«Passos desistiu da palavra ou perdeu autoridade?» - TVI

«Passos desistiu da palavra ou perdeu autoridade?»

Partidos discutem nomeações para a EDP e Águas de Portugal no Parlamento

O PS considera que o primeiro-ministro faltou à «palavra dada» em campanha eleitoral sobre a despartidarização do aparelho do Estado ou perdeu autoridade, acusando o Governo de ter já feito 1455 nomeações sem concurso.

Estas críticas foram feitas pelo vice-presidente da bancada do PS José Junqueiro, mas mereceram depois uma contestação veemente por parte das bancadas do PSD e do CDS.

Segundo José Junqueiro, no primeiro meio ano de Governo, foram nomeadas sem concurso 1455 pessoas, «entre oito a dez por dia, sendo certo que na sua maioria se trata de amigos ou de uma clientela partidária».

«Verdadeiramente, o que está em causa é saber se o primeiro-ministro desistiu da palavra dada ou perdeu autoridade e o Governo está à deriva», disse, antes de se referir a nomeações feitas pelo executivo para a EDP e Águas de Portugal.

«É imaginável que o autarca devedor do Fundão [Manuel Frexes], que perdeu em tribunal a sua contestação às Aguas de Portugal, seja promovido a administrador credor dessa empresa e ainda com o insultuoso salário de 150 mil euros. O primeiro-ministro de Portugal sentir-se-á confortável ao saber que Eduardo Catroga vai auferir um salário de 639 mil euros, acumulável com a sua pensão milionária?», questionou o dirigente da bancada socialista.

Na resposta, o deputado do PSD Pedro Pinto disse estranhar a atitude do PS de explorar politicamente «a conversa dos salários».

«Agora que a EDP é privada, o PS preocupa-se com os salários que se pagam, mas quando a EDP era maioritariamente pública e os senhores estavam no Governo não se preocupavam por a empresa pagar exactamente esses mesmos salários», comentou o antigo líder da JSD.

Já o porta-voz do CDS, João Almeida, contestou afirmações feitas por José Junqueiro em relação a um alegado silêncio do Governo sobre a possibilidade de os quadros e pensionistas do Banco de Portugal ficarem isentos dos cortes aos subsídios de férias e de Natal.

«O Banco de Portugal goza de autonomia em relação ao Governo e depende sim do sistema de bancos centrais da União Europeia. Longe vão os tempos de Victor Constâncio, em que o Banco de Portugal era um instrumento do Governo [socialista de José Sócrates]», declarou João Almeida.

Pela parte do Partido Ecologista «Os Verdes», o deputado José Luís Ferreira também criticou as recentes nomeações feitas pelo executivo PSD/CDS. «Ao nível de nomeações, o cartão partidário continua a ser quem mais ordena», afirmou.

Já o BE considerou que as nomeações conhecidas ao longo dos últimos tempos para empresas públicas e para a EDP «colocam em causa a confiança dos cidadãos na política» e «enfraquecem a democracia».

«O que é que têm em comum a Caixa Geral de Depósitos (CGD), EDP, Hospitais do SNS, os Centros Regionais da Segurança Social ou as Águas de Portugal? São empresas ou organismos públicos que descobriram a nova lei da economia nacional: todos os administradores e economistas competentes no país, aparentemente, têm o cartão de militante do PSD ou CDS», ironizou o deputado bloquista João Semedo.

Numa declaração política no Parlamento, Semedo citou as nomeações para a CGD de Nogueira Leite e de Rui Machete, apontando como «caso mais emblemático o da EDP», com as nomeações de Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Teixeira Pinto, Rocha Vieira e Braga de Macedo.

«Isto não é a EDP, é a comissão de honra das campanhas do PSD e CDS», acrescentou, citando em seguida um deputado do CDS-PP.

Numa intervenção onde criticou «o silêncio» dos centristas sobre este assunto, João Semedo afirmou que existe «um desvio colossal» entre «as promessas de Passos Coelho, que garantia não estar preparado para dar lugar a amigos, nem para transformar um Governo seu numa agência de emprego para os amigos, e a sua prática».
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