Reportagem: «Cavaco escuta, o povo está em luta» - TVI

Reportagem: «Cavaco escuta, o povo está em luta»

Milhares marcaram presença junto ao Palácio de Belém para reafirmarem o seu descontentamento com o rumo do país

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Oito horas separaram o entoar calmo de «Acordai» e os gritos de revolta de «Demissão» e «Gatunos». Oito horas separaram o início e o fim da reunião do Conselho de Estado no Palácio de Belém, enquanto milhares de pessoas manifestavam a sua indignação no exterior. Depois do milhão de pessoas que saiu à rua a 15 de setembro, nesta sexta-feira à noite terão estado presentes cerca de vinte mil nos jardins da Praça Afonso de Albuquerque, em Lisboa.

Cantou-se «Acordai», mas também «Grândola Vila Morena» (com a presença do ex-capitão de Abril Vasco Lourenço) e o hino nacional, para além de muitas palavras de ordem que serviram para extrapolar o sentimento desta gente, que não se cansa de protestar contra o estado de coisas no país: «Chega, basta de viver à rasca», «Está na hora, está na hora, de o Governo se ir embora», «Gatunos, Gatunos», «As polícias estão cá fora e os ladrões estão lá dentro», «O povo unido jamais será vencido» ou o ainda mais forte: «Cavaco escuta, o povo está em luta».

O protesto só terminou já depois da uma da manhã, altura em que os conselheiros abandonaram o Palácio de Belém uns atrás dos outros nos seus automóveis de luxo. O Presidente preparou a declaração e foi o último a sair do local, mas de uma porta lateral, não vendo um único manifestante.

Antes, durante as muitas horas de protesto, cinco pessoas foram detidas quando eram guardadas por centenas de policias (da esquadra mais próxima, mas também da Equipa de Intervenção Rápida e da Unidade Especial de Polícia, como a polícia de intervenção e as equipas cinotécnicas). Quatro dos detidos foram-no pelos petardos lançados nomeadamente na zona onde estavam os petardos do Porto de Lisboa e um outro na sequência de desacatos registados às 22h e que levaram a polícia de intervenção a agir.

A vigília estava marcada para as 18h, mas às 16h30 já muitas pessoas estavam em frente ao Palácio de Belém. Um pouco mais longe, junto ao Centro Cultural de Belém, algumas centenas de pessoas juntavam-se para cantar o tema «Acordai», Fernando Lopes-Graça. Foram distribuídas fotocópias de partituras e do poema. Muitos foram os que participaram no protesto pacífico, enquanto todos os outros aplaudiam o gesto singular.

No meio da multidão neste protesto extra-partidário vislumbravam-se cartazes do Bloco de Esquerda e deputados do PCP e o do Bloco. A capitação do descontentamento popular também é uma carta a ser jogada pela oposição

A frases de protesto aumentavam de tom à medida que o tempo passava. Pelas 21h já existe reforço policial e a força de intervenção está pronta a entrar em ação. O tom é de desespero: «Filhos da p...», «Os ladrões estão lá dentro, a polícia está cá fora». Até que uma hora depois surgem os primeiros problemas, com alguns elementos a empurrarem os agentes e o caos a instalar-se, com muitas garrafas de vidro a serem arremessadas, assim como petardos e até ovos.

Entre os agentes da força de intervenção ouve-se o desabafo («p... que pariu»), como quem diz «estava tudo a correr tão bem».Um agente viria a ficar ferido sem gravidade devido ao arremesso de uma pilha.

Foram oito horas de espera, para muitos ainda mais, e com uma resposta lacónica final por parte do Conselho de Estado. Os manifestantes, porém, prometem continur a sua luta, mas desta vez a organização fica a cargo da UGT.
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