Passos Coelho: responsabilidade agora é do Governo - TVI

Passos Coelho: responsabilidade agora é do Governo

Líder do PSD diz que o pacote de medidas acordado com o Governo é «razoável» e que se fosse mais restritivo «ninguém acreditava»

Passos Coelho chegou sorridente ao almoço do American Club mas rapidamente assumiu uma pose mais austera, no mesmo tom das medidas que foram decididas com o PS.

Em poucas palavras, Passos Coelho reduziu o acordo a uma troca de apoios: o PSD comprometeu-se a votar medidas de austeridade, o PS concordou em votar o projecto dos sociais-democratas de fiscalização financeira orçamental e a elaboração de relatórios sobre o nível de dívida das empresas públicas. Até porque, diz, «temos tido muita dificuldade em encontrar pontos de entendimento com o Governo».

«A responsabilidade é do Governo e cabe-lhes mostrar que estão à altura. O PSD já deu o seu contributo», disse Passos, acrescentado, ironicamente, que é «um péssimo dançarino».

O PSD tem levantado dúvidas em relação aos prazos das medidas, já que o primeiro-ministro tem falado em aumento de impostos transitórios, enquanto o ministro das Finanças não se compromete com datas. Passos Coelho não quer estabelecer prazos, mas fala em «prazo político que a sociedade impõe». Ainda em relação às medidas anunciadas por PS e PSD, o líder dos sociais-democratas diz que, apesar de não haver garantias nem terem sido feitos estudos, «tudo depende da elasticidade e do comportamento da economia».

Passos sublinha, no entanto, que «o aumento dos transportes públicos faz-me crer que as medidas vão ser cumpridas», até porque «é mais fácil entender as medidas difíceis nesta altura».

Mas, mesmo que seja mais fácil esperar a compreensão do país em situação de crise, «é preciso transmitir a verdadeira situação aos portugueses antes que a resposta pública comece a colapsar», sublinha Passos. E acrescenta que «não podemos iniciar um percurso que leve à revolução social. Não se pode matar o doente com a cura».

Para que o país não arrisque ficar «sem margem de manobra», Passos diz que são precisas reformas estruturais, que não são efectuadas desde o Bloco Central de 1983-1985, quando PS e PSD se coligaram no poder. Isto porque Passos Coelho considera que as medidas já anunciadas são «uma resposta a curto prazo, que não resolve o problema estrutural».

O líder social-democrata quer diminuir a dependência energética do exterior: encontrar alternativas ao petróleo, estimular o mercado interno de forma a torná-lo mais competitivo e racionalizar o uso da energia.

Passos quer também reduzir o peso do Estado em matéria financeira, já que o retorno social dos apoios não o justifica. «É preciso reestruturar para aliviar a economia privada e podermos crescer», diz. É também necessário, de acordo com Passos Coelho, combater os monopólios privados.

Quanto aos grandes investimentos públicos, o líder do PSD explica que não são todos iguais: «Este parlamento fora de prazo tem que rever orçamento, para não pressionar orçamentos futuros». É preciso também criar condições para a captação de investimento externo. «Se os grandes grupos de investimento portugueses não têm dinheiro temos que ir lá fora. Brasil, Angola e certamente Oriente», acrescenta Passos.

Na Justiça, Passos quer uma verdadeira reforma, com uma avaliação correcta e política, já que, diz, «todos sabemos que a actual não vai dar resultados».

As palavras-chave da liderança de Passos Coelho parecem ser «expectativa» e «confiança». O líder do PSD diz que «nos países cujos governos recém-empossados dizem que herdam o caos e só aplicam medidas de austeridade, isso não resolve o problema».

Passos Coelho, que esteve neste mesmo American Club em Fevereiro de 2009, como candidato derrotado por Manuela Ferreira Leite na corrida à liderança do PSD, vê-se agora animado pelas sondagens, que colocam os sociais-democratas próximos do poder pela primeira vez desde 2002.
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