segurança Social, que mais tempo foi discutido. É que conforme está a proposta do PS para a Taxa Social Única, o Bloco de Esquerda não vê possibilidade de viabilizar essa medida no Parlamento. Catarina Martins levou as contas refletidas no programa eleitoral do PS para o debate e constatou duas coisas: os pensionistas vão perder dinheiro e os trabalhadores, ao descontarem menos TSU, vão receber pensões mais baixas no fururo.
"Não só pensionistas vão perder 1.600 milhões, como a forma que têm de repor rendimentos do trabalho não é obrigando a distribuição pelo país todo, mas um empréstimo de quem trabalha, ao seu co-pensionista. O PS quer que as pessoas peçam emprestado a si próprias no futuro. Pago menos agora, o que quer dizer que vou ter pensão mais baixa no futuro. O estado social deve ser inter-geracional, nisso estamos de acordo, mas baixar a TSU agora é financiar pensões mais baixas no futuro"
António Costa rejeitou esse cenário, defendendo que o PS se compromete a aumentar os rendimentos das famílias portuguesas de várias formas, com o complemento solidário para idosos, e o que defende é uma diversificação de fontes de financiamento da Segurança Social.
"O peso dos salários tem vindo a diminuir no peso da riqueza produzida. O que propomos por uma questão de facilidade, sem criar um novo imposto, que parte da receita do IRC seja alocada à Segurança Social, para que contribuam não só com massa salarial, mas também com os lucros", explicou.
Catarina Martins até fez questão de frisar que PS e Bloco estão de acordo no princípio de que as pensões são "sagradas", têm de ser "honradas", mas o estudo sobre o impacto financeiro das medidas do PS, feito pelo próprio PS, fica aquém disso."Manteremos congelamentos das pensões porque é necessário assegurar sustentabilidade do sistema. Seria atrevido e não seria sério comprometer-me hoje com aumento que posso não vir a fazer. Certo é acabar com cortes e não haver novos cortes, atualização das pensões mínimas e congelar as demais pensões, sendo que estamos num quadro de níveis de inflação baixos"
"O problema é que olhando para as contas, os pensionistas continuam a ser o porquinho mealheiro dos saldos orçamentais. Onde se vai buscar mais dinheiro? Ao congelamento das pensões... Quando chega a hora de se cumprir, os pensionistas sabem que vão ter menos 1600 milhões de euros nas pensões", atirou. E voltou a detalhar a poupança por ano que o PS tem nas suas contas".
Catarina Martins exemplificou o que, para o BE, está em causa nesta proposta do PS: «Depois de terem perdido sete meses de salário nestes quatro anos, se estão disponíveis a perder mais um salário, há pensões que nem sequer são pensões mínimas, que são tão modestas, que as pessoas não podem ter vida com dignidade".
Costa respondeu que o PS quer fazer as coisas com "conta, peso e medida" e tentou virar o tabuleiro do debate para outro assunto, dizendo que o BE é "dos últimos partidos que devia poder falar em materia de sustentabilidade das suas medidas", uma vez que, defendeu, o seu programa "assenta num pressuposto fundamental: por via unilateral obtém a renegociação da dívida".
Despedimentos
Outro ponto de divergência foi a via conciliatória proposto pelo PS para os contratos de trabalho. O Bloco classifica-o como um "regime compensatório para o despedimento", ou seja, a "flexibilização dos despedimentos".
"Como há muitos contratos a prazo vamos tornar todos a prazo. É verdadeiramente absurdo e vai de encontro à direita com rigidez do mercado de trabalho", afirmou Catarina Martins. António Costa recusou essa ideia, voltando a defender que o que está em causa é a possibilidade das partes poderem acordar acima dos mínimos da lei, poupando-se a conflitos judiciais.