«Esquerda combativa está órfã de candidatos a Belém» - TVI

«Esquerda combativa está órfã de candidatos a Belém»

Campanha do BE para as legislativas [Catarina Pereira]

Grupo de descontentes ligados ao BE critica opção do partido em apoiar Alegre e não vislumbra alternativas

O apoio da direcção do Bloco de Esquerda a Manuel Alegre nas presidenciais acentuou a discordância de algumas vozes dentro do partido. Tudo porque vêem nesta aliança uma porta aberta a novas aproximações entre o aparelho bloquista e um Governo que dizem «de direita». Na Internet, circula já um documento assinado por vários elementos ligados ao BE, onde o descontentamento é evidente logo no título do texto: «Presidenciais: Estas escolhas não são escolha».

O descontentamento de alguns sectores do BE não é novo. Já há um ano, na VI Convenção, tinha ficado evidente, quando se antevia a possibilidade do apoio do PS a um Alegre mais próximo dos socialistas do que o Alegre de há quatro anos - que se antagonizou com a direcção de Sócrates, ao correr a Belém contra Mário Soares.

Gil Garcia, membro da mesa nacional do BE e subscritor da moção C da convenção de Fevereiro de 2009, explicou esta terça-feira ao tvi24.pt que o manifesto surge de «um sector dentro do BE descontente com decisão do Bloco apoiar Alegre».

Para o ex-dirigente da Frente da Esquerda Revolucionária, o histórico socialista surge como «um candidato do Governo do PS». «É diferente do candidato de há quatro anos, quando era um candidato em ruptura com o Governo de Sócrates».

Gil Garcia diz que essa aproximação de Alegre ao PS ficou evidente na campanha do ano passado, em Coimbra, quando o ex-deputado se juntou a José Sócrates no comício realizado no pavilhão da Académica. Desde essa altura, argumenta, «Alegre tem vindo a colar-se cada vez mais ao Governo».

No manifesto - assinado também por pessoas não ligadas ao partido, entre elas António Louçã, irmão de Francisco Louçã -, as críticas à direcção bloquista são claras. «O BE enfraqueceu a sua posição de combate ao Governo de Sócrates quando se precipitou a apoiar um candidato que agora se desdobra em louvores a esse mesmo Governo», lê-se.

Para os descontentes, a primeira opção para as presidenciais seria o BE apresentar-se com um candidato próprio. A alternativa seria «discutir uma candidatura com o PCP». Mas esta opção é inviável, devido às divergências entre os dois partidos.

«Contra natura»

Descrevendo a candidatura de Fernando Nobre como mergulhada na incerteza de se tratar de uma iniciativa própria do médico ou «empurrada por um Soares ressabiado pelo que lhe fez Alegre há quatro anos», Garcia não vê solução à esquerda para Belém, até porque sobre a do PCP interroga-se sobre se «irá a votos ou não».

A emergência de um candidato que congregasse quem não pretende ver no poder «este PS» materializar-se-ia, por exemplo, com José Mário Branco ou Carvalho da Silva. «Mas estas candidaturas não surgiram», acentuou.

Apesar do descontentamento, o bloquista diz que o objectivo não é a ruptura. Nesta altura, as vozes que se levantam olham já para além das presidenciais, não acreditando que haja um recuo no apoio a Alegre, que surge, agora, como uma espécie de pivô de ligação entre o PS e um BE magnetizado pela esfera do poder. Pelo menos, é este o receio dos descontentes.

«Não queremos que esta aproximação do PS dê lugar a novas aproximações ao PS», alerta Gil Garcia, que vê no desenho de alianças das próximas presidenciais uma «antecâmara da aproximação do BE ao poder». Esse é um cenário que descreve como longe da ideia fundacional do partido. «O BE foi construído como alternativa aos diversos Governos socialistas desde o tempo de Guterres. Isto é contra natura à ideia original».

Sem quem lidere «uma candidatura da esquerda de resistência em relação ao Governo», para Gil Garcia uma coisa é clara nestas presidenciais: «A esquerda combativa, que não se revê nas medidas de austeridade, não tem candidatos nestas eleições presidenciais, está órfã de candidatos»
Continue a ler esta notícia