A Meta é "a maior organização de tráfico sexual do mundo", disse a senadora. "Isso é ridículo", respondeu Zuckerberg. Mas pediu desculpa a famílias - TVI

A Meta é "a maior organização de tráfico sexual do mundo", disse a senadora. "Isso é ridículo", respondeu Zuckerberg. Mas pediu desculpa a famílias

  • CNN Portugal
  • MJC
  • 31 jan, 20:17
Mark Zuckerberg no Congresso norte-americano (EPA)

Familiares de pessoas que morreram ou foram vítimas de abusos devido ao Facebook (e demais redes da Meta) foram ao senado dos EUA. E os líderes das Big Tech também foram

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Mark Zuckerberg levantou-se, virou-se para o público no Congresso norte-americano e começou a falar: “Sinto muito por tudo que o que passaram”, disse o CEO da Meta enquanto se dirigia a familiares de jovens vítimas de abusos online, alguns dos quais acabaram por cometer suicídio. “Ninguém devia ter que sofrer o que as vossas famílias sofreram. É por isso que investimos tanto e continuaremos a esforçar-nos por garantir que ninguém tenha de passar por este tipo de coisas.”

O pedido de desculpas aconteceu esta quarta-feira durante a audição dos executivos de cinco grandes empresas de redes sociais sobre alegados danos causados pelas suas plataformas a  jovens utilizadores. A audiência, intitulada “Big Tech e a crise da exploração sexual infantil online”, tinha como objetivo “examinar e investigar a praga da exploração sexual infantil online”, de acordo com um comunicado da comissão judicial do Senado dos EUA. Estão presentes os diretores-executivos Mark Zuckerberg, da Meta, Linda Yaccarino, do X (anteriormente Twitter), Shou Zi Chew, do TikTok, Evan Spiegel, do Snap, e Jason Citron, do Discord.

Durante um intenso interrogatório a Mark Zuckerberg, o senador republicano Josh Hawley perguntou ao diretor-executivo da Meta se ele gostaria de pedir desculpas às famílias das vítimas que estavam sentadas na audiência, muitas das quais mostravam fotografias de crianças que morreram ou foram vítimas de abusos devido àquela plataforma. Foi então que ele fez o pedido de desculpas.

Nas suas declarações iniciais, Zuckerberg tinha explicado que a Meta (dona do Facebook e do Instagram) introduziu mais de 30 ferramentas de segurança nos últimos oito anos, incluindo controlos que permitem aos pais definir limites de tempo para o uso de aplicações e ver quem os seus filhos estão a seguir e com quem interagem online. Garantiu ainda que a Meta gastou 20 mil milhões de dólares em segurança e proteção desde 2016 e emprega cerca de 40 mil pessoas para lidar com essas questões. “Construímos tecnologias para enfrentar os piores riscos online e partilhamo-las para ajudar toda a indústria a melhorar.”

O senador Ted Cruz foi um dos que criticaram as regras da Meta, uma vez que, se os utilizadores pesquisarem no Instagram hashtags relacionadas com abuso sexual infantil (CSAM Child Sexual Abuse Material), a plataforma avisa-os de que esse conteúdo pode ser ilegal mas dá-lhes a opção de clicar e vê-lo. Na mesma linha de acusação, a senadora Marsha Blackburn perguntou por que motivo o conteúdo intencionalmente predatório não viola os padrões da plataforma Meta e chamou-lhe “a maior organização de tráfico sexual do mundo”. Zuckerberg respondeu que "isso é ridículo". 

Familiares de vítimas de abusos e violência online mostram as fotografias dos jovens que morreran no Congresso norte-americano (AP)

O senador Josh Hawley atacou Mark Zuckerberg por ter dito que não há provas científicas que comprovem que as redes sociais têm impactos generalizados na saúde mental. “Sei que as pessoas falam muito sobre isto como se fosse algo que já tivesse sido provado e penso que a maior parte das provas científicas não demonstra isso", disse o CEO da Meta. Hawley citou uma investigação interna da Meta que mostrou que o Instagram piorou os problemas de imagem corporal para uma em cada três raparigas. Outro estudo do Facebook com adolescentes no Reino Unido e nos EUA concluiu que mais de 40% dos utilizadores do Instagram que disseram sentir-se “pouco atraentes” afirmaram que a sensação começou durante a utilização da aplicação. 

Mas nas questões relacionadas com os abusos sexuais todos estiveram de acordo. “Todos nós aqui neste painel hoje, em toda a indústria de tecnologia, temos a responsabilidade solene e urgente de garantir que todos que usam as nossas plataformas estejam protegidos contra esses criminosos, tanto online quanto offline”, disse Jason Citron, do Discord, nas suas declarações iniciais.

“Manter as crianças seguras online requer um esforço colaborativo, bem como uma ação coletiva”, disse Shou Zi Chew, do TikTok. “Partilhamos a preocupação e o compromisso da comunidade em proteger os jovens online. Acolhemos com satisfação a oportunidade de trabalhar convosco na legislação para atingir esse objetivo."

Nas suas declarações iniciais perante o Congresso, a CEO da X, Linda Yaccarino, disse que a empresa apoia a Lei Stop CSAM, um projeto de lei apresentado pelo senador Dick Durbin que retiraria a imunidade legal para ações civis contra empresas de Internet por abuso sexual infantil. “Tem o meu compromisso pessoal de que X fará parte desta solução”, disse Yaccarino. “O X acredita que a liberdade de expressão e a segurança da plataforma podem e devem coexistir. Concordamos que agora é o momento de agir com urgência.” Durbin agradeceu-lhe por ser a “primeira empresa de redes sociais” a apoiar publicamente a lei. 

Num discurso na terça-feira, o senador Dick Durbin tinha explicado que o combate aos perigos enfrentados pelas crianças online tinha sido uma das suas “principais prioridades” como presidente da comissão e disse que planeava perguntar aos executivos “o que estão a fazer para tornar as suas plataformas inacessíveis aos agressores sexuais de crianças”. “Ainda na semana passada alguns lançaram novas medidas de segurança infantil que já deveriam ter sido tomadas  há muito tempo, mas não deveria ser necessária uma audiência perante a comissão judiciária do Senado para finalmente fazer com que estas empresas deem prioridade à segurança infantil”, disse. “Como essas mudanças são, na melhor das hipóteses, meias medidas, saúdo a oportunidade de questioná-los sobre o que mais precisa ser feito.”

Nas declarações finais, após quatro horas de audições, Durby concluiu que a América chegou a “um momento de ajuste de contas” em relação ao poder desenfreado das Big Tech e que deve ser aprovada legislação para controlá-las. “Como pais e avós, sabemos o que as filhas, os filhos e outras pessoas estão a passar", disse. “Eles não conseguem lidar com este problema sozinhos. Eles contam conosco, tanto quanto contam com a indústria, para fazer o que é preciso."

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