«Sempre houve sacos azuis», diz Isaltino - TVI

«Sempre houve sacos azuis», diz Isaltino

Isaltino Morais (arquivo)

Autarca diz que «os partidos fecham as portas aos melhores» e mostra esperança em Ferreira Leite. Sobre as Legislativas, diz que «aquilo que se vislumbra é a ingovernabilidade»

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«Até 2001, sempre houve sacos azuis» nos partidos, diz Isaltino Morais em entrevista ao «I». «Nesta perspectiva: gastava-se muito mais dinheiro do que aquilo que correspondia à realidade. Isso é óbvio!», adianta o autarca.

Questionado sobre se considera que Cavaco fez bem em vetar a lei de financiamento dos partidos, Isaltino afirma: «Sou suspeito nessa matéria, porque está a decorrer um processo judicial onde afirmei ter ficado com algumas sobras de campanhas eleitorais. Mas digo-lhe que, em termos autárquicos, até 2001, o limite da despesa para uma câmara com a dimensão de Oeiras era de 100 mil euros. Hoje esse limite está nos 400 mil».

«Já em 1991, na sequência das legislativas, o Dr. Jorge Sampaio afirmava não ter cumprido a lei. Dizia ter gasto 20 quando a lei só lhe permitia gastar dez. Era nítido que os partidos apresentavam as contas tendo em conta os limites da despesa. Bastava contar os outdoors para perceber que já se tinha ultrapassado esse limite», conta Isaltino.

O autarca de Oeiras critica ainda o funcionamento dos partidos, considerando que afastam os melhores. «Os partidos estão nivelados por baixo. Quando entra alguém que tem qualidade é logo visto como um competidor». «Mal se entra no partido, vão logo querer saber quem é que assinou a ficha. O raciocínio é logo "este tipo quer tomar conta do partido"». «Hoje os partidos não escolhem os melhores porque os melhores não estão lá porque lhes fecham as portas».

Ainda não tomei a decisão em quem votar nas eleições

Isaltino Morais afirma que ainda não tomou a decisão sobre em quem votar nas Legislativas e afirma que «temos umas eleições à porta e aquilo que se vislumbra é a ingovernabilidade. Nenhum partido vai ter maioria absoluta».

Questionado sobre se Manuela Ferreira Leite é a líder de que o país precisa, Isaltino considera que «precisamos é de um primeiro-ministro que não pense como os candidatos à Câmara de Lisboa: mal são eleitos já pensam ser candidatos a Presidente da República. Precisamos de um primeiro-ministro que saiba planear a longo prazo e coordenar os ministérios».

«Tenho muita estima pela Dra. Ferreira Leite e acho que está a surpreender. Houve um grupo de pessoas que, com alguma cobardia e sentido de oportunismo, tinham muita vontade de liderar o partido. Mas como José Sócrates estava na mó de cima, não tiveram coragem de avançar. Não quiseram ir fazer o frete à espera que Sócrates caísse. Queriam esperar pelo momento para depois sacudirem a líder. A surpresa, hoje, é que é ela quem os sacode», disse.

E quem são eles? «Alguns dos que a apoiaram. E que pensavam que a sua liderança seria sol de pouca dura. A surpresa é que Ferreira Leite escolheu quem quis - e não quem eles queriam - para o Parlamento Europeu, e ganhou. É curioso: os que a criticavam começam a dizer bem dela e os que a apoiavam estão na reserva».

Um amigo não faz o que Marques Mendes fez

Isaltino diz que não guarda rancor pela maneira como saiu do PSD, mas revela que teve «algumas desilusões mas isso faz parte do processo de endurance». Sobre Marques Mendes afirma que Há muita gente que não entende o que se passou» e revela que também não entende. «A amizade é um bem absoluto: é-se amigo, ou não. Não o posso considerar meu amigo. Um amigo não faz o que ele fez», disse.

«Não sou um político profissional», diz Isaltino Morais. «Sou um presidente de câmara e magistrado do Ministério Público. Não me considero um político profissional porque um presidente de câmara acaba por ser gestor, assistente social, confessor, padre...»

Sobre o julgamento, diz apenas que teve oportunidade de mostrar que sempre teve razão. E diz que o episódio que mais o marcou, pela negativa é o dia das buscas. «Às 6h45 batem violentamente à porta cinco ou seis pessoas. Entram sem pedir licença e devassam tudo. Até cartas pessoais foram lidas. Senti-me diminuído, fragilizado. Senti que não valia nada. Nunca se esquece [pausa]... é uma experiência traumatizante».
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