Tudo o que precisa de saber sobre o caso das secretas (parte II) - TVI

Tudo o que precisa de saber sobre o caso das secretas (parte II)

Miguel Relvas

Um escândalo que envolve espiões, jornalistas e governantes

Leia a primeira parte do texto

Bernardo Bairrão. O nome do ex-administrador da TVI ainda constou da lista de secretários de Estado entregue a Cavaco Silva, mas, segundo o «Expresso», foi afastado à última da hora porque Passos Coelho pediu às secretas informações sobre os seus negócios no Brasil e em Angola e não gostou do que viu. O Governo negou tal pedido, através de uma nota assinada por Miguel Relvas.

Maçonaria. Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos e o vice-presidente da Ongoing Rafael Mora partilharam a mesma loja maçónica, a Mozart, assim como Vasco Rato e o ex-deputado do PSD Agostinho Branquinho, que, depois de em 2010 ter questionado membros da Ongoing no âmbito da comissão de inquérito PT/TVI, foi contratado precisamente para esta empresa. Também o atual líder parlamentar Luís Montenegro é um dos «irmãos» da Mozart. Quando o PSD «apagou» do relatório sobre o caso as referências à maçonaria, não foi fácil a Passos Coelho segurá-lo.

O Parlamento. Os deputados chamaram alguns dos protagonistas do caso à Comissão de Assuntos Constitucionais. Silva Carvalho afirmou-se vítima de uma guerra empresarial, Miguel Relvas garantiu primeiro que só o tinha encontrado em ocasiões fortuitas, mas, numa segunda audição, admitiu uma reunião de trabalho. O Conselho de Fiscalização das secretas concluiu que houve fugas de informação dos serviços e indícios com eventual relevância criminal. Foi também do Conselho de Fiscalização que Silva Carvalho quis afastar Teresa Morais, atual secretária de Estado no ministério de Relvas, como demonstrou uma SMS enviada ao vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Paulo Miguel Santos. É ainda no Parlamento que se tem discutido uma eventual mudança nas leis relacionadas com as secretas, nomeadamente o aumento do «período de nojo» entre a saída de um espião e a entrada deste numa empresa privada.

Miguel Relvas. O «Público» adiantou que o ministro dos Assuntos Parlamentares recebeu um e-mail de Silva Carvalho, com um «plano para reformar os serviços de informação», com sugestões de «funcionários da sua confiança» para diretores (João Bicho para diretor do SIED e Luís Neves para diretor do SIS) e de afastamento de outros. O ministro explicou no Parlamento que conheceu Silva Carvalho em 2010, quando era secretário-geral do PSD, e sublinhou que os pedidos do ex-diretor do SIED não tiveram qualquer sucesso, uma vez que o Governo não reformulou os serviços. Os dias seguintes à audição ficaram marcados por várias notícias que notavam as contradições do governante: afinal, tinha tomado um café num hotel de Lisboa com Silva Carvalho e Luís Neves, diretor da Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ, e tinha jantado com Silva Carvalho e Rafael Mora no Algarve, em agosto de 2011, e não era possível ter recebido de Silva Carvalho um «clipping» de «informação aberta» sobre uma visita de Bush ao México, porque a última foi em 2006 e, nessa altura, alegadamente, os dois ainda não se conheciam. Entretanto, sabe-se que o adjunto de Relvas trocou SMS com Silva Carvalho, indiciando uma estratégia para controlar a informação que chegava à imprensa. Adelino Cunha demitiu-se.

As pressões. O Conselho de Redação do «Público» divulgou que a jornalista Maria José Oliveira, que seguia o caso, tinha sido ameaçada por Miguel Relvas. O ministro terá ligado à editora de Política, Leonete Botelho, ameaçando com uma queixa à ERC, um blackout do Governo ao jornal e revelações da vida privada da jornalista na Internet. A conclusão da investigação da ERC deverá ser divulgada esta quarta-feira. Entretanto, o «Público» revelou que o ministro queria contar que a jornalista vivia com um homem de um partido da oposição, uma informação que Maria José Oliveira desmente. A jornalista demitiu-se, por ter perdido a confiança na direção do diário.
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