«Não estamos imunes a uma revolta em Portugal» - TVI

«Não estamos imunes a uma revolta em Portugal»

Mário Soares

Mário Soares avisa que falta de transparência pode gerar clima de rebelião

O ex-Presidente da República Mário Soares advertiu, terça-feira à noite, que sem transparência no País, Portugal poderá conhecer a prazo um clima de revolta e acontecimentos de gravidade.

«Espero que se saiba o que se passou no BPP e no BPN. Tudo tem de ser esclarecido. É preciso transparência no País, senão é impossível haver confiança. Isso gera revolta e não estamos imunes que isso aconteça em Portugal», declarou.

Mário Soares acrescentou que «é preciso que o País saiba o que se passou» com aqueles dois bancos, «porque, no fundo, o dinheiro dos contribuintes está ali».«É preciso que digam por que razão gastaram nisso e não em outras coisas. É preciso que digam o que esperam daquilo e quem dirige aquilo. Eu não sei nada disso e ninguém sabe», disse.

Tratado de Lisboa está desactualizado

O ex-Presidente da República considerou que o Tratado de Lisboa da União Europeia está «desactualizado» com a presente crise e lamentou que a maioria dos socialistas em Portugal se tenha deixado «colonizar» pelo neoliberalismo.

Soares começou por defender que o Tratado de Lisboa da UE «não pode ficar esquecido», mas «teremos de reconhecer que, nestes últimos meses de crise, perdeu actualidade. Os problemas e os desafios de hoje são outros e a forma de os encarar também é diferente», sustentou.

Mais tarde, adiantou que os aspectos desactualizados no Tratado de Lisboa são aqueles que ainda têm «um cunho neoliberal».

O fundador do PS deixou também críticas aos dirigentes socialistas que se deixaram aliciar pela «Terceira Via» do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, defendendo um regresso aos valores dos socialistas das décadas anteriores.

«Indirectas» ao caso Freeport

O ex-Presidente da República referiu-se, indirectamente, ao caso Freeport, dizendo que há casos na justiça que devem ser «rapidamente esclarecidos» e que há pessoas com dúvidas sobre o sistema judicial.

«É preciso esclarecer o que se passa, porque há muitas pessoas com dúvidas sobre a justiça», declarou, depois de interrogado sobre recentes episódios na justiça portuguesa relacionados com o caso Freeport.

Sem comentar o caso directamente, o ex-Presidente da República aludiu aos «muitos processos que começaram e não acabaram».

«Há investigações e há fugas da justiça que não se sabe de onde vieram. Tudo isto são questões importantes que devem ser esclarecidas. Acho que tudo deve ser rapidamente esclarecido, mas quem sou eu para pedir isso?», comentou o ex-chefe de Estado.
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