«Mais depressa se apanha um acariciado do que um coxo» - TVI

«Mais depressa se apanha um acariciado do que um coxo»

Ana Gomes

Ana Gomes não ficou surpreendida com a cumplicidade de Luís Amado no caso dos voos da CIA

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A eurodeputada Ana Gomes afirmou esta quarta-feira não ter ficado surpreendida com um telegrama revelado pela Wikileaks que refere que Washington solicitou a Portugal autorização para o repatriamento de detidos de Guantanamo pelo território nacional.

«Mais depressa se apanha um acariciado do que um coxo», disse à Lusa a eurodeputada, reagindo ao conteúdo de um telegrama da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa sobre o repatriamento de prisioneiros de Guantanamo, suspeitos de terrorismo.

«O telegrama não me surpreende. Não tenho a mais pequena dúvida de que os Estados Unidos, como aliás a (ex) secretária de Estado Condoleeza Rice frisou várias vezes, pediram e obtiveram autorização dos Governos europeus, incluindo o português, para o transporte de prisioneiros, em violação de todas as regras do direito internacional», afirmou Ana Gomes.

No telegrama divulgado esta quarta-feira, datado de 20 de Outubro 2006 e classificado «secreto», o autor refere ter sido feito um pedido a Portugal para «repatriar detidos de Guantanamo através de Portugal».

Na análise, o autor considera que é «vantajoso» para os Estados Unidos «continuar a acariciá-lo muito» (a Luis Amado) devido ao «delicado equilíbrio» que o ministro está a tentar fazer neste tema.

O texto diz que o pedido a Lisboa estava a ser «complicado» pela pressão da oposição e do Parlamento Europeu sobre o Governo português.

«Apesar da investigação do Governo ter refutado estas alegações, a saga continua devido à pressão continuada da oposição e do Parlamento Europeu. Esta pressão complica o pedido dos Estados Unidos para repatriar detidos de Guantanamo através de Portugal», lê-se no telegrama.

O telegrama, o primeiro revelado pela Wikileaks de um lote de 722 com origem na embaixada em Lisboa faz parte dos 250 mil telegramas diplomáticos norte-americanos que o site começou esta semana a revelar.

Houve «vários tipos de voo», sendo que «todos foram ilegais»

Ana Gomes recordou que a investigação levada a cabo pelo Parlamento Europeu sobre este período abrangeu «vários tipos de voo» com «a maioria a serem militares» mas também «civis operados por empresas testa de ferro da CIA», sendo que «todos foram ilegais».

«Houve vários voos, de e para Guantamo, que foram ilegais porque transportavam a bordo pessoas que estavam detidas ilegalmente tanto em Guantanamo como noutras cadeias secretas em vários países», disse Ana Gomes.

A eurodeputada reconhece que nunca ficou «clarificado» se os voos que passaram por Portugal com prisioneiros ilegais foram autorizados por Portugal sabendo que iam presos a bordo ou autorizados sem esse conhecimento.

«Pelas informações que obtive, cheguei à conclusão que esses voos, e como os americanos disseram, passaram com perfeito conhecimento das autoridades portuguesas, transportando prisioneiros de e para Guantanamo e outros locais», afirmou.
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