Produtores temem invasão de leite alemão nos «hipers»

[Notícia actualizada às 20h30 com posição da APED]

A Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenalac) está preocupada com o estado do leite nacional. Os receios têm a ver com a importação massiva de leite alemão, alegadamente por parte das grandes superfícies, a preços que, segundo a mesma, podem comprometer a indústria nacional.

Em comunicado, a Fenalac diz que a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) estará interessada em apontar problemas do sector e «um alegado monopólio da Lactogal» para «encobrir uma estratégia que vai prejudicar severamente os produtores nacionais».

Lactogal paga mais 14% por litro de leite

«Hipers» dizem que polémica do leite se deve a monopólio

A federação diz ainda que a produção, em Portugal, «está com os armazéns cheios de leite nacional», enquanto as grandes superfícies estão «a levar a cabo uma acção gigantesca para promover e vender leite alemão a preços destruidores de valor».

Contactada pela Agência Financeira, a APED diz que não se pronuncia sobre acções ou iniciativas comerciais das suas associadas. «As associadas são livres de comercializar os produtos que entendem, independentemente da origem geográfica e sem prejuizo da relação preço/qualidade que possam estabelecer, num esforço para proporcionar a melhor proposta de valor para o Consumidor», referiu fonte oficial.

Alemanha também está em guerra

A APED lançou na semana passada fortes críticas à Lactogal, considerando que a sua «posição dominante» é a raiz de todos os problemas. Numa nota explicativa, a associação que representa as grandes superfícies disse que «o verdadeiro problema do sector do leite radica antes num grau de concentração muito elevado, com a gigante Lactogal a assumir uma posição dominante e monopolista ao apresentar uma quota de compras superior a 70 por cento aos produtores portugueses».

Sobre a baixa de preço, desde o final do ano e segundo dados citados pela APED do Instituto Nacional de Estatística, o preço pago pela Lactogal aos produtores baixou cerca de 30%. Enquanto que, para os retalhistas e consequentemente para o consumidor, se limitou a baixar 10% do preço.

Também questionada pela AF sobre estes dados, a Lactogal não teceu mais comentários e remeteu também para a sua nota explicativa de quarta-feira, onde deu conta de que em 2008 pagou mais 14% por cada litro de leite em 2007.

Produtores de leite enfrentam a maior crise de sempre

Já sobre os preços deste ano, a Lactogal limitou-se a dizer que, em Março de 2009, mês anterior à revisão de preços do leite, estava a pagar cerca de 8 cêntimos mais do que a média do que se paga em Espanha, «um dos nossos mercados concorrentes».

Na Alemanha, a polémica em torno da baixa de preços do leite também está a gerar fortes protestos: cerca de 150 manifestantes encontraram-se esta sexta-feira diante da sede do governo alemão, afirmando que a descida dos preços ameaça 30 mil explorações e pediram para falar com a chanceler Angela Merkel.

A vigília, no entanto, já dura há vários dias em Berlim, com direito até a greves de fome.