Os deuses devem estar loucos - TVI

Os deuses devem estar loucos

Rui Batista

Por estes dias, os homens comuns, ficaram mais confusos. E mais preocupados. Os longos minutos de imagens que chegam da maior economia do mundo confundem-se com o que se passa nas mais desgraçadas nações africanas.

Milhares de pessoas amontoam-se, esperam sem esperança por água, comida e medicamentos. A nação que gasta por minuto mais de 35 mil euros em armamento não soube evitar a morte (estimada) de quase 10 mil pessoas. A primeira reacção do presidente Bush foi recusar ajuda internacional. Mas as sondagens e os preços dos combustíveis pagos pelo americano comum vergaram os homens do presidente.

Dizem agora os economistas que a passagem do furacão Katrina terá efeitos devastadores também nas contas da «locomotiva» económica do planeta. Os estudos apontam para uma redução de 500 mil postos de trabalho em Setembro. As cidades assoladas no Golfo do México pelo furacão perfazem um milhão de postos de trabalho. A concretizarem-se as piores previsões estaríamos perante a maior queda mensal em mais de três décadas. Se no emprego os efeitos ainda não são visíveis, no preço do «ouro negro» o cenário não é brilhante. O petróleo avançou para níveis recorde nas últimas semanas. Quando há um ano alguns analistas falavam da possibilidade de um barril de crude custar 40 dólares por estes dias, alguns sorriam com ironia. Na semana passada custava 70 dólares.

E a globalização tem destas coisas. Uma constipação nos Estados Unidos é praticamente uma pneumonia fatal para Portugal. O ministro das Finanças diz que a economia portuguesa está numa situação de baixo crescimento ou estagnação. Fernando Teixeira dos Santos, a quem os anos concederam sabedoria e bom senso, fala de conjuntura económica «preocupante». E reconhece que agora, neste momento, só o sector privado, pode ser o motor da recuperação. Um sector de onde as notícias que chegam são desanimadoras. O mercado de veículos ligeiros caiu 11,3% em Agosto face ao mesmo mês do ano passado.

Mas a crise, como o Sol, quando brilha não queima todos da mesma maneira. Do país do Sol quente chegam notícias que revoltam. Os 6,9 milhões de brasileiros mais ricos gastam com jóias, bijutarias, sabonetes, brinquedos e jogos, mais do que os 54 milhões de brasileiros mais pobres gastam com a compra de frango.

Aproveite este dia!

Convido-o a deixar a sua opinião seleccionando «comentar artigo», ou envie-me um mail directamente para rbatista@mediacapital.pt
Continue a ler esta notícia