O Simplex é «um embuste» - TVI

O Simplex é «um embuste»

José Sócrates

Não eram 187? Afinal, o Governo só vai extinguir 50 organismos. A conclusão é do PSD, que andou a estudar as medidas de «emagrecimento» do Estado que Sócrates anunciou

O PSD andou a estudar as medidas de «emagrecimento» do Estado que o Governo anunciou e concluiu que «a esmagadora maioria é pura propaganda». Em entrevista ao PortugalDiário, Agostinho Branquinho, líder da distrital do Porto do PSD, deu um exemplo: «O primeiro-ministro anunciou que ia anular 38 organismos na Presidência do Conselho de Ministros. Sabe quantos são anulados de facto? Dois! Ou seja, 36 são mantidos. Vão para ali, para acolá, são dispersos noutros ministérios, vão ter outras tutelas».

Ou seja, segundo o PSD, o Governo não vai extinguir 187 organismos com o PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado). Segundo o levantamento que está a fazer, Agostinho Branquinho só encontra 50 organismos extintos, adianta ao PortugalDiário.

«O Simplex é um embuste»

Mas não é só o PRACE que o deputado social-democrata critica. O Simplex (Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa) que visa acabar com a papelada na Função Pública também ladra mais do que morde. «O registo criminal que conta 95 vezes nas medidas do Simplex. O Governo anunciou 333 medidas, mas um terço destas prendem-se com o registo criminal. É um embuste afirmar que se tratam de 333 propostas!».

A propaganda funcionou até agora, defende Agostinho Branquinho, mas ressalva que o «marketing político» do PS tem os dias contados. O social-democrata defende que um dos erros mais graves do Executivo de José Sócrates é estar a exagerar na dose de optimismo. «Pintou um cenário cor-de-rosa, mas as pessoas não estão a ver concretizadas as suas expectativas e vão começar a perceber o peso da propaganda».

Outro erro grave do Governo foi aumentar os impostos, afirma o social-democrata. A decisão do Sócrates «prejudicou a economia real», diz o deputado do PSD. A subida dos impostos «desacreditou os partidos políticos em geral», defende.

Para Agostinho Branquinho, ainda não se tinha vivido, nos últimos 30 anos, um clima tão hostil em relação aos políticos. «Só se pode comparar este clima com a fase final da I República. E isto é um aviso porque todos sabemos o que aconteceu depois da I República».

Os dirigentes contribuíram para a má fama que têm, afirma. «Os políticos em Portugal têm dado para esse peditório». Que erros cometem? «Têm uma linguagem difícil que as pessoas não entendem. Muitas vezes, no jogo político, falamos em sentido figurado, não explicamos de forma vincada aquilo que nos distingue dos outros»-

Políticos têm regalias para atenuar vencimentos baixos

No que diz respeito aos vencimentos, Agostinho Branquinho resume a questão como «falta de coragem» de resolver a questão de fundo: o vencimento dos políticos. «Um primeiro-ministro ganha menos que um director-geral de uma média empresa», lembra. «Os políticos depois criaram uma série de regalias para atenuar os vencimentos baixos».

O presidente da distrital do Porto do PSD argumenta que esta situação criou na opinião pública a ideia de que os políticos «têm regalias brutais, ganham salários elevados e não fazem nada».

E quando é que os deputados da Assembleia da República vão ter coragem de exigir mais dinheiro? É necessário escolher o momento político adequado, afirma Agostinho Branquinho.



«Hoje não é de certeza o momento para resolver isso». Os políticos têm de modificar a sua atitude e saber comunicar com os portugueses, defende o social-democrata. E a situação económica do país não pode estar tão depressiva. «Estas duas coisas têm de estar em consonância».

O único aspecto positivo da actual falta de confiança nos políticos é que «bateu no fundo», realça Agostinho Branquinho, e, portanto, pior não pode ficar. «No momento em que a sociedade perceber que o futuro colectivo das pessoas está nas mãos dos políticos, passará a olhar para a actividade política de uma forma diferente».
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