Nem à esquerda, nem à direita. A moção de Paulo Rangel fecha a porta a coligações pós-eleitorais com todas as “forças políticas radicais”, de qualquer lado do espectro político. Também rejeita a solução de bloco central, mesmo num horizonte de dois anos. Mas não fala de outras soluções que incluam o PS.
Na moção de estratégia global que o eurodeputado vai levar ao congresso do PSD pode ler-se que o partido “deve recusar a solução de bloco central ainda que de meia-legislatura”, e espera uma “vitória em linha com a sua vocação maioritária''.
São cinco parágrafos, divulgados pelo Expresso, e que a CNN Portugal também teve acesso, a apostar numa maioria clara: a vocação maioritária do PSD traduz-se “preferencialmente na obtenção de uma maioria absoluta, ou na formação de uma maioria estável que sustente um governo com o horizonte de legislatura''.
A pequena parte conhecida da moção nada diz sobre outro cenário possível, ou seja, o que faz no caso de precisar de entendimentos com o PS para governar, ou se os socialistas precisarem do PSD para uma maioria estável, capaz de garantir o cumprimento da legislatura, como defende Paulo Rangel. Quanto a coligações pré-eleitorais, são afastadas em toda a linha, defendendo que o PSD deve apresentar-se com listas próprias às legislativas antecipadas de 2022.
A citação de Sá Carneiro (que nunca falta) e a aposta nos descontentes
A estratégia eleitoral arranca com a definição daquilo que o PSD pretende ser de 30 de janeiro em diante: “O grande partido popular nacional, que se reencontre com os Portugueses, incluindo aqueles que deixaram de confiar no PSD em favor de outros partidos mais recentes ou, simplesmente, da abstenção”.
Chega e Iniciativa Liberal não servem, parece avisar Paulo Rangel, e evoca-se Francisco Sá Carneiro para apelar ao voto desses portugueses que não votam:
"O nosso Partido não se pode dirigir apenas aos sociais-democratas, tem de se dirigir a todos os portugueses, e entre eles, aos descontentes”.
O espectro de Rui Rio e o que ele andou para aqui chegar
Ao centro. É aí que o atual líder do PSD sempre disse que se ganham eleições e “ninguém esperava que agora mudasse”, como refere à TVI uma fonte próxima.
A moção de Rui Rio sublinha o contexto de elevado risco em que se realizam as próximas eleições legislativas e antecipa um cenário de forte contestação e de protestos nas ruas:
“Uma crise social que se instalou durante a pandemia e que poderá refletir-se em movimentos sociais de protesto”.
Um cenário, avisa ainda, que pode ser potencialmente agravado com os 9 meses de indefinição de políticas resultantes da dissolução do parlamento, e ainda com a perspectiva de um recrudescimento da pandemia.
A conclusão está no parágrafo seguinte do documento, onde se lê que “as próximas eleições decidir-se-ão ao centro do espetro político-partidário. É esse centro político que determinará qual das opções vingará: ou a continuidade das políticas de esquerda (...), ou a mudança para uma política de libertação da economia e da sociedade portuguesas de forma a retomar um crescimento mais rápido(...)”.
O texto critica a retórica da esquerda sobre as desigualdades sociais, e aproveita o ensejo para atacar o adversário interno, sublinhando que “não a poderemos substituir pela retórica alternativa da mobilidade social'', uma das bandeiras de Paulo Rangel. “Não há mobilidade social sem crescimento e desenvolvimento económico'', sintetiza fonte do núcleo próximo de Rui Rio.
Prioridades não mudam, resultados são “incontornáveis”
Em relação à estratégia que há 2 anos levou a congresso, Rui Rio não terá grande novidade, as diferenças fundamentais estão na ordem em que se elencam as prioridades. Há uma “reorientação dos objetivos”, dizem à TVI, justificando que “naquilo que correu bem só há que dar continuidade”.
Há seis grandes objetivos definidos, que incluem os desafios da demografia, e as reformas da justiça e do sistema político, desde sempre caras ao líder atual dos social-democratas.
O texto da moção começa, aliás, por justificar que “consubstancia a continuidade de uma opção estratégica feita, apresentada, debatida e maioritariamente sufragada nos últimos quatro anos por dois Congressos Nacionais e duas eleições diretas do atual Presidente da Comissão Política Nacional, Rui Rio”, para concluir que “os resultados políticos são incontornáveis".
Aí elencam-se as vitórias obtidas nas eleições regionais da Madeira, nos Açores, no apoio a Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais e, por último, o resultado nas eleições autárquicas de setembro passado, onde se destaca a conquista da câmara de Lisboa, pelo seu simbolismo.
Resultados que, segundo a moção, fazem “descolar uma parte significativa do eleitorado que havia dado a vitória ao Partido Socialista em 2015 e em 2019”.