Ciência: relação entre parkinson e envelhecimento - TVI

Ciência: relação entre parkinson e envelhecimento

  • Portugal Diário
  • 21 jun 2007, 19:22

Estudo científico de um investigador português será publicado na revista britânica Science

A doença de Parkinson está directamente relacionada com o envelhecimento, concluiu o estudo científico de um investigador português que será publicado sexta-feira na revista britânica Science e que poderá permitir o desenvolvimento de novas terapêuticas.

A doença de Parkinson é uma doença crónica neurodegenerativa que afecta uma região do cérebro onde se encontram as células (neurónios), provocando um desequilíbrio do sistema nervoso que afecta os movimentos corporais.

«O que acontece nos doentes de Parkinson é que os neurónios que produzem a substância dopina morrem, impedindo que o cérebro produza a substância que deveria produzir, levando ao aparecimento dos principais sintomas clínicos da doença, nomeadamente tremores, rigidez muscular e dificuldades de movimento», explicou hoje à agência Lusa o investigador português, Tiago Outeiro.

De acordo com o especialista, actualmente «ainda não existe cura» para o Parkinson, mas os tratamentos e medicamentos adequados «permitem aos doentes viver com a doença e ter uma vida normal, uma vez que estes repõem a dopamina que não está a ser produzida normalmente pelo cérebro».

Porém, a «medicação pode deixar de ter efeito em algumas pessoas ao fim de alguns anos», afirmou Outeiro, pelo que é fundamental conseguir perceber «quais os mecanismos celulares e moleculares que levam à morte ou à perda dos neurónios característicos na doença de Parkinson».

De acordo com o investigador português, o trabalho desenvolvido com cientistas da Universidade de Harvard, Estados Unidos (EUA), «vai nesse sentido», nomeadamente procura «elucidar e estudar alguns desses mecanismos envolvidos».

«Por um lado, descobrirmos que existe uma relação estreita entre alguns genes que estão relacionados com o envelhecimento e o aparecimento da doença», explicou.

«Por outro lado descobrimos drogas que têm um efeito protector em modelos da doença ao interferirem nos mecanismos envolvidos no envelhecimento», acrescentou.

O que se fez, de acordo com Outeiro, foi testar essas drogas numa série de modelos laboratoriais, tendo verificado que estas tinham efeito em modelos diferentes, «algo que normalmente não acontece», disse.

«Este é mais um passo importante rumo ao desenvolvimento de novas e eficazes terapêuticas. O facto destas drogas funcionarem em vários modelos é uma grande promessa para que possam funcionar em outros animais e para que um dia destes possam ser utilizadas para tratar as pessoas que sofrem desta doença», afirmou o investigador.

Após oito anos e meio de investigação nos EUA, Tiago Outeiro regressou à Portugal para formar o seu próprio grupo de investigação no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, com o objectivo de dar «continuidade a investigação desenvolvida», nomeadamente «perceber aquilo que acontece dentro das células e que provoca os problemas e sintomas nas doenças neurodegenerativas como o Parkinson».

Questionado sobre o porquê do aumento da doença de Parkinson em todo mundo, o investigador disse que tem a ver «com o aumento significativo da esperança de vida das pessoas».

«O aumento visível do número de casos da doença deve-se ao facto das pessoas ultrapassarem cada vez mais a barreira de idade, a partir da qual estas doenças começam a surgir», explicou, sublinhando, no entanto, que «não se pode dizer que, hoje em dia, a doença afecte mais pessoas».
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