«Portugal nunca foi um aliado do bem-estar dos angolanos» - TVI

«Portugal nunca foi um aliado do bem-estar dos angolanos»

Luanda (foto Reuters)

Jornalista Rafael Marques diz que as próximas eleições angolanas servem os «interesses» de Lisboa

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O jornalista e ativista angolano Rafael Marques disse à Lusa que Portugal nunca quis saber do bem-estar dos angolanos e que as próximas eleições gerais servem os «interesses» de Lisboa.

«Estas eleições servem os interesses económicos dos portugueses porque esses interesses estão alicerçados na corrupção. Se o Presidente da República de Angola sai do poder, haverá em Portugal uma série de processos contra empresas portuguesas que têm feito negócios ilícitos em Angola», disse Rafael Marques, em Luanda, contactado por telefone a partir de Lisboa.

«No meio disto tudo Portugal é um vendedor de serviços. É um país que está em situação de crise e procura vender os seus serviços a todos aqueles que têm o controlo dos fundos», considerou o jornalista e ativista angolano.

Rafael Marques é responsável pelo portal «Maka Angola», que denuncia casos de abusos de direitos humanos e alegados casos de corrupção e suborno, que correm na justiça angolana.

«Os investimentos que têm sido feitos em Portugal, sobretudo pela família presidencial, o Manuel Vicente, o general Kopelipa [figuras de topo do regime e próximas do Presidente José Eduardo dos Santos] claramente configuram atos de branqueamento de capitais porque não podem e não têm como explicar os biliões de dólares que ali são investidos¿, afirmou Rafael Marques, acrescentando que Lisboa nunca quis saber do bem-estar do povo angolano.

«Portugal nunca foi um aliado do bem-estar dos angolanos. Nunca. Portugal colonizou Angola e, durante a guerra [civil], Portugal também tudo fez para prosperar, havendo setores que apoiavam a UNITA e outros setores que apoiavam o MPLA e vendiam armas, mesmo durante as sanções das Nações Unidas», acusou Rafael Marques.

«Portugal nunca teve um papel de respeito na defesa do bem-estar e dignidade dos angolanos. Não se pode esperar que Portugal tenha hoje este papel. Eventualmente, terá de passar uma ou duas gerações até que surja em Portugal uma nova forma de fazer política e que olhe para Angola como uma terra de futuro e que possa desbravar novas relações, mas desta geração não se pode esperar absolutamente nada que seja benéfico para o povo angolano», afirmou.

«Se a vontade do povo for a mudança, não haverá interesses internacionais que o impedirão, da mesma forma que se a maioria da população genuinamente decidir que este sistema endémico de corrupção é o melhor, porque permite a cada um ganhar a lotaria e ser extremamente rico da noite para o dia, então também assim será», concluiu.

Angola realiza no dia 31 de agosto eleições gerais, que vão definir a composição do futuro parlamento e determinar os futuros Presidente e vice-Presidente da República, por via indireta, a partir do número um e número dois da lista do partido mais votado.

Nas legislativas de 2008, o MPLA, partido no poder desde a independência, em 1975, ganhou a votação com mais de 80 por cento dos votos. O atual Presidente da República, José Eduardo dos Santos, encabeça a lista do partido às eleições de 31 de agosto.
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