De hospital para hospital há disparidades que encarecem os serviços, níveis de desempenho variáveis e subutilização dos serviços, que torna mais caros os cuidados de saúde prestados. Mas um estudo sobre a sutentabilidade do Serviço Nacional de Saúde traz boas notícias.
Este estudo, a que o PortugalDiário teve acesso, mostra que o centro hospitalar do Médio Tejo, que engloba três unidades, serve 200 mil pessoas, mas poderia abranger uma população maior. No distrito de Coimbra, por exemplo, um director clínico viu-se obrigado a contratar mais um oftalmologista. Enquanto três cirurgiões faziam 300 operações, um só operava 600 pessoas por ano.
Os níveis de desempenho variam muito de hospital para hospital em Portugal. O número de doentes saídos por médico no melhor hospital (Leiria) é quatro vezes superior ao que apresenta menor desempenho (Pedro Hispano); e a nível de cirurgias por médico a relação é de 3 vezes superior.
Se no Hospital Santa Maria, o número de camas aumentasse de 22 para 30 camas seriam necessários menos 50 médicos e 220 enfermeiros.
Promiscuidade entre público e privado
Eugénio Rosa, autor do estudo, explica que a sustentabilidade do SNS está intrinsecamente ligada ao uso dos recursos; e estes têm sido «utilizados de forma deficiente». Este economista, do Instituto Bento Jesus Caraça, ligado à CGTP, aponta para as conclusões do Tribunal de Contas, numa auditoria ao SNS, em 2003, que concluiu que «o desperdício de recursos financeiros atinge 25 por cento do montante afectado à saúde».
«Corrigir assimetrias para conter o desperdício» é a solução. A começar pela promoção da saúde. «A despesa com hospitais come 51 por cento do orçamento do SNS. Enquanto os centros de saúde e unidades de cuidados continuados têm apenas sete mil médicos, há 17 mil médicos a trabalhar nos hospitais», diz o estudo. «É preciso evitar a doença, antes de curar nos hospitais. Porque o custo por doente no hospital é pesado», avisa Eugénio Rosa.
O economista acredita ainda que a baixa produtividade dos hospitais está relacionada com a «promiscuidade» dos profissionais de saúde que se dividem entre público e privado.
Directores de serviço em exclusividade
«Mas o calcanhar de toda a estrutura», acusa Eugénio Rosa, «está nos directores de serviço que não trabalham em exclusividade». «Que autoridade moral têm os directores quando chegam tarde e saem cedo para irem para os seus consultórios?», questiona o economista. «A disciplina organizativa deveria começar em cada serviço, mas é difícil que assim seja já que a maioria dos directores não trabalha exclusivamente para o hospital».
Para Eugénio Rosa, «a pedra angular do sistema é a organização» e a mesma cai por terra quando «os directores de serviço não organizam a estrutura que comandam», acabando por subutilizar os recursos.
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Afinal, a Saúde tem remédio
- Judite França
- 12 abr 2006, 23:48
![Hospital [Arquivo]](https://img.iol.pt/image/id/269301/1024.jpg)
Diferença de custos entre hospitais, subutilização de recursos e directores que trabalham no privado. Razões para tornar o Serviço Nacional de Saúde insustentável. Mas novo estudo prova que há cura
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